Amigos pagam R$ 4 mil por passagem para Noronha e ficam sem roupas
Episódio ocorreu, segundo a Azul Linhas Aéreas, por “questões operacionais” da companhia, que entregou as malas 24 horas depois
atualizado
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Era para ser uma viagem inesquecível, mas acabou se tornando um pesadelo para cinco amigos que embarcaram para Fernando de Noronha (PE). Isso porque, quando deixaram São Paulo, na terça-feira (26/12), rumo à ilha, os amigos foram surpreendidos com a notícia: alguns passageiros chegariam sem as bagagens ao destino sonhado.
Em vídeo gravado pelo grupo e compartilhado no Facebook, uma mulher identificada como Valquíria, que seria supervisora da companhia Azul Linhas Aéreas do aeroporto de Recife (PE), noticia que algumas pessoas ficariam possivelmente sem as malas na ilha, uma vez que o avião não teria capacidade para carregar todo o peso acumulado entre passageiros e bagagens.
A notícia causou revolta, uma vez que cada passagem de ida e volta, com origem em São Paulo, custou em média R$ 4 mil. “É um total absurdo. Fizemos o despacho das bagagens ainda em São Paulo e só retiraríamos quando chegássemos em Noronha. Em nenhum momento nos passaram que existia esse risco. Só soubemos dentro do transfer, pouco antes de embarcar para a ilha, sem nem ter acesso às bagagens para levarmos o que fosse mais necessário”, revolta-se o publicitário Márcio Ramos.
A indignação não é à toa. Ele foi uma das cerca de 18 pessoas que passaram pelo menos 24 horas sem qualquer tipo de acesso aos itens pessoais. De acordo com relatos, as malas só seguiram para o destino em avião de carga, no dia seguinte, por volta das 15 horas. “Houve ainda o contratempo de termos que ficar um tempão na fila do aeroporto de Noronha para buscar informações, uma vez que só há duas funcionárias da Azul no terminal. Perdemos o primeiro dia de viagem só com essa dor de cabeça”, relembra o publicitário.
Segundo Ramos, o fato de ser uma ilha dificulta o acesso a itens pessoais. “Aqui, não tem como comprar nada. O que tem é caro. E a Azul disponibilizou apenas R$ 100 por dia e para itens realmente indispensáveis. Houve famílias inteiras sem roupas”, diz.
Caso semelhante ocorreu com a turma da advogada Carolina Rafaella Ferreira. “Uma amiga minha que veio do Rio ficou também sem mala. A bagagem chegou mais ou menos 24 horas depois. Como ela foi a primeira a chegar, teve que comprar roupas. No meu caso, o meu voo atrasou e perdemos a conexão. Tive de ser realocada para outro voo”, conta.
Uma funcionária de uma pousada da ilha paradisíaca diz que não são raros casos assim quando o destino é Fernando de Noronha, principalmente em períodos considerados como alta temporada. “As pessoas costumam abusar das bagagens e os aviões que chegam aqui possuem uma capacidade menor para transportar peso”, afirma a turismóloga, que pediu para ter o nome preservado.
Prática abusiva
No entanto, a opinião dela não justifica a atitude da companhia aérea. Para a advogada Ildecer Amorim, que atua na área de direito do consumidor, a prática da Azul Linhas Aéreas pode ser considerada abusiva. “Quando se adquire uma passagem aérea, a oferta tem de ser cumprida. Tanto do destino quanto das bagagens. Se não ocorreu conforme esperado, houve descumprimento de contrato”, explica a especialista.
Segundo a advogada, não existe justificativa que separe o passageiro de seus bens pessoais, nem mesmo a questão da segurança do voo. “A companhia área sabe da segurança e esse é o risco do negócio. Então, que não vendesse a passagem ou desse a condição para o passageiro escolher bem antes do embarque, não no momento da viagem”, explicou.
A orientação, segundo a advogada, é recorrer à Justiça, uma vez que houve danos, tanto material quanto moral, já que a situação ocasionou uma série de contratempos para os passageiros. “É lamentável que casos assim continuem acontecendo no nosso país. O primeiro passo é que seja feito um boletim de ocorrência contra a empresa responsável. Isso é indispensável para constar no processo. E depois, os relatos. Imagine o tanto de coisas que os amigos perderam por causa desse atraso na entrega das bagagens?. É Inadmissível!”, orienta a advogada.
Procurada pela reportagem, a Azul Linhas Aéreas informou que, “de fato, as bagagens ficaram no aeroporto de Recife devido a questões operacionais”. No entanto, segue a nota, “a companhia realizou um voo extra na manhã do dia seguinte ao ocorrido e todas as bagagens foram entregues aos clientes. A Azul lamenta os possíveis transtornos ocorridos”, diz o texto.
Para a advogada, a resposta da empresa é insuficiente. “As empresas só passarão a respeitar o cliente quando todos procurarem a reparação de seus direitos. Um dia em Fernando de Noronha perdido não há preço que pague. Não dá para voltar atrás”, avalia.