Amigos de Eduardo Bolsonaro são indicados a cargos da PF em embaixadas
Ambos são policiais, mas não estavam dando expediente na PF quando foram indicados aos postos em Miami e Portugal
atualizado
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Dois policiais federais, que nem sequer estavam dando expediente na PF, foram nomeados a cargos importantes nas embaixadas do Brasil no exterior. Segundo o jornal O Globo, ambos são amigos próximos de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que foi escrivão da PF.
Fabrício Scarpelli, que também é escrivão, ganhou o posto de oficial de ligação na embaixada brasileira em Miami, nos Estados Unidos, até 2023. Receberá um salário de R$ 38 mil e um adicional de R$ 91 mil de ajuda de custo para a mudança.
A função é ligada à cooperação com o Immigration Customs Enforcement (ICE), órgão que fiscaliza a imigração ilegal. Missões em organismos estrangeiros, como a Interpol e a ONU, também são comuns.
Antes de sua nomeação, Scarpelli era assessor especial da Casa Civil, que fica no Palácio do Planalto. As atividades que exercia, no entanto, não são claras, uma vez que as agendas oficiais do período em que atuou na Casa Civil só se referem a “despachos internos”.
Nas redes sociais, Scarpelli e Eduardo Bolsonaro publicam imagens juntos e exibem a amizade entre eles. O deputado já contou, inclusive, que os dois trabalharam antes de sua entrada na política, em 2015. Em 2012, Scarpelli disputou uma vaga como vereador em Itatiba (SP) pelo PSDB, mas perdeu. Após a eleição de Eduardo, o escrivão concorreu novamente, usando o nome “Fabricio Scarpelli da Federal”, pelo PSC. Eduardo apoiou o nome do amigo em publicações nas redes, mas não surtiu efeito, e o policial perdeu de novo.
Em seu perfil, Scarpelli ainda tem fotos ao lado do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública André Mendonça e do deputado estadual de São Paulo Gil Diniz (sem partido), o Carteiro Reaça, que foi assessor de Eduardo na Câmara dos Deputados.
João Paulo Dondelli foi outro policial a ganhar um cargo de importância em embaixadas. Ele foi o segurança de Jair Bolsonaro que deteve Adélio Bispo no momento da facada sofrida pelo então candidato em Juiz de Fora, em setembro de 2018. Ele chegou a ser condecorado em fevereiro de 2020, em uma cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Dondelli é papiloscopista e ganhou auxílio de R$ 97 mil para se transferir para Portugal, onde será adido adjunto, o segundo cargo mais importante da PF no país. Ele ainda poderá levar todos os seus dependentes, com direito a passaporte diplomático. O salário padrão para a função é de US$ 12 mil, além de US$ 4 mil de auxílio moradia.
Em seu discurso na Assembleia Legislativa, o policial afirmou que foi com ele que Bolsonaro desabafou após a decisão da RedeTV de manter um púlpito vazio representando o ex-presidente Lula no debate presidencial. “Ele ficou injuriado com aquilo, olhou para mim e falou assim: ‘Federal, império da lei, (Lula) não tem registro e tá condenado’, e eu, ‘império da lei, zero um’, ‘vamos pra guerra?’, ‘vamos pro combate!’, e seguimos para o debate”.
Após a eleição de Bolsonaro, Dondelli teve uma passagem relâmpago pela comunicação da Secretaria de Governo e depois migrou para a Secretaria de Comunicação. Em sua agenda oficial, estavam reuniões com empresas e com olavistas do governo, como o assessor especial de relações exteriores, Filipe Martins, e o secretário de Comunicação Institucional Felipe Pedri, ambos próximos de Eduardo Bolsonaro, segundo o jornal.
Seu nome foi citado em reportagens sobre a Abin paralela e na CPI da Covid por Fábio Wajngarten como o responsável por assessorar a primeira reunião com executivos da Pfizer com o governo.
Questionada, a Polícia Federal afirmou que as indicações dos policiais “atendem perfeitamente os critérios previstos na norma que rege a matéria” e que o fato de ambos não estarem trabalhando na corporação quando ganharam os cargos não apresenta impedimento. A PF, no entanto, não respondeu se Eduardo Bolsonaro ou o Palácio do Planalto foram os responsáveis pelas indicações de Scarpelli ou Dondelli. Os demais envolvidos não quiseram comentar.