Amigo de vítima de acidente em SP relata choque de moradores da região: “Abalou todo mundo”
Jovem mora em Taguaí, onde ocorreu o choque entre caminhão e ônibus, e foi ao local da tragédia, onde soube da morte de amigo de infância
atualizado
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Taguaí (SP) – O que restou do ônibus do acidente que matou ao menos 41 pessoas e deixou 10 feridos em Taguaí já havia sido recolhido, mas moradores da região ainda se dirigiam, no fim da tarde desta quinta-feira (25/11), ao local da tragédia.
O vendedor Emerson Hermenegildo Silva Santos, 24 anos, natural da pequena cidade no interior paulista onde ocorreu a tragédia, a 350km da capital paulista, foi às 8h, logo após o acidente, para saber notícias do amigo de infância Leonardo. Descobriu que o costureiro de 25 anos e sua namorada, ambos de Itaí, estavam entre os mortos. Ambos trabalhavam na fábrica de jeans para onde se dirigia o ônibus e faziam o trajeto até Taguaí diariamente.
“Viemos cedo pelo motivo de saber que tinha amigos nossos no ônibus e estávamos ansiosos por notícias. Tínhamos a esperança de encontrar amigos com vida ainda”, afirmou o vendedor, que voltou com os pais ao local do acidente no fim da tarde.
“Voltamos porque a gente meio que não acredita que amigos da gente [estariam entre as vítimas], né? Saber que amigos morreram”, disse o pai de Emerson.
O vendedor afirmou que Itaguaí está abalada. “O pessoal está abalado, porque a região é de fábrica de jeans e as pessoas que acabaram falecendo trabalhavam nessa área. Foi um choque, abalou todo mundo”, disse.
Ele conta que, na pequena cidade de Taguaí, onde todos se conhecem, soube da notícia por redes sociais, após ouvirem o barulho de sirenes de viaturas e ambulâncias. “Como a gente ouviu barulho de sirene, e a cidade é pequena, a gente começou a mandar mensagem de WhatsApp. Foi muito rápido, às 8h eu já estava aqui esperando”, conta.
“Foi um susto enorme, são bastantes pessoas, não são poucas, pais de família, mães de família que estão deixando filhos pra trás”, disse Emerson, que jogava bola com o amigo.
Ele afirmou que nunca tinha visto uma tragédia como essa na região. “Às vezes acontece acidente, mas com esse número de pessoas, uma tragédia dessa, aqui nunca, aqui, acho que é primeira vez que vimos. Até conversamos com um policial na hora, que falou que também nunca tinha visto um acidente assim”, afirmou.
A tragédia
Uma das vítimas do acidente que matou 41 pessoas na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, o motorista de caminhão Geison Gonçalves Machado, de 22 anos, não tinha habilitação para dirigir o veículo. Segundo a companheira dele, Dheimilly Krachinski, o jovem só tinha autorização para carro e, mesmo assim, provisória.
No momento da colisão, Geison estava acompanhado de um outro caminhoneiro. Por estar no banco da passageiro, o carona conseguiu sair praticamente ileso do acidente. Ele teve escoriações, mas já recebeu alta médica hospitalar. São informações do G1.
Em depoimento à Polícia Civil de São Paulo (PCSP), o condutor do ônibus também envolvido na colisão afirmou que o freio do coletivo falhou, provocando a batida. O motorista conta que viu um outro ônibus na frente do seu e, por isso, precisou frear bruscamente. De acordo com ele, neste momento, o freio não respondeu.
A empresa de Star Viagem e Turismo, proprietária do ônibus que o motorista dirigia, não tinha autorização para operar, de acordo com a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). “A agência informa que a empresa não possui registro para transporte de passageiros e roda ilegalmente desde 11 de outubro de 2019”, diz nota do órgão.
Segundo a Artesp, a empresa já foi multada várias vezes e era considerada clandestina pelo órgão fiscalizador. Nem no site da Artesp nem no da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) há registros sobre a Star Viagem e Turismo – empresa criada em 2016 e com sede em Taquarituba, segundo dados da Junta Comercial do Estado.
“Em ações fiscalizatórias recentes, no mês de março de 2020, foram registradas algumas infrações à empresa: no dia 3, a Star foi multada por realizar fretamento irregular na Rodovia Raposo Tavares, próximo ao km 296, em Avaré, ao realizar o transporte de 30 estudantes, que saíram da cidade de Fartura com destino a faculdade de Avaré”, relatou a agência.
No mesmo dia, uma nova multa foi aplicada à empresa, por transportar, irregularmente, 43 estudantes com a mesma origem e destino, segundo o órgão. “Dois dias depois, a empresa recebeu nova autuação por fretamento irregular na Rodovia Raposo Tavares (SP 270), próximo ao km 372, em Ourinhos, quando tiveram dois veículos autuados, retidos e realizado o transbordo dos 15 passageiros”, diz a nota.
A Artesp ressaltou a importância dos contratantes e passageiros sempre conferirem se as empresas que oferecem o serviço de fretamento estão cadastradas e reguladas, através do site da agência.
O que se sabe
O trágico acidente provocou ao menos 41 mortes e deixou 10 pessoas gravemente feridas na manhã desta quarta-feira (25/11), na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, entre Taguaí e Taquarituba, no interior de São Paulo.
Os veículos bateram no km 172 da rodovia, que precisou ser interditada para atendimento da ocorrência. De acordo com informações das corporações que acompanham o caso, 37 vítimas morreram no local e quatro faleceram em hospitais da região.
Os feridos foram levados para hospitais de Taguaí, Fartura e Taquarituba. As informações iniciais dos militares, no local do acidente, são de que o ônibus transportava funcionários de uma empresa têxtil.
Em entrevista à CNN Brasil, o tenente Alexandre Guedes, porta-voz da Polícia Militar de São Paulo (PMSP), pontuou que essa foi “a maior ocorrência em número de óbitos neste ano”, no estado.