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América Latina é receptiva para islamismo conservador, diz pesquisador

Especialista em terrorismo fala sobre uso da internet pelo Estado Islâmico e rota do grupo pela Turquia. PF investigou ação no Brasil

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Integrantes do Estado Islâmico em Moçambique - Metrópoles
1 de 1 Integrantes do Estado Islâmico em Moçambique - Metrópoles - Foto: Reprodução

O Brasil e o restante da América Latina são terreno fértil para a propagação de uma interpretação radical do islamismo. É o que avalia o especialista em crime organizado e terrorismo, Mahmut Cengiz, da universidade George Mason, dos Estados Unidos.

“A América Latina tem se tornado um ambiente particularmente receptivo para a disseminação do salafismo, em grande parte devido aos desafios socioeconômicos da região e à vulnerabilidade de sua juventude”, afirmou o pesquisador em entrevista ao Metrópoles.

Os salafismo mencionado por Cengiz é uma linha ultraconservadora do islamismo sunita, base de grupos terroristas como o Estado Islâmico (Isis, na sigla em inglês).

Reportagem do Metrópoles publicada na semana passada revelou detalhes inéditos de uma investigação da Polícia Federal (PF) contra um esquema de recrutamento de jovens pelo Isis no Brasil. Um jovem de 20 anos foi condenado a sete anos de prisão por terrorismo e corrupção de menores. Segundo a PF, ele radicalizava quatro adolescentes usando o aplicativo Telegram.

O Estado Islâmico chegou a ter mais de 45 mil contas no antigo Twitter para disseminar propaganda, durante seu auge, entre 2014 e 2015, segundo Mahmut Cengiz. O pesquisador faz parte do Centro de Terrorismo, Crime Transnacional e Corrupção da Escola Schar de Política e Governo.

“Além do Twitter, o Isis utilizou aplicativos de mensagens criptografadas, como o Telegram, para promover seus objetivos organizacionais. O Telegram é preferido porque oferece fortes recursos de criptografia e privacidade, dificultando o trabalho das agências de inteligência e das autoridades policiais na interceptação de comunicações. Essa plataforma segura permite que o Isis realize discussões confidenciais, coordene ações e gerencie logística sem medo de vigilância”, explica Cengiz.

Arte do Metrópoles sobre esquema de recrutamento de adolescentes pelo Estado Islâmico - Metrópoles

Terrorismo em Moçambique e Turquia

Mensagens identificadas pela PF mostram que os brasileiros cooptados pelo Estado Islâmico tinham um grande interesse pela atuação do grupo terrorista no norte de Moçambique. Depois de perder território na Síria, o grupo intensificou suas ações em algumas regiões na África (foto em destaque).

“Essas regiões são marcadas por uma pobreza severa, o que cria um terreno fértil para o recrutamento e radicalização de extremistas. Além disso, a disseminação de uma versão rígida do salafismo nessas áreas agrava ainda mais o problema, oferecendo uma base doutrinária para ideologias extremistas. A presença de regimes autoritários na região também levou à repressão severa das comunidades muçulmanas, deixando muitos indivíduos desiludidos e desesperados por alternativas”, contextualiza o pesquisador.

Foto colorida de Mahmut Cengiz pesquisador terrorismo - Metrópoles
Mahmut Cengiz é especialista em crime organizado e terrorismo no Centro de Terorismo, Crime Transnacional e Corrupção da Escola Schar de Política e Governo da Universidade George Mason

Em um vídeo interceptado pelo FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, o brasileiro Fábio Samuel da Costa Oliveira, de codinome Mahmoud al-Brazili, faz um “chamamento aos irmãos falantes do português”, que é o caso de Moçambique.

Fábio foi preso em junho do ano passado no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, quando tentava embarcar para a Turquia. De lá, seguiria para regiões na África onde o Isis participa de conflitos.

Mahmut Cengiz tem uma longa trajetória como pesquisador do crime organizado e do terrorismo na Turquia. Ele explica ao Metrópoles que o país se tornou uma rota do islamismo radical, principalmente depois que combatentes do Isis perderam território na Síria e migraram para o solo turco.

“À medida que o Isis começou a perder controle territorial e influência, o governo da Turquia não deu atenção especial ao retorno desses militantes. Consequentemente, alguns combatentes retornados não foram devidamente monitorados ou submetidos a medidas legais ou de segurança significativas, o que tem sido um ponto de preocupação nas discussões sobre as estratégias antiterroristas da Turquia”.

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