Ameaçada, 1ª vereadora negra de Joinville não sai de casa: “Medo e insônia”
Professora Ana Lúcia Martins foi ameaçada de morte por usuário de uma rede social que disse ser do grupo “Juventude Hitlerista”
atualizado
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Após sofrer ameaças de morte em uma rede social, a vereadora Ana Lúcia Martins (PT-SC) tem evitado sair de casa, em Joinville (SC), para agradecer os mais de 3,1 mil votos que a fizeram a primeira negra da história da Câmara Municipal.
Um usuário, que se diz do grupo “Juventude Hitlerista”, afirmou, em resposta à eleição de Ana Lúcia para a Câmara de Vereadores, que “agora só falta a gente m4t4r el4 e entrar o suplente que é branco [sic]”. Essa ameaça foi publicada na rede social Twitter.
“Foi uma ameaça à minha vida, à minha integridade física, que se estende à minha família”, conta a vereadora, em conversa com o Metrópoles na nesta quinta-feira (19/11). “É evidente que nos causou medo, muito medo mesmo. A insônia bateu”, prossegue.
Professora aposentada, Ana Lúcia soube das ameaças na noite dessa terça-feira (17/11). Na quarta (18/11), foi à delegacia da Polícia Civil para registrar um boletim de ocorrência, conversou com advogadas do PT e, desde então, não mais saiu de casa.
“O meu desejo agora era visitar as pessoas, a minha família; comemorar e celebrar minha eleição, mas vou precisar me recolher até que a gente saiba quem são essas pessoas. Elas têm que ser impedidas de colocar em prática o racismo delas”, conta.
Além da Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCAMI), o Ministério Público também foi acionado para investigar o caso. A equipe de Ana Lúcia estuda também a contratação de seguranças particulares para acompanhar a vereadora.
Ao relembrar da então vereadora do Rio de Janeiro (RJ) Marielle Franco (PSol), assassinada em março de 2018, a professora aposentada diz ser necessário acabar com esses grupos de extermínio e com o “racismo velado” o mais urgentemente possível.
Pesquisa realizada pela antropóloga Adriana Abreu Magalhães Dias, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no ano passado, revelou que há pelo menos 69 grupos neonazistas em atividade apenas em Santa Catarina, de um total de 334 no país.
“Para esses grupos, a vida da mulher negra não tem valor. É isso que eles querem nos causar, esse medo que nos paralisa, mas, apesar disso, me sinto encorajada a lutar pelos nossos direitos e pela nossa vida”, complementa Ana Lúcia.
“Nós não estaremos na Câmara de Vereadores para olhar somente para as mulheres negras, mas para toda a cidade, que precisa se envolver e também lutar contra esses atos racistas e esses grupos neonazistas, preconceituosos, que ameaçam nossas vidas”, diz.