Amazônia tem PCC e outras 21 facções, aumento do crime e menos PM
Pesquisa mostra que importantes índices criminais têm maiores taxas na Amazônia, enquanto estrutura do Estado na região é precária
atualizado
Compartilhar notícia
Os municípios da Amazônia Legal têm taxas maiores de homicídio, estupro e feminicídio que a média nacional. Por outro lado, há menos policiais e estrutura na segurança pública, quando se compara com o resto do país.
É o que mostra a pesquisa Cartografias da Violência na Amazônia, estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e do Instituto Mãe Crioula, lançado nesta quinta-feira (30/11).
O levantamento dos pesquisadores mostrou que o quantitativo de policiais militares é de cerca de 60 mil servidores. Isso representa uma média de um PM para cada 83 km². Já no Brasil inteiro, essa média é de um policial para cada 21 km².
Falta de estrutura na Amazônia Legal
A falta de estrutura para um território tão gigantesco também chama a atenção. As secretarias de segurança pública dos nove estados que compõem a Amazônia Legal possuem apenas 19 aeronaves e 24 helicópteros.
Para se ter uma noção, a Polícia Militar de São Paulo tem mais helicópteros que toda a Amazônia Legal, que é 20 vezes maior que o estado do sudeste brasileiro.
Segundo o diretor-presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima, essa falta de estrutura do Estado na Amazônia é histórica e remete ao modelo de ocupação dessa região, pautado no garimpo, extração de madeira e borracha, em áreas da floresta com menor densidade populacional, chamada de “grandes vazios”.
“O Estado tem dificuldade de consolidar a presença nesses grandes vazios. Há uma priorização dos recursos nas capitais e nos centros urbanos, onde vivem cerca de 60% da população da Amazônia. Qual a grande questão disso: o narcotráfico foi ocupando o espaço do Estado e regulando a vida das pessoas nesses grandes vazios”, explica.
Atualmente, as facções criminosas estão aliadas ao garimpo e ao desmatamento ilegal, de acordo com Renato Sérgio de Lima: “O crime está cooptando os trabalhadores, ribeirinhos, indígenas ou mesmo ameaçando a existência deles”.
Fronteiras desprotegidas
Os pesquisadores identificaram 22 facções criminosas na Amazônia Legal, mas a principal delas, sem dúvida, é o Primeiro Comando da Capital (PCC), com células internacionais na Bolívia, Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Venezuela.
Segundo a pesquisa, 23% dos municípios da Amazônia têm presença dessas facções, sendo que quase 60% dos habitantes da região moram nessas cidades.
As polícias estaduais e federal registraram um grande aumento na apreensão de cocaína na Amazônia nos últimos anos. O que vai de encontro com pesquisas internacionais sobre o aumento da produção da droga entre os maiores produtores (Peru, Colômbia e Bolívia).
Por outro lado, as Forças Armadas, que são responsáveis justamente pelas fronteiras do país, que passa boa parte pela Amazônia, apreendem bem pouca quantidade de drogas.
Em 2022, o Exército apreendeu apenas quatro toneladas de maconha e cocaína na Amazônia. No mesmo período e na mesma região, as polícias estaduais apreenderam 20 toneladas e a federal apreendeu 32 toneladas só de cocaína.
“Temos uma discussão importante com a não compreensão, por parte das Forças Armadas, de que essa (combater o tráfico de drogas) é uma tarefa dela. A Amazônia se transformou em um hub (agregador de produtos e serviços) fundamental da economia do crime e, se a gente não conseguir desarticular isso, inclusive com a contribuição das Forças Armadas, vamos fazer pouca coisa”, avalia o diretor-presidente do FBSP.