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Amazônia e Pantanal: nível dos rios nunca diminuiu tanto como em 2024

Em Manaus, Rio Negro diminuiu até 26 centímetros por dia. “Tivemos seca no passado, mas não nessa dimensão toda”, diz coordenador do SGB

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1 de 1 imagem colorida do rio negro em marina do davi, em manaus - Foto: Jesper Sohof/Getty Images

A seca prolongada e severa de 2024 atingiu, simultaneamente, um território tão vasto no Brasil que refletiu, diretamente, no nível dos rios da Amazônia e do Pantanal. Essas são as duas áreas que mais geram preocupação hoje, quanto ao volume de água.

Os dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB), responsável pelo monitoramento do nível das bacias hidrográficas, nunca registrou tantos rios com mínimas históricas ou prestes a bater recordes negativos como nos últimos meses.

O coordenador do Sistema de Alerta Hidrológico do SGB e engenheiro hidrólogo Artur Matos explica que a seca atinge, hoje, uma área muito extensa, que começa no Rio Araguaia, em Goiás, passa por todo o Pantanal, sudoeste e centro da Amazônia, e chega até Tabatinga (AM), que é a primeira cidade brasileira na fronteira com o Peru e a Colômbia.

“Tivemos secas em anos anteriores. Em alguns pontos específicos, até foram piores, mas nessa extensão toda, e ao mesmo tempo, é a primeira vez. É uma área muito vasta”, diz Artur.

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Rio Madeira enfrenta pior seca em 50 anos
Rio Negro, no Amazonas, durante seca
Rio Negro, na Amazônia
Pantanal
Rio Araguaia, na região da Viúva, em Nova Crixás (GO)
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Rio Madeira

Klézio Martins/MAB
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Rio Madeira enfrenta pior seca em 50 anos

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Rio Negro, no Amazonas, durante seca

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Rio Negro, na Amazônia

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Pantanal

Gustavo Figueiroa, diretor do SOS Pantanal
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Rio Araguaia, na região da Viúva, em Nova Crixás (GO)

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“Queda livre”: em Manaus, rio diminuiu até 26 cm por dia

Os números registrados pelo monitoramento do SGB refletem bem o cenário. Em Manaus (AM), o Rio Negro chegou a reduzir até 26 centímetros por dia. “Em queda livre”, define Matos. O pico ocorreu no dia 16 de setembro.

Esse índice é o dobro da média, geralmente, registrada na cidade, nos meses de agosto e setembro. O coordenador do SGB conta que, em geral, a oscilação negativa do rio na região fica em 13 cm por dia nessa época do ano. Em 2024, no entanto, a redução ultrapassou a média várias vezes. Na quarta-feira (25/9), por exemplo, a diminuição foi de 19 cm.

Em Tabatinga, no extremo oeste do Amazonas, o Rio Solimões quase triplicou, negativamente, a mínima histórica. Até então, o menor valor atingido havia sido em 2010, com -86 cm. Neste ano, a medição chegou a detectar -2m26cm. “Foi algo bem diferente para o local. Nunca foi registrado esse valor”, diz o coordenador do SGB.

Extensão da bacia influencia queda e dificulta recuperação

Matos explica que, por ser uma bacia extensa e com uma ramificação complexa de afluentes, a Amazônia costuma sentir mais os efeitos de uma seca prolongada e simultânea, como a deste ano. As consequências ficam mais nítidas, de forma que o nível da água tende a cair mais do que em outras bacias do Brasil.

Como são rios grandes e volumosos, a falta de chuva reduz a água em todos eles ao mesmo tempo. Com isso, o movimento natural gera uma soma final de baixas bruscas e em maior quantidade do que em outros locais.

Da mesma forma, essa característica influencia também no maior tempo de recuperação, quando as chuvas recomeçam na região. Enquanto existem rios no Brasil que se recuperam da seca em questão de dias, na Amazônia tende a levar algumas semanas, e até meses, de precipitação para que os principais rios retomem o nível normal da água.

Pantanal e Araguaia

Os rios e lagos do Pantanal, por exemplo, costumam se recuperar numa velocidade maior, devido à configuração e características locais. Este ano, no entanto, será um teste importante. A medição feita pelo SGB, na região, também detectou mínimas históricas.

Em Barra do Bugres (MT), a menor cota atingida pelo rio havia sido 28 cm, em 1967 e 2023. Este ano, esse valor foi superado e chegou a 23 cm. Artur Matos cita, ainda, a estação de Ladário (MS), cidade que fica próxima a Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia. A medição feita no rio Paraguai, na região, é uma das mais antigas do Brasil, datada de 1900.

“Ainda não atingimos a mínima por lá, mas estamos perto e vamos ver o volume do rio continuar caindo nos próximos dias”, alerta ele.

No Araguaia, rio que percorre a divisa entre Goiás e Mato Grosso, e que também é afluente do Amazonas, um dos canais, na região da Viúva, em Nova Crixás (GO), secou completamente. O local onde antes corria o leito largo do rio ficou na terra, conforme mostrado pelo Metrópoles nessa quarta-feira (25/9).

Veja:  

 

Mínima: Rio Madeira saiu de 1m10 em 2023 para 25 cm em 2024

Um outro ponto crítico da Amazônia é o Rio Madeira, na altura de Porto Velho (RO). Até então, a mínima histórica do afluente, considerado o mais importante e volumoso do Rio Amazonas, havia sido 1m10, registrada em 2023. Esse recorde, no entanto, não foi páreo para a seca severa deste ano.

No dia 5 de setembro, a medição ficou abaixo de 1 metro pela primeira vez na história. Em menos de 10 dias, baixou mais 55 centímetros, chegando a 41 cm no dia 14 de setembro. A redução foi tão inesperada e fora da curva que obrigou os técnicos do SGB a trocar a régua de medição no local e adotar uma nova, que vai até os centímetros.

A queda, no entanto, não parou por aí. O rio chegou à mínima de 25 cm, no dia 23 de setembro. Já há alguns anos, o Rio Madeira registra cotas ruins. Desde 2020, os índices vêm caindo. “O que podemos pensar como causador disso tudo é o desmatamento. Quanto mais a gente atingir o meio ambiente, mais globalmente sentiremos as consequências”, diz Artur Matos.

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