Alta temperatura do Lago Tefé (AM) matou 10% dos botos da região
Seca extrema no Amazonas deixa marcas na vida dos animais da região e também na população local que tem os rios como fonte de sobrevivência
atualizado
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A seca extrema no Amazonas deixou marcas, principalmente na fauna amazônica. Pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) e do WWF-Brasil concluíram que 10% da população de botos do Lago Tefé, no interior do estado, morreram em decorrência das altas temperaturas.
Os pesquisadores Miriam Marmontel e André Coelho, do IDSM, e Mariana Paschoalini Frias, do WWF-Brasil, iniciaram uma pesquisa em setembro sobre a causa da morte dos botos do Lago Tefé. Os primeiros resultados apontam que a água superaquecida causou a óbito de dezenas de animais.
Ao todo, 153 botos foram encontrados mortos no Lago Tefé. Desses, 130 são da espécie cor-de-rosa e 23 da tucuxi. Segundo os pesquisadores, apenas no dia 28 de setembro, quando a temperatura da água atingiu 39,1ºC, 70 carcaças de botos foram encontradas na região, além de centenas de peixes.
Os pesquisadores destacam ainda que as altas temperaturas dos rios amazônicos são causadas pelas mudanças climáticas, o fenômeno climático El Niño e a seca extrema que afeta a região.
“É estarrecedor o que está acontecendo no Lago Tefé. O impacto da perda desses animais é enorme e afeta todo o ecossistema local”, afirma Mariana Paschoalini Frias, analista de Conservação do WWF-Brasil. “Botos são considerados ‘sentinelas’. Ou seja: são indicativos da saúde do ambiente onde vivem. O que acontece com eles se reflete nas outras espécies que vivem ao redor, inclusive a humana”, completa a pesquisadora.
Os botos do Lago Tefé vivem um trecho chamado Enseada do Papucu por causa da abundância de peixes, sua alimentação básica. Para evitar a morte de mais animais, a área tem sido isolada com uma barreira física.
“Em nossos estudos sobre os botos amazônicos, constatamos que eles sofrem diversas pressões, como a pesca predatória, contaminação por mercúrio e impacto de hidrelétricas. Mas esses eventos em Tefé mostram que é preciso realizar mais pesquisas sobre como eles serão afetados por mudanças climáticas constantes”, acrescenta Mariana.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) iniciou uma investigação sobre a morte dos botos.