Alta nos combustíveis afeta espera por viagens em apps como Uber
Associação de São Paulo afirma que 25% dos motoristas desistiram da atividade devido a dificuldades para encher o tanque
atualizado
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São Paulo – A massoterapeuta Ana Paula Aparecida de Oliveira, de 38 anos, é motorista de aplicativo há cinco anos, desde que se divorciou e se viu diante da responsabilidade de arcar sozinha com as contas da casa que divide com os dois filhos, de 14 e 18 anos. Há alguns meses, porém, a fonte de renda virou alvo de questionamento diante do que ela chama de “vilão”: a alta do combustível.
“Eu pensei várias vezes em desistir. Com o passar do tempo, tudo foi mudando e os vilões foram surgindo. Hoje, com o que eu ganho, tenho dificuldade de abastecer o carro, de ir ao supermercado, a carne esta caríssima”, diz.
Ana Paula mora na zona norte de São Paulo e estava acostumada a iniciar viagens na Rodoviária do Tietê nos turnos em que os filhos ficavam na escola. Para manter a mesma renda, ela conta que passou a dirigir à noite e, em vez de oito horas, a jornada aumentou para até 14 horas.
“Dirigir de dia não dá mais por causa do trânsito. Me preocupo em como vou encher o tanque quando puder voltar a usar o ar condicionado”, diz ela, sobre a determinação das empresas de transporte por aplicativo para manter os vidros abertos durante a pandemia, a fim de evitar contaminação.
Valores altos
O preço da gasolina sofreu diversos reajustes neste ano e chegou a R$ 7, o litro, em alguns estados. Em São Paulo, o litro da gasolina custa em torno de R$ 5, um dos mais baratos do país. O etanol vale, em média, R$ 4,30, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a alta acumulada foi de 27,5%, entre janeiro e julho deste ano.
Ana Paula diz que não rejeita corridas, mas de acordo com Eduardo Lima de Souza, presidente da Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp), a prática tem sido cada vez mais recorrente, ainda mais quando o passageiro está a mais de 2 quilômetros de distância do condutor. “Outro dia eu percorri quase 6 quilômetros para pegar um passageiro que rodou 1,8 quilômetro, ou seja, gastei dois litros de gasolina para ganhar R$ 8. No fim, desembolsei R$ 1,75 para deixar o passageiro no destino”, calcula.
Outro fator que contribui para o aumento de corridas canceladas são as modalidades promocionais oferecidas pelos aplicativos. “São corridas que o motorista recebe R$ 3,75 por quilômetro rodado com o passageiro. Se o litro da gasolina está R$ 5, ele paga para deixar a pessoa no destino”, afirma o presidente da Amasp.
Segundo ele, 25% dos motoristas da modalidade deixaram de dirigir em decorrência das altas no preço do combustível e da falta de reajuste no valor repassado pelos apps aos condutores. “Isso faz com que muitos escolham apenas as corridas mais rentáveis, o que causa transtornos aos usuários. As reclamações têm sido cada vez mais recorrentes.”
O lado da Uber
Em nota, a Uber informou que “a alta demanda por viagens vem se acentuando nas últimas semanas, conforme o avanço da campanha de vacinação e a reabertura progressiva de atividades comerciais pelas autoridades. Nesse sentido, os usuários estão tendo de esperar mais tempo por uma viagem”.
Ainda de acordo com a empresa, “os parceiros que dirigiram por volta de 40 horas ganharam, em média, de R$ 1.200 a R$ 1.300 na semana. Em um mês, significa que os motoristas estão com média de ganhos superior à média salarial de várias profissões no país”.
Para encarar o dia a dia no volante, Ana Paula conta que desistiu de fazer planilhas, já que sempre “estão zeradas”. “Eu vivo um dia de cada vez. A válvula de escape é a ‘Uber terapia’, a possibilidade de conversar com os passageiros”, finaliza.