Allan dos Santos burla bloqueio no Instagram e ofende Moraes em blues
Foragido teve redes suspensas pelo STF, mas abriu novo perfil e postou canção na qual chama ministro de “cabeça de piroca” e “amigo do PCC”
atualizado
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O militante bolsonarista Allan dos Santos tem se esforçado para mostrar ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não respeita suas determinações ou seus ministros. Ele é alvo de ordem de prisão expedida pelo STF em outubro do ano passado, mas segue foragido nos Estados Unidos. O bolsonarista teve seus perfis em redes sociais suspensos, também pela Suprema Corte brasileira, mas burla o bloqueio com contas em sites sem sede no país ou criando páginas novas nas plataformas mais conhecidas.
Em um perfil criado há pouco mais de dois meses no Instagram e que já é seguido por mais de 56 mil internautas, Santos tem documentado como vive normalmente no exterior, apesar de ser considerado fugitivo em seu país, e postado diversas ofensas ao ministro Alexandre de Moraes, relator de um inquérito que o investiga por ataques à democracia brasileira – o das milícias digitais.
São dezenas de postagens numa conta que foi aberta sem usar diretamente o nome Allan dos Santos, mas o de um canal de notícias criado por ele já nos EUA, após a página que fundou no Brasil, o Terça Livre, ter sido extinta, também no contexto de derrotas judiciais. Nesta semana, por exemplo, Santos divulgou viagens, posou com fuzis e uma foto do presidente Jair Bolsonaro (PL) e postou um vídeo de si mesmo cantando um blues que ofende Alexandre de Moraes.
“O cabeça de piroca pensa que pode me calar, mas não esperava que tenho amigos e estou livre agora. O escravo é você, que não pode sair na rua e ainda é amigo do PCC”, diz a letra da canção de autoria do próprio Allan. O PCC do blues é a quadrilha criada em prisões paulistas e que Santos liga constantemente a Moraes em suas críticas.
Veja o conteúdo da postagem:
Vida de foragido
Santos teve ordem de prisão expedida pelo STF em outubro de 2021, quando já estava nos Estados Unidos. Na decisão, o ministro Alexandre de Moraes determinou ainda que a captura do foragido fosse pedida ao consórcio internacional jurídico-policial, a Interpol. O processo para pedir a prisão e extradição, porém, passa pelo governo federal, que se esforçou para retardar a tramitação no Ministério da Justiça e, até esta quarta-feira (9/2), o nome do militante não aparece na lista de procurados, o que lhe garante passe livre para circular nos EUA.
Na América do Norte, Santos mantém sua militância bolsonarista, esteve em contato com o guru extremista Olavo de Carvalho até sua morte, em janeiro deste ano, e chegou a confraternizar com o ministro Fabio Faria, das Comunicações, após ser atração ao lado dele em evento político-religioso na Flórida, também em janeiro. (Após a divulgação do evento pelo Metrópoles, Faria se justificou dizendo que “não sabia” que Allan estaria presente e que, “se soubesse, não teria comparecido”).
Líder de grupo criminoso
Em seus ataques a Moraes, Santos costuma alegar que não cometeu nenhum crime e que seria perseguido pelo ministro por suas opiniões. Na ordem de prisão da qual Allan dos Santos foge, no entanto, Moraes anotou que “a Polícia Federal apresentou indícios fortes, plausíveis e razoáveis da vinculação do representado à prática de diversos crimes”.
Moraes afirma na peça que Santos é um dos líderes do grupo criminoso responsável por atacar integrantes das instituições públicas, desacreditar o processo eleitoral, reforçar o discurso de polarização e gerar animosidade na sociedade brasileira.
O militante, segundo o ministro, montou uma “verdadeira estrutura destinada à propagação de ataques” contra o STF, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Senado Federal, com foco voltado contra a CPI da Pandemia.
O ministro aponta ainda que Allan dos Santos é suspeito de cometer crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa, calúnia, difamação, injúria, incitação ao crime de praticar, induzir ou incitar a discriminação ou o preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Allan nas redes
Veja mais imagens das postagens de Allan dos Santos no Instagram, apesar do bloqueio judicial que pesa contra ele:
Com o bloqueio do STF à participação do foragido em debates de redes sociais com sede no Brasil, Santos usa principalmente plataformas como Telegram e Gettr para propagar suas ideias e ataques ao Poder Judiciário. Ele também tentou usar um canal alternativo no YouTube para reviver os tempos áureos do Terça Livre, mas a plataforma acabou percebendo a jogada e excluiu também esse perfil.
Por meio dessas contas alternativas, porém, Allan dos Santos costuma conseguir burlar as restrições judiciais ao menos por algumas semanas, já que não há ordens específicas para esses endereços e as decisões ficam a cargo das redes sociais.
O Instagram não se pronunciou sobre a manobra de Allan dos Santos.