Aliados de Moro asseguram que ele tem provas contra Bolsonaro
Interlocutores do ex-ministro relataram ao Estadão que ele e o presidente da República tiveram inúmeras conversas pelo WhatsApp
atualizado
Compartilhar notícia
As acusações de Sérgio Moro contra ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no anúncio de sua demissão, nesta sexta-feira (24/04), estariam respaldadas em provas documentais. Interlocutores do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública relataram que Moro e Bolsonaro tiveram inúmeras conversas, pessoais e de governo, especialmente pelo WhatsApp, canal usado pelo presidente para dar ordens aos subordinados.
Essas fontes observaram que Moro tem uma experiência de 22 anos na função de juiz criminal e sabe, como poucos, que não se acusa alguém sem provas concretas.
Pelo menos sete crimes que Bolsonaro teria cometido foram apontados pelo ex-ministro no pronunciamento que fez nesta sexta-feira (24/04).
Moro surpreendeu até sua equipe ao revelar com detalhes que o presidente manifestou interesse em interferir na autonomia da Polícia Federal. Ordens que ele nunca repassou. Bolsonaro nunca teve uma conversa a sós com o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.
O mais grave
Na avaliação de experientes investigadores que acompanham o ex-ministro, a acusação mais grave apontada por Moro foi o interesse de Bolsonaro em controlar a PF para ter acesso a investigações sigilosas – muitas das quais comandadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“O presidente também me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no STF e que a troca também seria oportuna na Polícia Federal por esse motivo”, afirmou o ministro na entrevista.
É munição nova à disposição dos opositores do governo. O Palácio do Planalto já enfrenta inquérito no Supremo na área das fake news. Conforme o Estadão revelou, as investigações conduzidas pela PF sobre o caso já chegaram a empresários que teriam financiado ataques nas redes sociais a opositores de Bolsonaro.
A mira dos investigadores é o grupo comandado pelo “gabinete do ódio”, liderado pelo vereador Carlos Bolsonaro (RJ), filho do presidente da República.
Destruição de reputações
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), irmão de Carlos, foi ao Supremo para tentar impedir a continuidade da CPI das Fake News, que também mira os financiadores da rede que destrói reputações de qualquer um que critique o presidente. Os próprios ministros do Supremo costumam ser alvo.
A PF não investiga o caso envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (RJ), filho zero um do presidente, e o seu ex-assessor Fabrício Queiroz.
O parlamentar é suspeito de desviar dinheiro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Assessores de Flavio repassavam parte do salário para Queiroz. A primeira-dama Michele Bolsonaro chegou a receber valores de Queiroz. Esse caso é conduzido pelo Ministério Público Estadual.