Alesp tem alta de 17,8% em gastos com locação de carros no 1º semestre
Foi gasto R$ 1.604.559,43 com locação de veículos por deputados paulistas. Despesa é a segunda mais alta da Casa
atualizado
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Mesmo com a maioria das atividades parlamentares ocorrendo de forma on-line, os custos com locação de carros pelos deputados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) continuam sendo uma das maiores despesas feitas pela Casa. No primeiro semestre deste ano, R$ 1.604.559,43 foi gasto apenas com esse serviço, um aumento de 17,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
No total, 86 dos 94 deputados estaduais locaram automóveis nos primeiros seis meses deste ano. O deputado Coronel Telhada (PP) foi o que mais desembolsou com o serviço; R$ 48.000, seguido por Altair Moraes (Republicanos), que gastou R$ 42.600.
Os dados foram apurados pelo (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles, nos materiais divulgados pela Alesp. Para isso, a reportagem teve de somar todos os gastos feitos por matrícula de cada um dos parlamentares, além de cruzar as informações com a listagem dos nomes dos deputados. Os dados de despesas são identificados apenas com as matrículas daqueles que estão na atividade parlamentar.
O valor chama a atenção não só pela não necessidade de comparecimento dos parlamentares na Casa durante a pandemia, mas também pelos gastos que a Alesp faz regularmente com a manutenção da sua frota e dos espaços de garagem.
Durante a pandemia, sob a presidência do deputado Cauê Macris (PSDB), a Casa legislativa reformou um jardim de inverno, que fica na garagem interna do prédio. Entre lixamentos, rejuntes de paredes, instalação de floreiras e a inserção de um brasão do estado de São Paulo em latão, a Alesp desembolsou R$ 826.925. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Atualmente, pelo menos 40 funcionários trabalham na divisão de manutenção, conservação e mobilidade. A área é responsável, entre outras atividades, pela manutenção da frota de veículos colocados à disposição dos gabinetes.
Cada deputado tem direito a usar um desses veículos, que ficam disponíveis na assembleia. O parlamentar também tem a opção de locar um automóvel com a finalidade de representação parlamentar, após manifestar à administração da Casa que não irá utilizar o veículo pertencente à Alesp. Os carros só podem circular dentro dos limites de São Paulo, e têm de ter autorização da Mesa Diretora para trafegar fora do estado.
Questionada pelo Metrópoles sobre a quantidade de carros próprios à disposição dos parlamentares, a Alesp não respondeu.
Neste primeiro semestre, 14 parlamentares optaram por gastar parte dessa verba com a empresa Nevada Rent a Car, cujos sócios são Vicente Carbone Filho e Victor Elias Carbone Mudalen. A empresa é ligada à família do ex-deputado da Alesp e ex-deputado federal Jorge Mudalen (DEM) e da mulher dele, a vereadora da cidade de São Paulo Sandra Tadeu (DEM).
Victor é um dos três filhos do casal. Vicente é irmão da parlamentar e cunhado de Jorge, que atualmente não exerce nenhum mandato legislativo. A empresa, segundo a Receita Federal, foi criada em 1989, com capital social de R$ 3,5 milhões, e tem sede em Guarulhos.
A empresa é cativa nos relatórios de gastos dos parlamentares paulistanos. Em fevereiro do ano passado, a revista Veja já havia noticiado a ligação dos políticos com a empresa, mas isso não fez com que os contratos de locação com o empreendimento fossem interrompidos.
Questionada sobre a contratação da empresa do filho e do irmão, Sandra Tadeu respondeu não ser sócia e que por isso não teria nada a declarar. A vereadora completou, dizendo que caso a reportagem quisesse maiores esclarecimentos, deveria procurar a Nevada.
A Nevada também foi procurada, mas ninguém atendeu as tentativas de ligação. A empresa reúne alguns comentários de usuários em sua página no Google que argumentam também não conseguirem contato com os responsáveis.
Para o fundador da ONG Contas Abertas, Gil Castelo Branco, a impressão é que alguns parlamentares entendem que a verba de gabinete é uma extensão dos salários dos deputados. “Entendem como uma complementação salarial, ficam satisfeitos e gastam como querem”, argumenta.
Procurada para prestar esclarecimentos sobre o caso, a Alesp sugeriu, por telefone, que a reportagem entrasse em contato com cada um dos parlamentares para falar a respeito dos gastos. Mesmo com pedido de nota, a Casa não se pronunciou sobre o caso.
Os parlamentares envolvidos foram procurados.
Coronel Nishikawa (PSL) disse que suas atividades “estão de acordo com a legalidade e o Regimento Interno da Assembleia Legislativa”.
Maria Lúcia Amary (PSDB) afirmou que o contrato foi “realizado dentro das regras” e que “não há qualquer relação da opção pela empresa [Nevada] com os pais do proprietário”.
O gabinete do deputado Major Mecca (PSL) respondeu ao Metrópoles que desde maio deste ano não aluga mais carro com a Nevada, e que a empresa, além de ter cumprido com todos os requisitos, apresentou o “melhor custo-benefício na época”.
Por fim, a assessoria de Douglas Garcia (PTB) afirmou que a Nevada é “antiga e conceituada no mercado”, mas que, desde o mês passado, não tem contrato com nenhuma empresa, pois utiliza o veículo da Alesp.
Os deputados Roque Barbiere (Avante), Roberto Morais (Cidadania), Enio Tatto (PT), Marcos Zerbini (PSDB), Paulo Correa Jr. (DEM), José Américo (PT), Luiz Fernando T. Ferreira (PT), Marcos Damasio (PL), Paulo Fiorilo (PT) e Professora Bebel (PT) não responderam.