Alertas de desastres naturais crescem 15,8% no 1° trimestre
Tragédias causaram centenas de mortes no Rio de Janeiro e na Bahia, estados atingidos por fortes chuvas no início de 2022
atualizado
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Diversas cidades da Bahia foram atingidas por fortes chuvas durantes o fim de semana de Páscoa. Pelo menos 20 casas precisaram ser evacuadas por causa do risco de desabamento em Salvador. A situação é parecida com os desastres registrados no ano passado no sul do estado, que provocaram ao menos 27 mortes.
O Rio de Janeiro também foi castigado pelas chuvas. Em Petrópolis, ao menos 241 pessoas foram vítimas dos temporais que atingiram a cidade em fevereiro e março.
A repetição de tragédias é comprovada em números. Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o número de alertas emitidos para desastres naturais, como inundações, enxurradas e deslizamentos cresceu 15,8% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Foram 1.410 notificações desse tipo em 2021, contra 1.633 neste ano.
“O aumento no número de alertas está associado às mudanças climáticas”, explica o diretor do Cemaden, o físico Osvaldo Moraes. Segundo ele, com o aquecimento global, o número de “eventos extremos” aumentou.
Subnotificação
Esses números são, entretanto, muito menores do que a realidade. O Cemaden, instituição vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), é responsável pelo monitoramento de ameaças naturais em áreas de risco em municípios brasileiros suscetíveis à ocorrência de desastres naturais, além de realizar pesquisas e inovações tecnológicas para a melhoria do sistema de alerta antecipado.
O órgão, entretanto, amarga nos últimos anos uma verba considerada insuficiente para a área de atuação.
Segundo dados do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop), o Cemaden teve um orçamento de R$ 14,2 milhões em 2021 – menor valor desde a sua criação, em 2011. Em 2020, a verba havia sido de R$ 18,5 milhões.
Neste ano, o valor foi elevado novamente para R$ 18,5 milhões. Entretanto, segundo a própria instituição, o dinheiro serve apenas para manter algumas áreas de monitoramento, sem qualquer chance de expansão do trabalho. Para comparação, em 2013, a instituição recebeu R$ 90,2 milhões.
“Este ano recuperamos parcialmente o que perdemos no ano passado, mas com isso não vamos conseguir avançar: vamos acabar só voltando ao mesmo estado de antes apenas”, explica Moraes.
Desde 2017, por exemplo, a Estação Total Robotizada (ETR), equipamento capaz de detectar a movimentação de terra e, assim, ajudar a evitar possíveis deslizamentos nos morros, não estava presente em Petrópolis. Segundo a BBC News, na ocasião, o equipamento estava em Cachoeira Paulista (SP), em uma unidade do órgão. O motivo seria a falta de recursos para manter o equipamento funcionando no local.
Áreas de risco
Segundo Moraes, o maior gargalo encontrado pelos especialistas está na incapacidade de expansão do monitoramento. Hoje, apenas 50% da população brasileira vive em áreas com cobertura do Cemaden. Um dos critérios para monitoramente é a cidade já ter registrado um desastre ambiental, o que impede a instituição de monitorar novas áreas para evitar tregédias.
“O orçamento não é o suficiente para ampliar o monitoramento no país, e, consequentemente, aumentar quem pode receber alertas de desastres”, diz o diretor.
O Metrópoles questionou o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) sobre os recursos enviados para o Cemaden, mas até a publicação não havia conseguido um retorno. O espaço permanece aberto.
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