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Além de prédio incendiado, SP tem mais de 2 mil ocupações irregulares

Ao menos outros 70 edifícios serão vistoriados pela Defesa Civil, nos próximos 45 dias, para avaliar condições estruturais

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1 de 1 WhatsApp Image 2018-05-01 at 20.21.56 - Foto: JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO

O estrago deixado pelo incêndio que colocou abaixo o edifício Wilton Paes de Almeida, na região central de São Paulo, na madrugada desta terça-feira (1º/5), vai além dos escombros e do morador desaparecido após uma tentativa frustrada de resgate. Entidades de arquitetos e movimentos sociais alertam para o que chamam de “descaso” do poder público com prédios abandonados na capital paulista e com ocupações irregulares. Segundo alegam, a cidade coleciona imóveis em situação semelhante e famílias sem abrigo, aglomeradas em estruturas esquecidas pelo governo e com sérios riscos de colapso.

Na tarde desta terça (1º), em entrevista coletiva, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), revelou que a prefeitura havia cadastrado 150 famílias sem-teto abrigadas de forma irregular no prédio, sendo 25% delas estrangeiras.

O edifício, segundo Bruno Covas, pertencia à União, mas estava cedido à prefeitura desde 2017 e deveria acomodar, em breve, as novas instalações da Secretaria de Educação e Cultura de São Paulo. Antes disso, no entanto, pegou fogo e desabou – em segundos –, deixando pelo menos um homem desaparecido. Até o início da noite, outras 34 pessoas que moravam no lugar não tinham sido localizas pela equipe de buscas, mas não eram dadas como desaparecidas: para as autoridades paulistas, apenas não estavam no local no momento da tragédia e devem se apresentar nas próximas horas.

História sob escombros
O Wilton Paes de Almeida ficava na região do Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, e era tombado como Patrimônio Histórico da cidade desde 1992. Os moradores que ocupavam de forma irregular os 24 andares se abrigavam em história: o projeto, de 1961, era considerado moderno e levava a assinatura do arquiteto Roger Zmekhol.

Chegou a sediar a Polícia Federal por mais de 20 anos, entre 1980 e 2003. Antes dos sem-teto, alojou também ao Instituto Nacional de Previdência Social (INSS), nas décadas de 1980 e 1990. Foi justamente com a mudança da PF dali para a nova sede, na Lapa, que ele começou a definhar.

Confira imagens do edifício: 

Google Street View/Reprodução

Stela Woo/Metrópoles

 

Como o edifício Wilton Paes de Almeida, a prefeitura estima que outros oito prédios no centro da cidade estejam hoje ocupados por movimentos sociais de moradia. A maioria, diz Bruno Covas, é particular e cabe aos proprietários pedir a reintegração. A Defesa Civil deverá fazer um mapeamento, num prazo de 45 dias, de risco em outras 70 construções invadidas em São Paulo. A medida visa “verificar que ações precisam ser tomadas” e se “há alguma ação emergencial que precisa ser feita por conta do risco desses 70 prédios”.

Outros cinco edifícios nos arredores da tragédia foram interditados e passarão por análise para verificar a necessidade ou não de uma reforma. Ruas próximas ao local devem permanecer bloqueadas pelos próximos dias. Os endereços ainda não foram divulgados pela Defesa Civil.

“Novas tragédias”
Em nota divulgada no início da tarde, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo criticou o “descaso do Poder Público” com a situação urbanística da capital paulista e da política habitacional da cidade e ainda alertou para a iminência de “novas tragédias” em função de construções completamente esquecidas espalhadas pela metrópole.

No texto, o CAU lembra que existem “outras construções em situação idêntica” na área onde ficava o edifício Wilton Paes de Almeida e cobra do governo uma Política Habitacional Nacional e a preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo.

O conselho lembra ainda que, apesar do status, a construção estava “degradada por abandono, falta de manutenção e sucessivas ocupações informais e desorganizadas”.

Antes que novas tragédias aconteçam, é hora de uma ação política urbana articulada, séria e eficaz a respeito. Não apenas pelos edifícios icônicos, mas sobretudo por justiça social

Trecho da nota divulgada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo

Sem planajemento
Maurílio Chiaretti, presidente do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo, chama a atenção para a falta de um “projeto” da prefeitura para os edifícios desocupados. “Falta instrumentos técnicos, jurídicos mesmo, para que esses prédios sejam repassados à prefeitura e ganhem uma destinação. Ficaria mais barato reformá-los e torná-los aptos a ter atividade econômica ou social do que construir novas estruturas”, argumenta o arquiteto.

O sindicato acompanha a situação de algumas famílias sem teto da capital paulista. Chiaretti estima que a cidade tenha, pelo menos, 2 mil ocupações irregulares – algumas delas com milhares de famílias, como Heliópolis, com seus 100 mil moradores.

“Essas pessoas estão nessa situação não porque querem, mas porque não conseguem arcar com o custo de um aluguel. Temos todo o interesse de levar a arquitetura e o acesso à moradia a todos os brasileiros. E isso é possível. É isso o que temos debatido junto ao poder público”.

O colapso [do Wilton Paes] é resultado de toda uma política urbana que faz vista grossa a imóveis abandonados

Maurílio Chiaretti, presidente do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo

Ele diz que existem hoje no Brasil cerca de 7 milhões de imóveis desocupados, e um déficit habitacional de 6 milhões – uma “folga” de 1 milhão de tetos, caso as estruturas fossem adaptadas e redistribuídas.

Abrigos
O desabamento do Wilton Paes deixou, pelo menos, 248 pessoas desabrigadas, das cerca de 400 que moravam no local. Elas serão encaminhadas a abrigos pela prefeitura. De acordo com Bruno Covas, a orientação é para que permaneçam juntas, nos mesmos locais de acolhimento. Alguns, no entanto, relutam em se alojar em albergues por serem locais normalmente destinados à população de rua.

Ainda de acordo com o prefeito, essas pessoas receberão uma ajuda de custo para pagar o aluguel, com recursos do governo estadual, por um período de 12 meses. Serão R$ 1,2 mil por família no primeiro mês e R$ 400 nos seguintes.

Diante do imbróglio sobre a recusa dessas famílias em irem para albergues, o padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Igreja Católica, afirmou que um espaço na quadra do colégio Mosteiro de São Bento, no centro da cidade, ficará à disposição da prefeitura para receber as famílias por no máximo 10 dias, até solução melhor ser encontrada.

Buscas
O Corpo de Bombeiros segue com o resgate e a busca por corpos ou sobreviventes em um complicado trabalho de retirada dos escombros. Bombeiros estão removendo os entulhos manualmente e procurando possíveis vítimas com a ajuda de cães farejadores.

De acordo com o porta-voz do Corpo de Bombeiros, Marcos Palumbo, a ausência de elevadores no prédio – eles tinham sido retirados pelos ocupantes – e a presença de muito lixo no local teriam agravado o incêndio, funcionando como combustível para o fogo.

Os dutos de ar no centro da estrutura, então, teriam funcionado como uma espécie de chaminé. “Tinha muito material combustível: madeira, papel, papelão, algo que fez com que essa chama se propagasse com rapidez”, disse Palumbo.

De acordo com a corporação, o uso de retroescavadeiras só será possível dentro de 48 horas. Até lá, os bombeiros terão que remover entulho, evitar novos focos de incêndio e encontrar quem possa estar sob a montanha de ferro e concreto retorcido na qual se transformou o edifício Wilton Paes de Almeida apenas com as próprias mãos, com equipamentos que conseguirem carregar e com os cães farejadores.

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