Alckmin cobra punição sem restrições pelo 8/1: “Civil ou militar”
Vice Geraldo Alckmin aponta que houve atuação equivocada das Forças Armadas no governo Bolsonaro e conta que estava na missa em 8/1/23
atualizado
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O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que havia um claro “movimento golpista” em 8 de janeiro de 2023 e declarou que a punição deve acontecer tanto para civis, como para militares que financiaram ou incitaram os ataques. No entanto, ele acredita que a democracia saiu fortalecida do episódio.
“É inadmissível. As Forças Armadas jamais poderiam ter permitido [manifestantes] chegar[em] perto [dos quartéis]. Houve no governo passado uma visão equivocada, desvirtuada, induzida pela política, mas que também foi rapidamente rechaçada.”, afirmou o vice-presidente, sobre o comportamento das Forças Armadas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), em entrevista à Folha de S. Paulo.
Movimento golpista
De acordo com Alckmin, ele não achava que a defesa do golpe chegaria a tanto. “Havia um movimento claramente golpista. Isso já existia, era só verificar o que as pessoas diziam em frente às praças, em frente aos quartéis. Na minha cidade, as pessoas estavam acampadas em frente ao batalhão, em uma área do Exército, defendendo o golpe. É inacreditável. Mas não achava que chegaria a tanto”.
Segundo o vice, ele estava na missa, em São Paulo, para a posse de um novo bispo, quando recebeu a notícia da invasão. “Recebi um bilhetinho do segurança dizendo: olha, parece que houve uma invasão em Brasília. Como eu estava no meio da missa e também achei que era um pouco de exagero do segurança, fiquei até o final. Na hora que saí, aí sim percebi a gravidade da situação e voltei para Brasília, ainda naquela noite”.
Alckmin aponta que os ataques do dia 8 de janeiro não representam só a depredação de patrimônio público e a destruição de prédios, segundo ele, “um atentado à democracia é uma coisa gravíssima”. “É você atentar contra a Constituição brasileira. O patriota é quem defende a Constituição, a lei, a democracia, o resultado da eleição. Quem fez isso é golpista, é crime”, declarou.
Resposta rápida e punição
O ex-governador de São Paulo afirmou que a resposta aos ataques foi rápida e uniu os três poderes: Executivo, o Judiciário e o Legislativo. Mas afirmou que a punição é um capítulo que ainda nem começou. “A devida punição é importante porque o processo é grave. Você percebe que muitas pessoas que participaram, um pouco por desconhecimento, foram, às vezes, usadas. Esse é um processo investigatório que precisa ser feito”.
“Não é possível punir só quem estava ali dentro. Quem incitou tudo isso? Quem estimulou? Quem distribuiu fake news? Quem financiou? Pode ser civil, pode ser militar, servidor público, privado, não importa. A lógica da República é que a lei é para todos. Aliás, digo mais: quanto maior a responsabilidade, a autoridade, o poder, maior deve ser o cumprimento da lei”, completou o Alckmin.
Críticas
Na oportunidade, o vice-presidente também fez críticas a Jair Bolsonaro e a força do bolsonarismo. Segundo ele, o ex-presidente não tem apreço pela democracia. “Eu não tenho dúvida de que ele não tem nenhum apreço pela democracia. Isso é nítido e claríssimo. Aliás, eu até disse, quando eu disputei em 2018: não sei como quem não acredita na democracia disputa eleição. É uma contradição. Não é possível. Quando eu ganho, vale. Quando eu perco, derruba a eleição”, afirmou ele.
Ainda segundo o vice, é preciso ter vários polos políticos na democracia, pois não há unanimidade no processo democrático. “A lógica é que quem ganhou governa. Quem perdeu fiscaliza. O que não deve ter é atitude incivilizatória, ódio. Isso é a contradição, porque a democracia é civilizatória. Agora, no mundo inteiro você vive um quadro político mais radicalizado, não é só no Brasil”.
Aliança com Lula
Já sobre sua participação no Governo Federal e sua aliança com o presidente Lula, Alckmin traçou um histórico de luta pela democracia.
“É importante ver a origem das coisas. Nós estávamos juntos para redemocratizar o Brasil. Depois, cada um seguiu o seu caminho. O Lula foi criar o PT, e eu acabei sendo a sétima assinatura na fundação do PSDB, em 1988. Fomos colegas de constituinte. Nós apoiamos o presidente Lula na primeira eleição presidencial, no segundo turno. O PT nos apoiou em São Paulo, quando o [Mário] Covas foi candidato a governador. Você teve agora, na última eleição, um momento, e o 8 de janeiro é a prova disso. A democracia brasileira estava em risco. Há necessidade de os democratas enxergarem as questões maiores e trabalharem juntos. Estou muito feliz de poder estar dando a minha contribuição. Eu tentei duas vezes ser candidato a presidente. Então eu estudei muito as questões de política nacional.