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Advogada é expulsa de casa por ordem do tráfico e flagra “mudança”

Imóvel da madrinha da advogada Ester D’arc, usado como escritório, foi invadido a mando de traficantes no bairro do Fonseca, em Niterói

atualizado

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Ester D’arc
1 de 1 Ester D’arc - Foto: Reprodução

Rio de Janeiro – Foi na manhã da quarta-feira, dia 3 de novembro, que a advogada Ester D’arc Silveira se tornou vítima de um crime que, segundo ela, virou rotina no bairro do Fonseca, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Traficantes estão invadindo casas na Rua São Januário para expulsar e tomar as residências dos moradores.

“Traficantes vêm invadindo as casas, expulsando e direcionando os imóveis para outros moradores, em geral pessoas ligadas a eles, como parentes ou olheiros. Consegui flagrar o momento em que o tráfico fazia a minha mudança”, revela a advogada em entrevista ao Metrópoles.

Membro da Comissão de Direito militar e Delegada de Prerrogativa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Ester foi avisada por um vizinho de que havia um caminhão de mudança em frente ao imóvel que pertence à sua madrinha. Ela estava usando a residência como escritório, justamente para manter um fluxo de pessoas e, assim, inibir uma invasão.

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O caminhão da mudança  que fez o transporte dos móveis da advogada
Itens pessoais da advogada, deixados na porta da delegacia
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A delegacia onde o casa foi registrado

Arquivo Pessoal
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O caminhão da mudança que fez o transporte dos móveis da advogada

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Itens pessoais da advogada, deixados na porta da delegacia

Arquivo Pessoal

“Minha madrinha é uma médica idosa e, desde o início da pandemia, foi morar comigo. Então, passei a usar o espaço como escritório para mim e minha equipe, movimentando o lugar. Sabia que se deixasse sem uso poderiam invadir, uma vez que eles fazem isso com as casas e apartamentos ocupados”, diz a advogada

Ester relata que, na casa vizinha ao do seu atual escritório, o morador anterior foi expulso e uma nova residente, que era da comunidade, foi instalada na casa. Depois do ocorrido, a defensora fez obras para incrementar a segurança do imóvel, como câmeras de segurança e até cerca.

“Levantei muros, coloquei câmeras e criei uma rotina de entra e sai de pessoas. Mas nada disso impediu que alguém trocasse a minha fechadura, colocasse os meus pertences e os da minha madrinha num caminhão de mudanças. Tenho o Registro Geral de Imóveis, escritura, toda a documentação da casa. Mesmo assim, como havia uma mulher dentro da casa quando a PM chegou, os policiais disseram que era a palavra de uma contra a outra e se negaram a conduzir a ocorrência”.

A advogada precisou dar voz de prisão à mulher e ao motorista do caminhão. “Informei que sou advogada e fiz barulho. Só assim os PMs nos conduziram para a delegacia”.

Saga para registrar ocorrência

Na primeira tentativa de registrar uma ocorrência, na 78ª DP (Fonseca), Ester conta que os agentes de plantão não registraram o crime. Ela foi encaminhada para a unidade que funcionava como Central de Flagrantes, uma vez que seus pertences estavam no caminhão. Já na 76ª DP (Centro de Niterói), a delegada de plantão avaliou que o caso não deveria ser registrado na unidade.

“Ela alegou que não houve flagrante, ouviu os envolvidos apenas informalmente e nos mandou de volta pra 78ª DP. Tudo isso testemunhado por delegados da OAB, que acionei para acompanhar o tratamento que estava recebendo das autoridades policiais”, reclama.

A advogada retornou à 78ª DP, mas permaneceu com dificuldades em registrar o caso. Ela foi informada pelos agentes que não tinha o que ser feito na delegacia.

“Depois de muito argumentar, registraram  a ocorrência, ouviram a todos nós e liberaram as pessoas que tomaram posse da minha casa e das minhas coisas. A mulher ainda veio me dizer que era ordem do tráfico, que eu deveria entender o quanto é difícil morar em comunidade. Pois o que eu não entendo é falta de caráter e bandidagem. Morar em favela não faz ninguém criminoso”, completa.

Ester ficou ainda mais surpresa quando os móveis e objetos pessoais, que estavam no caminhão, foram descarregados na porta da delegacia. Os itens precisaram ser inventariados e somente depois foram devolvidos. 

Suspeitos identificados e buscas pelos criminosos

O titular da 78ª DP, delegado Geraldo Assed, informou que já tem dois suspeitos identificados e que estariam envolvidos na invasão e na mudança dos pertences de Ester e da madrinha. Assed ainda busca elementos para confirmar a denúncia feita pela advogada de que o crime foi ordenado pelo tráfico. 

“Temos que fazer as devidas confirmações, mas a denúncia dela é clara e em breve vamos solucionar o caso”, garante o delegado.

Ainda segundo o policial, os criminosos que dominam o tráfico de drogas naquela região se concentram no Morro da Palmeira. Assed afirmou que a vítima vai receber apoio da polícia para acessar o imóvel.

“Estamos dando todo apoio à ela e vamos garantir que tenha acesso ao imóvel novamente. Vamos concluir a investigação e dar um desfecho ao caso, gerando mais segurança para a área. Ainda não há informações sobre quando a advogada deverá ter acesso novamente ao imóvel e nem quando a residência será periciada”, disse.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Luciano Bandeira, em entrevista ao Metrópoles, repudiou o caso. Ele afirma que a ordem não pode compactuar com o fato de uma advogada ou qualquer outro cidadão ter seu imóvel violado.

“Vamos cobrar com veemência respostas para este absurdo. Estaremos firmes nesta cobrança por soluções para esta situação, que não pode se repetir”, afirma Luciano, que publicou nota oficial em nome da instituição cobrando também um posicionamento do Estado. A OAB também oficiou as polícias Civil e Militar pedindo proteção à profissional, que denunciou os abusos dos criminosos.

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