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Adiar 2ª dose é alternativa para acelerar vacinação contra a Covid-19

Especialistas defendem distanciar a aplicação entre a primeira e segunda doses para aumentar disponibilidade de vacina para mais pessoas

atualizado

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Foto: Aline Massuca/Metrópoles
Campanha de vacinação na quadra do Cacique de Ramos
1 de 1 Campanha de vacinação na quadra do Cacique de Ramos - Foto: Foto: Aline Massuca/Metrópoles

Epicentro da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o Brasil precisa acelerar com urgência o ritmo da vacinação. O alerta de cientistas e pesquisadores — inclusive ao redor do mundo — esbarra na escassez de doses.

Uma das alternativas é distanciar a aplicação entre a primeira e segunda doses, de modo que se respeite o intervalo máximo recomendado pelos fabricantes, mas que possibilite ampliar a disponibilidade de vacina para novos públicos.

O Ministério da Saúde tem optado por dar a milhões de pessoas a segunda dose, enquanto faz milhões de outras esperarem pela primeira.

Os laboratórios programaram as duas doses da vacina bem próximas, com intervalo de apenas três ou quatro semanas, em média. Contudo, períodos maiores não foram testados incialmente.

Agora, isso começa a mudar. Pesquisa do Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo e produtor da Coronavac, mostrar que a eficácia desta vacina pode aumentar de 50,7% para 62,3% quando o intervalo entre as doses é maior, de 21 a 28 dias.

Seria a alternativa para o Brasil acertar o passo e diminuir a espera pelas doses? A convite do Metrópoles, médicos e especialistas em imunização avaliaram se a possibilidade é viável e segura.

Veja a seguir o que cada um pensa.  

– Dalcy Albuquerque, médico da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT)

O infectologista é otimista em relação ao prolongamento do prazo de aplicação. “Pode-se aumentar o número de pessoas vacinas com diversas estratégias. Essa é uma delas. O que é essencial é que exceto a vacina da Janssen todas precisam de duas doses. Isso precisa ser respeitado. Esticar, neste momento, elevaria o número de doses para fazer a primeira aplicação”, afirma.

Contudo, o médico critica a gestão de logística adotada pelo Brasil. “Uma questão é matemática: precisamos ter vacina, número de doses. Se você não tem vacina suficiente não adianta ter a melhor estratégia do mundo. Vemos em alguns estados e municípios o ‘voo da galinha’. A vacinação começa, a procura é grande, mas as doses acabam e a imunização fica suspensa”, critica.

– Joana D’arc Gonçalves, infectologista mestre em medicina tropical pela Universidade de Brasília (UnB)

A médica é temerosa ao avaliar a possibilidade de atrasar a segunda dose da vacina. “O ideal é fazermos as duas doses, com os intervalos recomendados. É o que tem evidência. Teoricamente, atrasar pode levar a escapes imunológicos e falhas vacinais futuras”, explica.

A “aposta no escuro”, para ela, pode agravar ainda mais a situação no país. “Na prática, não sabemos o resultado. Se der certo, será ótimo. Se falhar, alguém vai pagar pela experiência”, alerta.

Apesar do risco, ela diz que a possibilidade tem ganhado força mundo a fora. “Muitos países estão pensando nessa possibilidade, uma vez que o recurso é limitado, no momento. Atrasar a aplicação pode dar tempo para novas produções e ‘imunizar’ mais pessoas . Contudo, o risco é alto”, conclui.

– José David Urbaéz, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF)

O médico acredita que a possibilidade é viável, mas tem que se avaliar a vacina que tem sido usada na campanha. “Para as vacinas produzidas pela Moderna e pela Pfizer, caberia pensar em aumentar esse intervalo e assim vacinar mais pessoas. É uma hipótese com a qual alguns pesquisadores concordam, porém não há dados suficientes ainda”, ressalta.

No Brasil, a Coronavac é a principal vacina usada atualmente na campanha. Por isso, ele faz uma ressalva. “No caso da Coronavac, ficou definido que as duas doses devem ser administradas em quatro semanas para alcançar os melhores níveis de produção de anticorpos, então para além disso não haveria espaço, pois um dose só gera pouca imunidade. No caso da AstraZeneca/Oxford já se chegou a o intervalo de 12 semanas, que da uma boa margem de vacinar mais pessoas enquanto a segunda dose está sendo programada e produzida”, pondera.

Versão oficial

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que o intervalo entre doses deve ser o registrado na bula da vacina.

“Os intervalos são baseados nos estudos apresentados. Esses estudos mostram a eficácia apontada para a vacina se os intervalos forem seguidos corretamente”, destaca o texto.

O Ministério da Saúde não comentou o assunto.

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