Acusado de aumentar impostos, Doria chama Bolsonaro de “desinformado”
Presidente repercutiu em conversa com apoiadores notícia de aumento de impostos que já havia sido desmentida pelo governo paulista
atualizado
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São Paulo e Brasília – A resposta do poder público à crise do coronavírus tem sido, cada vez mais, marcada pela disputa política entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador paulista, João Doria (PSDB).
Acusado de aumentar impostos para os mais pobres, Doria respondeu a críticas de Bolsonaro chamando-o de “desinformado”. Nesta terça-feira (27/10), em conversa com apoiadores, o mandatário da República acusou o governador de taxar produtos da cesta básica em plena pandemia.
“O presidente Jair Bolsonaro segue sendo um desinformado. São Paulo não fez e não fará nenhum aumento de imposto. Fizemos, sim, a reforma administrativa que ele, Bolsonaro, deixou de fazer no plano federal”, disse Doria em nota.
“Se ficasse mais preocupado em governar e menos em atacar adversários, poderia fazer algo de útil para o país. Governe para o Brasil, Bolsonaro, e não para seus interesses políticos e ideológicos!”, diz outro trecho do texto divulgado pela assessoria de comunicação do tucano.
Guerra política
As críticas de Bolsonaro foram feitas durante cerimônia de hasteamento da bandeira no Palácio da Alvorada. A disputa política entre o presidente e o governador subiu de temperatura em torno da produção e distribuição da vacina chinesa Coronavac, voltada para o combate à pandemia de coronavírus.
“Teve estado que aumentou imposto no Brasil. Sabe qual é? São Paulo. São Paulo aumentou barbaramente produtos da cesta básica, lamentavelmente. Tá cobrando imposto até do cara com deficiência que compra um carro. Nós, sim, fizemos o que tinha de fazer, não aumentamos impostos. Agora, um estado, que é o mais importante da economia do Brasil, dá esse péssimo exemplo aumentando impostos”, disse Bolsonaro.
No dia 16 de outubro, o governo de São Paulo divulgou nota afirmando ser mentira a informação de que o estado aumentará impostos sobre itens da cesta básica. Os boatos começaram a circular após a aprovação da Lei nº 17.293/2020, que versa sobre ajustes fiscais e enxugamento da máquina pública. A norma prevê a redução linear de 20% dos benefícios fiscais relacionados ao ICMS.
“Por decisão do governador João Doria, não haverá alteração na alíquota do imposto para os produtos que fazem parte das cestas básicas de alimentos e de remédios”, diz a nota.
Nesta segunda (26/10), foi a vez de Doria criticar Bolsonaro por não dar bons exemplo, pois o presidente havia ido a uma feira no dia anterior sem observar medidas de segurança. “Lamento que o presidente Bolsonaro volte a dar mau exemplo, não usando máscara, promovendo aglomerações, não dando uma palavra sequer de solidariedade às pessoas que perdem sua vida diariamente no Brasil”, discursou o tucano em entrevista no Palácio dos Bandeirantes.
“São 500 pessoas que morrem todos os dias, e não vejo o presidente sequer manifestar solidariedade aos familiares dessas vítimas”, completou o governador.
A vacina da discórdia
A disputa entre os dois chefes de Executivo se acirrou na última semana, após o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ter se comprometido com governadores a distribuir pelo SUS 46 milhões de doses da vacina chinesa, fruto de convênio fechado por Doria. Bolsonaro não gostou e interferiu no tema.
Segundo o titular do Planalto, “houve uma distorção”, por parte de João Doria, no entendimento do governador sobre o protocolo de intenções. “Já mandei cancelar, se ele [Pazuello] assinou. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade, até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado nela, a não ser nós”, disse Bolsonaro no último dia 21 de outubro.