Achados do Nego: influencer do TikTok vira celebridade em bairro do Rio
Wallace Cassiano divulga e exalta Campo Grande, maior bairro carioca, onde foi criado. Ele tem mais de 240 mil seguidores no TikTok
atualizado
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Dois supermercados Guanabara, oito McDonald’s, uma igreja em cada esquina, um monte de sacolões. É assim que Campo Grande, o maior bairro do Rio de Janeiro, é definido pelo influenciador digital Wallace Cassiano, o Nego, de 31 anos, divulgador número 1 do pedaço. Filho de uma costureira e um pedreiro, o rapaz acumula mais de 240 mil seguidores e 4 milhões de curtidas no TikTok, além de quase 40 mil seguidores no Instagram.
O que inicialmente seria um perfil na internet exclusivo de “achados” – recomendações de produtos e lojas acessíveis – se transformou também em uma página de humor, em que o bairro carioca ganhou protagonismo. Localizado na zona oeste da Cidade Maravilhosa, Campo Grande soma cerca de 330 mil habitantes.
Em entrevista ao Metrópoles, Wallace, cria do bairro, contou que começou a fazer vídeos devido ao trabalho. O rapaz atuou por 18 anos em estabelecimentos comerciais da região e usava as redes para divulgar os artigos e atrair a clientela. Até que, um dia, descobriu que a tia de uma amiga se mudaria para Portugal e postou uma gravação em que dizia que Campo Grande é “o melhor lugar do mundo”. A brincadeira rendeu mais de 1 milhão de visualizações.
“Comecei a fazer divulgações de achados da loja em que eu trabalhava. Foi quando soube da mudança dessa colega e postei um vídeo perguntando o que ela ia fazer em Portugal“, brincou. “Coloquei brincando, sem intenção nenhuma. No outro dia, acordei com essa quantidade de pessoas assistindo.”
Wallace explicou que estava cansado de o bairro do subúrbio ser tratado com menosprezo e, de certa forma, ignorado pelas pessoas. Foi por isso que decidiu colocar a região onde cresceu e vive em evidência.
“Não aguentava mais as pessoas me zoando, falando ‘Campo Longe’, que Campo Grande não tinha nada, não tinha evento…. Perdi romances por morar em Campo Grande! Estava cansado disso. Então eu falei assim: ‘Quer saber? Vou falar de Campo Grande’. Eu trabalhei por 18 anos aqui. Fui camelô, vendedor, fiz de tudo”, lembrou.
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O rapaz, então, resolveu se diferenciar e produzir conteúdo de maneira engraçada. “Eu brinco que falo ‘pobrês’, a língua da galera, aproveitando o momento, sabe? Lembro que uma vez gravei um vídeo em que eu anunciava uma camisa de R$ 19 e dizia: ‘Você que tem muito filho, aqui tem camisa que dá para comprar para todos eles!’. Tudo começou a acontecer muito loucamente”, contou.
Apreensões
Com o sucesso crescente, Nego decidiu pedir demissão do emprego para atuar somente nas redes sociais. Até então gerente de um quiosque de óculos em um shopping, percebeu que não dava para trabalhar presencialmente e ser influenciador ao mesmo tempo. As pessoas chegavam a pará-lo para tirar fotos no serviço.
“Eu pedi [demissão] com muito medo, porque como um cara negro e gay vai pedir as contas do serviço para viver de internet, sabe? Eu fui muito criticado, as pessoas diziam que eu estava com uma vida formada e tal. Mas resolvi tentar, e foi a melhor decisão. Costumo falar que a internet ainda não mudou a minha vida, mas eu estou mudando a minha vida com a internet”, declarou.
Nego já fez “publis” de mais de 40 estabelecimentos, desde restaurantes até lojas de móveis e corretoras. Aos finais de semana, por exemplo, divulga hamburguerias e pizzarias locais. Em outros dias, aposta em propagandas da Sono Show, loja de colchões. Por story, ele fatura R$ 130; por reels, R$ 550. Por foto no feed do Instagram, cobra R$ 300. Uma “visita vip” custa R$ 400.
Ele se lembra da primeira vez que foi procurado para firmar uma parceria. “Fiquei maravilhado. No começo, eu me questionava muito. Pensava porque eu, entre milhares de blogueiros fisicamente mais bonitos, estava sendo procurado. Mas hoje, entendo que tenho uma missão, que é falar com o povo”, pontuou.
Bem família
Nego se identifica como um “blogueiro acessível”. O rapaz faz questão de interagir diariamente com seu público, majoritariamente feminino. Outro personagem importante nos vídeos é seu pai, Armando, de 63 anos – a família mora todo no mesmo terreno, o filho em um “puxadinho”.
Pedreiro há muitos anos, ele também responde perguntas dos seguidores do filho e já foi até parado na rua para tirar fotos. “No início, ele não entendia muito bem, mas hoje pergunta se o vídeo ficou bom, se o pessoal está gostando”, disse Wallace.
O influencer quer dar condições melhores de vida às pessoas que sempre o apoiaram. “Tenho o desejo de um futuro melhor, uma vontade incontrolável de dizer aos meus pais que eles parem de trabalhar e possam descansar tranquilos”, falou, emocionado.
Dentre as memórias da infância e da adolescência, está a felicidade, mesmo com as dificuldades. “Às vezes, a gente [Wallace e os dois irmãos] não tinha uma boa roupa, um bom sapato. Ganhamos muitas coisas, sabe? A gente morou num barraco de madeira durante muito tempo até meus pais começarem a levantar a casa. A minha infância não foi sofrida, porque eu fui uma criança feliz, mas foi difícil”, relembrou. “O que eu quero é ajudar meus pais. É o que move hoje meu coração.”
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