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Ação de rachadinha contra deputado evangélico está a 2 dias de prescrever

O julgamento de Silas Câmara, da bancada evangélica, está parado no STF por pedido de vista de André Mendonça e Dias Toffoli

atualizado

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Divulgação/Câmara dos Deputados
silas camara
1 de 1 silas camara - Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados

A dois dias de prescrever o prazo para punibilidade do deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), a ação penal que investiga a prática de rachadinha está parada e fora da pauta de votação do Supremo Tribunal Federal (STF).

O caso tramita na Justiça há mais de 20 anos. Começou a ser julgado pela Corte, mas foi parado por um pedido de vista (mais tempo para analisar o processo) dos ministros André Mendonça e Dias Toffoli, quando já havia cinco votos para a condenação do parlamentar evangélico.

O pedido de vista é um direito de qualquer ministro dentro de um julgamento e não há data pré-determinada para devolução do processo. No entanto, nesse caso, a sugestão do relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, de punir o parlamentar pela prática de peculato, com pena de cinco anos e três meses, em regime semiaberto, fica prejudicada.

O prazo de prescrição da punição é 2 de dezembro. Ou seja, se os magistrados não liberarem a ação para votação em plenário, Silas Câmara não pode mais ser condenado, se essa fosse a sentença escolhida. A multa e a perda de mandato ainda poderiam ocorrer, mas sem implicações penais.

A probabilidade de não haver desfecho para a questão chegou a provocar divergências entre os ministros da Corte, em 10 de novembro. O ministro André Mendonça, primeiro a justificar o pedido de vista, irritou alguns dos colegas no STF.

O ministro Edson Fachin, ao acompanhar o relator em seu voto, chegou a dizer que está comprovado que Silas Câmara agiu ilicitamente para receber parcela considerável da remuneração de seus secretários parlamentares de janeiro de 2000 a dezembro de 2001. Antes do pedido de vista, cinco ministros votaram pela condenação.

Fachin chegou a dizer que o pedido seria “lamentável, mas um direito”. Alexandre de Moraes completou dizendo: “É um direito de cada um de nós o pedido de vista, mas é um dever da Justiça julgar os casos”. O relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, ressaltou: “Ninguém questiona o pedido de vista. Estamos debatendo sobre a racionalidade dele”.

Em seguida, Dias Toffoli acompanhou Mendonça no pedido de vista.

“Ombro amigo”

Ao pedir a suspensão do julgamento e não retornar com ele para votação antes do dia 2 de dezembro, no entanto, André Mendonça, está beneficiando um deputado federal que o segundo indicado por Jair Bolsonaro (PL) considerou “essencial” em sua trajetória até ser nomeado na Corte.

Indicado por Bolsonaro em 13 de julho de 2021 para ocupar a vaga do ministro aposentado Marco Aurélio Mello, Mendonça enfrentou muita resistência a seu nome no Congresso. Ele contou com a ajuda (“essencial”, como ele mesmo diz) da bancada evangélica para viabilizar a sabatina no Senado.

Após vencer essa etapa, Mendonça agradeceu a ajuda durante o culto numa igreja Assembleia de Deus no dia 14 de dezembro de 2021, dois dias antes da posse como ministro no STF. Na ocasião, ele agradeceu o trabalho do parlamentar em sua trajetória até a Corte.

Cenas do culto foram noticiadas pelo site Radar Amazônico em 16 de fevereiro de 2022.

No vídeo, Mendonça diz: “[Quero] agradecer a um homem que vocês enviaram a Brasília, que eu conheci há cerca de três anos e que se tornou essencial durante a minha caminhada. Previamente à indicação, e pós-indicação, até a sabatina”, diz ele na igreja, que tem Câmara como um de seus líderes.

“O pastor e deputado federal foi um ombro amigo que Deus enviou através de vocês, para que eu pudesse chegar onde cheguei. Então, muito obrigado pastor deputado Silas Câmara”, disse Mendonça.

Veja:

 

Mendonça julgava caso de rachadinha

Silas Câmara foi denunciado por, com o auxílio de seu ex-secretário parlamentar, ter supostamente desviado, em proveito próprio, parte dos recursos públicos destinados à contratação de sua assessoria parlamentar, no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2001.

O processo, que se arrasta há pelo menos 20 anos, entre diferentes instâncias judiciais, apura denúncias de ex-funcionários do gabinete do parlamentar de que Silas Câmara pedia a devolução de parte dos salários, o chamado “esquema das rachadinhas”.

Em seu voto, o relator da ação, ministro Luís Roberto Barroso, fixou, além dos anos de prisão, a devolução de R$ 248,2 mil aos cofres públicos.

“Quitação de empréstimos”

Em defesa preliminar, o parlamentar sustentou ao STF a inépcia da denúncia e a ausência de suporte probatório mínimo para instaurar a ação penal. Afirmou, ainda, que os valores depositados em sua conta bancária eram decorrentes de quitação de empréstimos realizados aos seus subordinados.

Silas Câmara pleiteou o reconhecimento de sua inocência e, subsidiariamente, pugnou por sua “absolvição por não existir prova suficiente para a condenação, na forma do inciso VII da referida norma legal”.

Apoio presidencial

Integrante da bancada evangélica, Silas Câmara fez palanque no Amazonas para Jair Bolsonaro. Em suas redes sociais, o candidato tem diversas fotos com o atual mandatário da República e defendeu: “Para nosso país continuar avançando, estou fechado com nosso presidente. Pela Pátria, família e liberdade, declaro voto em Bolsonaro, 22. Por um Brasil transparente e livre de corrupção”, disse em alguns posts no Instagram.

O deputado evangélico foi reeleito. Mesmo com a pendência em análise no STF, teve a candidatura considerada apta, pois a Lei da Ficha Limpa só considera inelegíveis aqueles com condenação em segunda instância.

Pedido de vista conjunto

Depois que o ministro André Mendonça pediu vista, o ministro Dias Toffoli o seguiu. O ministro Alexandre de Moraes e as ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber, porém, preferiram antecipar os votos.

Moraes acompanhou o relator. Segundo ele, as provas não deixam dúvida do desvio. Cármen Lúcia seguiu o raciocínio, assim como Rosa Weber, que também votou pela condenação do parlamentar, uma vez que há dúvidas da conduta em relação à rachadinha.

Outro lado

O Metrópoles procurou o gabinete do ministro André Mendonça e o deputado federal Silas Câmara para falar sobre a devolução do pedido de vista e possível julgamento antes da prescrição. Até a publicação desta reportagem, não houve retorno.

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