Abin: financiadores do 8/1 estão envolvidos com garimpo ilegal na Amazônia
Empresários ligados a atividades do garimpo no Pará estão entre os financiadores dos atos antidemocráticos, segundo relatório enviado à CPMI
atualizado
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Empresários acusados de financiarem os atos golpistas de 8 de janeiro, bem como outras manifestações antidemocráticas no país, são investigados por suposto envolvimento com garimpo ilegal na Floresta Amazônica, segundo relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) enviado ao Congresso Nacional.
A agência cruzou dados do maquinário encontrado em operações contra crimes ambientais no Pará e rastreou uma rede de empresas e proprietários envolvidos nos atos contra o resultado das eleições presidenciais, com vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Conforme o relatório, os empresários Enric Juvenal da Costa Lauriano e Roberto Carlos Katsuda são ativistas pela regularização da atividade garimpeira e “estão diretamente associados à prática de garimpo ilegal”, além de manter vínculos com políticos da região.
Veja o que o Metrópoles já publicou sobre os relatórios da Abin relacionados ao 8 de janeiro:
- Abin alertou para uso de laranjas no fretamento de ônibus no 8/1
- Mesmo após o 8/1, Abin alertou para novas formas na radicalização de grupos extremistas
- Abin: 93% dos caminhões que participaram dos atos golpistas vieram de 4 estados
- Atos golpistas: 12 empresas do agro são donas de ao menos 54 caminhões enviados ao DF
- Polícia investiga suspeita de sabotagem a torres do sistema Eletrobras
- CPI: coronel da PM diz que Abin avisou sobre invasões às 10h do dia 8/1
- Comissão de Inteligência pede fim do sigilo de relatórios da Abin sobre 8/1
Maquinário rastreado
Lauriano é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e participou dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro ao invadir o Congresso Nacional, além de ter sido membro do acampamento dos movimentos extremistas no Quartel General do Exército, em Brasília, ainda segundo a Abin.
Para confirmar a relação dele à atividade criminosa, o documento cita a apreensão de uma escavadeira, em 2022, dentro da Terra Indígena Kayapó, no Pará, que pertenceria a Lauriano.
Articulador ativo do lobby pró-garimpo, o empresário teria ajudado a divulgar canais de arrecadação de dinheiro para o movimento golpista. Ele teria compartilhado os canais de financiamento para os golpistas a partir de Marabá (PA), por meio do Pix de uma empresa de informática.
Articulação política
Oito retroescavadeiras identificadas eram usadas em atividades ilegais dentro das Terras Indígenas Kayapó e Trincheira-Bacajá, no sudeste do Pará. Três desses equipamentos apresentavam como última proprietária a empresa BMC Máquinas, Equipamentos Pesados, Engenharia e Locações, administrada por Felipe Sica Soares Cavalieri, com sede em Itatiaia (RJ). Outras quatro retroescavadeiras eram dessa empresa, mas foram revendidas.
A filial da BMC em Itaituba (PA) é administrada pela filha de Roberto Carlos Katsuda e é o principal ponto logístico para o garimpo na bacia do Rio Tapajós.
De acordo com o texto da agência, Katsuda “financia a estrutura do lobby garimpeiro do vereador Wescley Tomaz”. Os dois integram a comissão pró-garimpo com Fernando Brandão, dono de um escritório de advocacia, e Guilherme Aggens, engenheiro florestal da Geoconsult Pará.
O empresário é classificado, no relatório, como “notório defensor de garimpos em áreas protegidas e visto como um dos maiores articuladores políticos” do tema.
Desde 2018, o grupo realizou diversas reuniões com parlamentares e ministros em Brasília, inclusive com a participação do então presidente Jair Bolsonaro, para liberação do garimpo em Unidades de Conservação e Terras Indígenas.
Devido à influência desses empresários, foi proposto o projeto de lei (PL) nº 191/2020, com objetivo de regulamentar o garimpo em terras indígenas.
Grupos militares no Telegram
A Abin também divulgou informações sobre um influenciador classificado como extremista radical de 24 anos, cuja identidade não foi divulgada, que defendia a resistência civil contra o Estado, no contexto do governo Lula.
O jovem propagava os ideais em listas do Telegram e participava de 119 grupos na rede social. Em resumo, as conversas incitavam ações violentas, depois da invasão às sedes dos Três Poderes, em Brasília, e sugeriam a criação de grupos paramilitares.
Ele costumava propor a criação de células de “autodefesa” por todo o país, com objetivo de defender os interesses da extrema-direita, assim como foi feito na Ucrânia, em 2014.
O que dizem os citados
Procurado pela reportagem, o empresário Enric Lauriano afirmou que vendeu a máquina e “não participou de atos ilegais em momento algum”. Ele alega o envio do contrato de venda e filmagem das câmeras do condomínio onde mora no Pará, registrando a entrada dele no local em 7 e 8 de janeiro.
“Vendi uma máquina em 10/05/2018. Eu estava em Xinguara desde dia 17/12/2022. Não participei de atos ilegais em momento algum. Vou enviar uma cópia do contrato e filmagem eu entrando e saindo do condomínio onde moro Xinguara no dia 07 e dia 08 de janeiro. Estive visitando Brasília do dia 10/12/22 ao dia 13/12/2022. A máquina citada em questão não era minha, eu já tinha vendido ela”, diz o empresário.
Em nota, a defesa de Felipe Cavalieri afirma que “a empresa BMC Máquinas, Equipamentos Pesados, Engenharia e Locações Ltda., bem como seus executivos e sócios, entre eles Felipe Sica Soares Cavalieri, jamais estiveram envolvidos em qualquer ação relacionada aos atos golpistas como também a qualquer prática de garimpo ilegal”.
“Em suas diretrizes de governança corporativa, a BMC, ao vender seus produtos, exige que os clientes declarem, expressamente, que não exercem qualquer atividade ilegal, principalmente, mas não tão somente, atividades de desmatamento de florestas, destruição do meio ambiente, violação de terras indígenas e mineração ilegal”, prossegue o texto.
Veja a nota na íntegra:
Hoje o nome da empresa BMC foi mencionado em matéria sobre a CPI dos Atos Golpistas e a um eventual “envolvimento de empresários do garimpo no financiamento dos atos”. Gostaríamos de esclarecer os seguintes pontos:
1. A empresa BMC Máquinas, Equipamentos Pesados, Engenharia e Locações Ltda., bem como seus executivos e sócios, entre eles Felipe Sica Soares Cavalieri, jamais estiveram envolvidos em qualquer ação relacionada aos atos golpistas como também a qualquer prática de garimpo ilegal.
2. A matéria informa que foram identificados três equipamentos comercializados pela BMC, que eram utilizados em atividades ilegais dentro das áreas indígenas Kayapó e Trincheira-Bacajá, no sudeste do Pará. A BMC já comercializou mais de 25.000 dessas máquinas escavadeiras e não é possível relacionar qualquer envolvimento da empresa em atividades dessa natureza.
3. A matéria cita que a BMC tem filial em Itaituba, no Pará. A BMC não possui filial na cidade de Itaituba, no estado do Pará, e a filha do Sr. Roberto Katsuda, mencionada na matéria, não tem qualquer função e muito menos ocupa cargo na área administrativa da BMC.
4. A filha do Sr. Roberto Katsuda, Sra. Bruna Maria Gravena Katsuda é sócia de outra empresa, com nome semelhante, a BMG Comércio de Máquinas (CNPJ no 26.001.755/0001-02), com a qual a BMC mantinha relações comerciais, de venda de empresa para a empresa, uma
modalidade conhecida como B2B (business to business), visto a BMC ser a única comercializadora desse tipo de equipamento da marca Hyundai. A BMC vende seus equipamentos para outras mais de 100 revendas no Brasil, além de venda direta ao consumidor.
5. A BMC tomou conhecimento de relatório elaborado pelo Greenpeace, que apontava que os equipamentos da marca Hyundai, vendidos pela BMG, estavam sendo utilizados em garimpos ilegais no estado do Pará. Ato contínuo, após acordo firmado entre o Greenpeace e a matriz da Hyundai, na Coreia do Sul, em maio deste ano, a BMC notificou a rescisão do contrato com a BMG.
6. Em suas diretrizes de governança corporativa, a BMC, ao vender seus produtos, exige que os clientes declarem, expressamente, que não exercem qualquer atividade ilegal, principalmente, mas não tão somente, atividades de desmatamento de florestas, destruição do meio ambiente, violação de terras indígenas e mineração ilegal.
Assessoria de Imprensa