A um mês da Copa na Rússia, Brasil ainda busca legado de 2014
Último país a sediar o Mundial enfrenta denúncias de corrupção na maioria das cidades-sede e tem obras de mobilidade que não saíram do papel
atualizado
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A Copa do Mundo de 2018 começa a exatamente um mês. A cerimônia de abertura está marcada para às 9h (horário de Brasília) do dia 14 de junho. A Seleção Brasileira estreia três dias depois, contra a Suíça. Assim como ocorreu em 2014, os russos, organizadores da principal competição de futebol do planeta, também enfrentam problemas para entregar as obras antes de a bola começar a rolar.
O estádio de Samara, por exemplo, será uma das filiais, mas ainda está inacabado. Além disso, os recursos gastos até o momento na arena superam em quase 100 milhões de dólares os valores previstos na elaboração do projeto. Oficialmente, o país europeu afirma ter investido 11,8 bilhões de dólares para promover o torneio, cifra que coloca a Copa da Rússia como a mais cara da história.
Com orçamento estourado, atrasos na entrega das arenas e até denúncias de corrupção que levaram à prisão o vice-governador de São Petersburgo, a Rússia guarda semelhanças com o que ocorreu há quase quatro anos em terras tupiniquins.Apresentadas à época como legado brasileiro, muitas obras sequer saíram do papel. As 12 cidades do país que foram sede da competição — Brasília (DF), Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Salvador (BA), Recife (PE), Natal (RN), Fortaleza (CE), Manaus (AM) e Cuiabá (MT) — têm ao menos alguma intervenção que estava prevista para ser realizada visando o Mundial, mas nem começou ou simplesmente foi abandonada. Veja:
Para o grande público, o evento ocorreu sem contratempos, pois todas as arenas esportivas ficaram prontas e foram usadas durante a competição. O problema é o período pós-Copa. Construídos em cidades com pouca significância para o futebol brasileiro, muitos estádios transformaram-se em elefantes brancos, ou seja, estão praticamente abandonados, gerando custos aos governos. Alguns estados tentam repassar os locais e as despesas à iniciativa privada.
Sem contar as inúmeras denúncias de superfaturamento nas construções dos palcos do torneio, que deixam o Brasil, ainda em 2018, buscando o legado prometido com a realização da Copa do Mundo de 2014. As heranças mais marcantes versam sobre escândalos que levaram à prisão e ao indiciamento de políticos e empresários acusados de corrupção, lavagem de dinheiro, entre outros crimes.
No Rio de Janeiro, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) foi parar na cadeia. Em Brasília, as suspeitas de superfaturamento do Estádio Nacional Mané garrincha transformaram os ex-governadores Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PR), além do ex-vice Tadeu Filippelli (MDB), em réus. Por determinação da Justiça, os três tiveram os bens bloqueados na semana passada, ocasião em que a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Panatenaico.
Os federais apontaram desvios de aproximadamente R$ 208 milhões, cerca de 25% do custo total do BRT Sul, transporte público que interliga Santa Maria, Gama e Park Way ao centro de Brasília. O empreendimento foi orçado, inicialmente, em R$ 587,4 milhões, mas a execução saiu por R$ 704,7 milhões. O BRT foi inaugurado em junho de 2014 para a Copa do Mundo.
Desvio milionário
A reforma do principal estádio da capital deveria custar R$ 696 milhões, mas, após 25 termos aditivos, o valor final alcançou R$ 1,577 bilhão. O Mané Garrincha não é o único estádio com suspeita de superfaturamento, pelo contrário.
Das 12 arenas, 10 tiveram alguma presunção ou comprovação de pagamento de propina. Apenas os estádios Beira-Rio (RS) e Arena da Baixada (PR) — particulares e não vinculados ao poder público — estão fora da lista. Em seu relatório final, o Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que eles podem, sim, ser considerados legados do Mundial.
“Uma vez que essas arenas vêm sendo regularmente utilizadas para sediarem jogos de futebol de competições regionais e nacionais, entende-se que tais empreendimentos se constituem, efetivamente, em um legado deixado pela Copa do Mundo Fifa 2014 para o Brasil”, destacou a Corte, em uma manifestação de 2014. Ainda de acordo com o TCU, os custos finais das obras de todos os estádios brasileiros ficaram em R$ 8,44 bilhões.
Mobilidade urbana
Ainda em 2014, o TCU informou que apenas 17% das obras de mobilidade previstas para o torneio ficaram prontas antes da Copa. Já a Controladoria-Geral da União (CGU) respondeu ao Metrópoles que, no fim de 2015, foram emitidas 27 recomendações pedindo a solução de falhas identificadas nos empreendimentos de mobilidade urbana fiscalizados pelo órgão.
Atualmente, a Controladoria ainda acompanha três obras, entre elas, o VLT de Cuiabá e o corredor rodoferroviário que ligará o aeroporto de São José dos Pinhais (PR) a Curitiba.