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A três dias do Enem, estudantes do país ressaltam dificuldades de se preparar para as provas

Acesso precário à internet e dificuldades nos estudos marcaram o ano dos alunos em 2020. Agora, eles não se sentem preparados para o Enem

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
mulher de máscara
1 de 1 mulher de máscara - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Mesmo com a pressão de movimentos estudantis e com a ação levantada pela Defensoria Pública da União (DPU), a Justiça Federal decidiu, na última terça-feira (12/1), que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não será adiado.

Assim, restam apenas quatro dias para a aplicação da primeira prova, que ocorre no próximo domingo (17/1). Neste ano, 5,78 milhões de pessoas se inscreveram para o exame, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Um estudo do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea), publicado em setembro de 2020, mostra que 6 milhões de pessoas — que estão entre a pré-escola e a pós-graduação — não têm acesso à internet banda larga ou 3G/4G em casa. Desse número, 5,8 milhões são estudantes de escolas públicas.

Com a proximidade do Enem, participantes relatam dificuldades na preparação para as provas, devido à falta de recursos para estudar em casa durante a pandemia de Covid-19.

Dificuldades

Cuidar do irmão caçula, trabalhar em “bicos” para ajudar a família e, quando a internet funciona, assistir às aulas da escola. Essa é a rotina de Gabriel Ribeiro Queiroz, de 19 anos. O estudante vive em uma área rural próxima à região do Itapoã, no Distrito Federal, e está no terceiro ano do ensino médio. Ele sonha em cursar agronomia na Universidade de Brasília (UnB).

Gabriel é aluno de uma escola pública do DF e relata que teve muita dificuldade para acompanhar as aulas e se preparar para o Enem 2020. Quando as atividades remotas começaram, a família só tinha um computador antigo e queimado em casa. O padrasto de Gabriel arrumou a máquina e ele passou a dividi-la com outros dois irmãos.

“Meu irmão estudava à tarde e eu de manhã, a gente ficava fazendo essa reveza no computador. Eu tentava assistir no celular e não conseguia, porque moro em um setor de chácaras, e a internet aqui não é muito boa. A gente acaba perdendo algumas partes importantes das aulas e demora até voltar a internet”, conta.

Outra dificuldade de Gabriel foi a falta de tempo para se dedicar aos estudos. Antes da pandemia, ele trabalhava como educador social voluntário e ajudava a família, que tem sete pessoas, com os gastos do mês. Com o avanço do coronavírus, ele precisou trabalhar em “bicos” para auxiliar o padrasto nas contas de casa, e passou a ter ainda menos tempo para estudar.

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Ele e os irmãos precisaram compartilhar o computador para assistir às aulas em 2020
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Gabriel Ribeiro Queiroz tem 19 anos e não conseguiu se preparar para o Enem

Arquivo Pessoal
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Ele e os irmãos precisaram compartilhar o computador para assistir às aulas em 2020

Arquivo Pessoal

Com o trabalho, o acesso precário à internet e a dificuldade em estudar sozinho em casa, sem a ajuda de um professor, Gabriel admite que não se sente preparado para fazer o Enem e, apesar de ter se inscrito, não sabe se vai fazer a prova.

Tenho dificuldade de aprendizado e estudando no meio on-line ficou muito mais difícil. Acredito que seria ideal se eu tivesse uma aula particular ou uma pessoa que pudesse me dar mais atenção. Na aula on-line os professores têm muitos alunos, têm que conseguir englobar todos, tirar dúvidas de todos. Sempre tem um que não consegue sair tão bem quanto todos. Eu não tenho condições de ter um professor particular, mas era uma necessidade”, afirma.

Covid-19

“Foram vários acontecimentos esse ano que acabaram deixando a gente mais tenso”, relata Isis Carneiro Campello. A jovem tem 18 anos e mora em Timbaúba, no interior de Pernambuco. Ela está no terceiro ano do ensino médio e pretende cursar publicidade na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Apesar de estudar em uma escola particular da região, Isis relata que a instituição de ensino teve poucas ferramentas para ministrar aulas on-line e que, pela baixa qualidade da rede de internet em casa, foi difícil se preparar para as provas do Enem.

“A adaptação tem sido muito difícil, pelo baixo acesso à internet. As aulas travam, o áudio fica mudo. Os professores pedem pra gente mandar um WhatsApp avisando que vamos ficar sem internet. Como eu vou mandar a mensagem se estou sem conexão?”, desabafa a aluna.

Outra preocupação da estudante é a Covid-19. Em 2020, a mãe de Isis contraiu a doença e ficou internada durante 27 dias — nesse período, 20 dias foram na unidade de terapia intensiva (UTI). “Eu tenho muito medo, tenho medo da reinfecção por conta da minha mãe, por conta do meu pai, que é diabético. Mas a gente não tem como escolher”, lamenta.

Segundo o Inep, R$ 64 milhões estão sendo destinados à prevenção contra a Covid-19. Aquisições de equipamentos de proteção individual, álcool em gel e investimento em mais locais de aplicação de prova são algumas das medidas tomadas pelo instituto para garantir a segurança dos participantes.

Adiamento

“Incerteza” é a palavra que define o ano de 2020, na opinião de Rubenilson Cerqueira. Ele é professor e cofundador do Galt Vestibulares, cursinho preparatório para o Enem e para outras provas de ingresso em universidades, destinado a estudantes de baixa renda.

O programa atende estudantes do Distrito Federal, mas, com o distanciamento social e a necessidade de dar aulas a distância, passou a auxiliar alunos de todo o Brasil em 2020. Rubenilson relata que, durante a pandemia, os estudantes tiveram muitas dificuldades para se manter no cursinho. Alguns, inclusive, chegaram a desistir, por ter que trabalhar ou pelo acesso precário à internet.

“No começo da pandemia, eles tinham duas alternativas: ou desistiriam de estudar, ou continuariam se preparando até o momento em que seria decidida a data da prova. Infelizmente a gente perdeu alguns alunos nesse processo, tiveram que dar prioridade para outras coisas, alguns precisaram trabalhar”, conta.

O cofundador do projeto conta que, desde o início da pandemia, o Galt e a rede nacional de cursinhos populares, a Brasil Cursinhos, apoiam o movimento Adia Enem, que pede a alteração das datas das provas. No começo 2020, o exame chegou a ser adiado: estava previsto para os dias 1º e 8 de novembro e foi remarcado para janeiro deste ano.

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No primeiro semestre de 2020, o exame estava previsto para os dias 1º e 8 de novembro
No entanto, as provas foram adiadas para janeiro e fevereiro de 2021
Estudantes pedem o adiamento do Enem, por causa da pandemia da Covid-19
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Estudantes protestam contra a realização da prova do Enem, em 2020

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No primeiro semestre de 2020, o exame estava previsto para os dias 1º e 8 de novembro

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No entanto, as provas foram adiadas para janeiro e fevereiro de 2021

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Estudantes pedem o adiamento do Enem, por causa da pandemia da Covid-19

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Agora, a poucos dias da primeira prova, além da Brasil Cursinhos, outras entidades, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) pedem novamente que o exame seja adiado.

No entanto, as chances de as datas serem alteradas mais uma vez são mínimas, visto que a Justiça Federal afirma que o Inep apresentou soluções suficientes para que as provas sejam realizadas com segurança.

“O Inep vai manter a prova do Enem, justificando que tem um preparo em relação ao espaço e à saúde pública, mas a gente está lidando com uma instituição que trabalha com a educação, e a educação não foi dada durante ano. É muito prejudicial a gente pensar só na Covid-19”, defende Rubenilson.

Exceções

Marcada para os dois próximos domingos, 17 e 24 de janeiro, a prova do Enem poderá ser adiada até os dias 23 e 24 de fevereiro em cidades nas quais as autoridades locais decidirem que não há condições sanitárias de realizá-la.

A notícia surgiu após várias pressões pelo adiamento. A prefeitura de Manaus, por exemplo, não quis liberar escolas municipais para a realização do exame. No fim da noite da quarta-feira (14/1), a Justiça Federal decidiu suspender as provas no Amazonas.

O Inep não divulgou oficialmente as regras para o adiamento e informou essa possibilidade em comunicado enviado ao G1. A reportagem do Metrópoles pediu mais informações para o órgão federal e aguarda uma resposta.

Calendário oficial do Enem 2020
  • Provas impressas: 17 e 24 de janeiro de 2021.
  • Prova digital: 31 de janeiro e 7 de fevereiro de 2021.
  • Reaplicação das provas e Enem para Pessoas Privadas de Liberdade (PPL): 23 e 24 de fevereiro de 2021.
  • Resultados: 29 de março de 2021.

Mais informações na página do Inep.

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