A Semana em fakes: criminosos, polarização política e caráter
Ao contrário do que apontam mensagens, corrente política não define, necessariamente, se alguém é criminoso
atualizado
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Não é de hoje que notícias de crimes horrendos são seguidas por buscas nos perfis das pessoas acusadas para saber qual é a preferência política delas. O que quem publica mensagens (sejam verdadeiras ou falsas) desta natureza se “esquece” é que a corrente política não é fundamental para definir o caráter de uma pessoa.
Na última semana, o Brasil viveu (no mínimo) dois episódios chocantes. Em um deles, um simpatizante do presidente Jair Bolsonaro matou um simpatizante do presidente Lula por discussões que tiveram origem política. Em outro, um médico anestesista foi flagrado estuprando uma mulher durante o procedimento de cesárea.
Os dois casos geraram fake news de viés político e, claro, muitas ofensas mútuas entre militantes de Lula e Bolsonaro (os dois principais expoentes da polarização política no país). Mais do que isso, chamaram atenção para um tipo de fake news: a que coloca toda a “culpa” de uma morte em uma ideologia política.
Antes de prosseguir, temos que fazer uma ponderação. É fato que no caso de Foz do Iguaçu, assim como no caso da facada de Adélio Bispo em Bolsonaro (para não falarmos que isso ocorre apenas de um lado), houve um elemento político que proporcionou o crime: a polarização. Porém, não é possível dizer que o crime se deu apenas porque o autor é “bolsonarista” ou “anti-bolsonarista”.
Vamos fazer um exercício: suponhamos que Adélio Bispo fosse bolsonarista e tivesse a oportunidade de esfaquear Lula? Ele não o faria em um ambiente polarizado como o atual? Agora me responda: se o bolsonarista de Foz do Iguaçu fosse petista e a vítima fosse bolsonarista, o crime deixaria de ter ocorrido? Provavelmente, a resposta para os dois casos é não.
Se a resposta é “não” por que quase todo crime chocante é seguido de fake news que apontam para a corrente política que o acusado do crime segue: há cerca de um mês, choveram mensagens falsas na internet apontando para uma preferência política do procurador que agrediu a chefe (algumas apontavam que ele era bolsonarista. Outras apontavam que ele era petista). Na última semana, mensagens falsas apontavam que o anestesista que estuprou a paciente era bolsonarista (o que também é falso).
Não é em todo o caso que a corrente política que viraliza é falsa (como no caso de Adélio e de Foz do Iguaçu). Nestes casos, a informação errada aparece em outro nível. Ninguém mata ou tenta matar por ser fã de alguém. As pessoas “se matam” por causa do clima de acirramento (este, sim, de responsabilidade, inclusive, dos “ídolos”) que vivemos no momento. Infelizmente, rotular uma ideologia política simplesmente como criminosa não melhora em nada esta situação.
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