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A Semana em Fakes: como o leite condensado virou “estrela” nas redes

Parceiro do Metrópoles analisa a enxurrada de informações falsas que levaram o termo “leite condensado” nos trends da desinformação.

atualizado

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Leite Condensado
1 de 1 Leite Condensado - Foto: iStock

Quando o portal Metrópoles publicou uma matéria falando dos gastos federais com alimentação no ano passado (na realidade, os dados ainda não estão totalmente consolidados), as palavras “sagu” e “chicletes” estavam no título. O termo “leite condensado” aparecia no terceiro parágrafo do texto “misturado” a tantos outros alimentos da lista. É possível que a autora da matéria não esperava que a “iguaria” sairia do papel de coadjuvante de uma matéria para virar “estrela” das fake news da semana.

Por incrível que pareça, a “polêmica dos gastos” não se deu, exatamente, por causa da matéria em questão. Como mostra a imagem abaixo (que aponta para as buscas pelo termo), a história só “estourou” dois dias após a publicação da matéria sobre os gastos do governo. O período coincide com publicações de perfis e sites contrários a Bolsonaro dando protagonismo aos R$ 15 milhões gastos com leite condensado.

E por que leite condensado? Uma das respostas está no ano de 2018. Durante as eleições presidenciais, o então candidato Jair Bolsonaro trocou a tradicional foto do “político devorando um pastel de feira” por uma imagem de um café da manhã “regado” a pão com leite condensado. Foi a partir da imagem do presidente tomando café da manhã que oposicionistas pincelaram a informação da reportagem do Metrópoles. Estava pronta a personalização dos gastos do governo na figura do presidente.

A partir daí, as redes sociais (que adoram um balão de ensaio) passaram a reverberar informações distorcidas e, em alguns casos, falsas. A “esquerda” brasileira, que tanto reclama do “gabinete do ódio” da direita, se mostrou eficaz em despejar toda a bile com uma série de informações não comprovadas contra o presidente da República.

A primeira e mais elementar informação falsa que surgiu na internet é a que coloca o gasto de R$ 15 milhões com leite condensado na “conta do presidente” (em alguns casos, até no cartão corporativo). Essa informação foi desmentida pelo Boatos.org durante semana.

Mas houve outras que não tivemos tempo ou braços de checar. Durante a “onda de leite condensado”, circulou a informação de que uma lata havia custado R$ 162 em uma das compras do Exército. Dias depois, a empresa explicou que se tratava do valor de uma caixa com 27 unidades.

Também circularam teses de que os gastos de R$ 15 milhões em 2020 (ou pelo menos na parcial de 2020 que temos acesso) seriam “excessivos”. Não é possível cravar isso. Ao contrário. Dados do Painel de Compras mostram que os gastos de 2019 foram de R$ 26 milhões e de 2018 (período de Michel Temer na Presidência) foram de R$ 37 milhões (R$ 31 milhões com o Ministério da Defesa). Não é possível ter dados anteriores a 2018 na ferramenta, mas o fato é que os gastos (possivelmente por conta da pandemia) foram até menores no passado.

É claro que a correligionários do presidente (e o próprio) não iriam perder a oportunidade de entrar no debate (até porque as informações erradas os deixaram com munição para ataques) e, em alguns casos, também espalhar informações falsas. Entre teses falsas de que a Nestlè havia decidido doar leite condensado por “solidariedade ao Exército” e ataques (até com palavrões) contra a imprensa, a história do leite condensado continuou sendo cozinhada a “banho maria” durante toda semana.

Enquanto isso, no mundo real, mais de 1.000 pessoas morrem por dia no Brasil e alguns hospitais continuam sem oxigênio para salvar pacientes.

Trends da semana

As palavras mais buscadas no Boatos.org nos últimos sete dias foram, em ordem decrescente, Leite condensado, Novartis, Ivermectina, leite condensado, Whatsapp, Bolsonaro, Mourão, Cloroquina, WhatsApp e Xarope de câncer.

Os desmentidos mais lidos do Boatos.org nos últimos 7 dias foram, em ordem decrescente, o desmentido sobre os gastos de Bolsonaro com leite condensado, da história falsa que apontava que um pastor havia morrido após tomar a vacina contra Covid-19, da história falsa que apontava que o governo da Irlanda havia avisado sobre vacinas, o desmentido sobre o envio de tropas da França para “invadir a Amazônia” e o desmentido de uma corrente que apontava que as pessoas estariam livres dos novos termos de uso do WhatsApp se compartilhassem uma mensagem que começava com “Eu não Autorizo”,

O desmentido da história dos gastos de Bolsonaro com leite condensado no cartão corporativo também foi o conteúdo de maior engajamento no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube. Apenas no Telegram, o resultado foi diferente. No caso, o conteúdo mais visto foi o “A Semana em Fakes” da semana passada (que analisava fake news sobre a cloroquina).

Edgard Matsuki é editor do site Boatos.org, site que já desmentiu mais de 6 mil notícias falsas

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