A saga de pai e filho brasileiros para fugirem da guerra da Ucrânia
Fisioterapeuta Luciano Rosa escapou com grupo de 40 brasileiros de Kiev. Ele e o filho viajaram à Moldávia e pegaram voo na Romênia
atualizado
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São Paulo – O fisioterapeuta Luciano Moreira Rosa, 46 anos, e seu filho, Gustavo, 18, precisaram enfrentar mais de 18 horas de trem e percorrer centenas de quilômetros por terra, por três países, para escapar da guerra da Ucrânia, partindo em voo da Romênia para São Paulo, com escala em Paris, na França.
A dupla chegou na manhã desta terça-feira (1°/3) ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo.
“A gente está aliviado por ter saído, mas ao mesmo tempo angustiado pelas pessoas que estão lá. Temos amigos ucranianos. A gente não sabe o que vai acontecer com eles”, afirmou o fisioterapeuta do time Shakhtar Donetsk, em entrevista ao Metrópoles.
Luciano e o filho se abrigaram, com outros esportistas brasileiros do Shakhtar e suas famílias, em um hotel do clube em Kiev, onde havia um bunker que poderia oferecer proteção contra bombardeios.
O filho do fisioterapeuta, Gustavo, havia chegado três dias antes da invasão da Rússia. Ele iria tentar a sorte no time Sub-19 da equipe do Shakhtar.
A situação no hotel logo se provou insustentável, conforme o exército russo cercava Kiev e aumentavam os riscos para quem permanecesse na capital ucraniana.
“A gente escutava bomba o tempo todo quando saía do bunker para ir ao banheiro. Ao mesmo tempo, procurávamos informações na internet e noticiavam que os ataques estavam chegando a Kiev”, afirmou.
Grupo
Com cerca de 40 pessoas, entre jogadores, auxiliares e familiares, o grupo de brasileiros do Shakhtar deixou o hotel do time no último sábado (26/2) para pegar um trem e fugir do país. Cruzaram a fronteira da Ucrânia com a Moldávia e chegaram na madrugada de domingo (27/2) na Romênia, onde conseguiram dormir por algumas horas antes de decolar para o Brasil.
“Tinha tensão no caminho, porque foi um percurso à noite. Pediram pra gente desligar o GPS do celular, porque tropas poderiam ver e ficaria perigoso”, afirmou.
O fisioterapeuta, e outros atletas do clube, se queixaram da falta de apoio da Embaixada do Brasil na Ucrânia.
“O suporte da Embaixada do Brasil, acho difícil criticar, foi avisar quando tinha um trem. Portugueses tiveram esse suporte da embaixada deles. Faltaram planos (do governo brasileiro)”, afirmou o fisioterapeuta.
O único contato do grupo de brasileiros com a embaixada foi um canal no Telegram, onde recebiam basicamente informações sobre os horários de partida de trens.
“Não tinha plano nenhum para a gente conseguir sair de lá e isso estava nos deixando muito tensos. Uma hora falavam que tinha trem em determinado horário, mas falavam também que tinha de ficar em casa. Não garantiam segurança de nada”, afirmou Gustavo Machado, filho de Luciano.
O fisioterapeuta abandonou uma carreira de 10 anos no Corinthians para trabalhar no Shakhtar no ano passado. O filho tentava assinar contrato com o time ucraniano e estrear no futebol profissional. Os sonhos na Europa ficaram para trás, mas a chegada ao Brasil trouxe “total alívio”, com a família à espera no aeroporto.
“Minha preocupação era com meu filho que ficou calmo o tempo todo. Ele me ajudou muito a ter força. Agora é uma sensação de total alívio”, relatou.