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A farinata, o Allimento e os erros no combate à fome em São Paulo

A Agência Lupa checou se informações sobre a farinata divulgadas pela gestão Doria são verdadeiras. Veja o resultado.

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1 de 1 WhatsApp Image 2017-10-17 at 13.05.53 - Foto: Michael Melo / Metrópoles

No intuito de combater a fome em São Paulo, no último dia 8 de outubro, o prefeito João Doria sancionou o projeto de lei que instituiu a Política Municipal de Erradicação da Fome e de Promoção da Função Social dos Alimentos, abrindo um polêmico debate sobre o uso de farinata em merendas escolares e nas refeições destinadas a pessoas carentes. A Lupa monitorou e checou algumas frases em torno do assunto. Confira.

EFEITO ESTUFAiStock
“O descarte de alimentos é o maior emissor de gases de efeito estufa do planeta”
Rosana Perrotti, fundadora da Plataforma Sinergia, produtora da farinata, em entrevista coletiva concedida no dia 18 de outubro.
FALSO

Estudo divulgado em 2014 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, organização ligada às Nações Unidas e internacionalmente conhecida pela sigla IPCC, mostra que a principal fonte de gases de efeito estufa é a queima de carvão, gás e petróleo para produção de eletricidade e calefação.

Essa atividade respondeu por 25% do total das emissões medidas no estudo e ficou em primeiro lugar na lista. Em segundo, respondendo por 24% da produção de gases poluentes emitidos em escala global, ficou a agricultura, com o cultivo de plantações e o desmatamento. O IPCC estima que apenas 20% das emissões feitas pela agricultura sejam decorrentes da retenção de carbono e decomposição de matéria orgânica no solo, como é o caso do descarte de alimentos e outros tipos de lixo.

Se observado o levantamento feito por tipo de gás de efeito estufa emitido – e não mais a atividade emissora, o dióxido de carbono aparece em primeiro lugar, com 76% do total dos gases. Ele é emitido principalmente pela queima de combustíveis, processos industriais, desmatamento e preparação de pasto para agricultura. A fermentação produzida pelo descarte de lixo solta, principalmente, o gás metano, que responde por apenas 16% dos gases de efeito estufa.

Procurada, a fundadora da Plataforma Sinergia não retornou.

Teste da ONUiStock


“Esta farinata [produzida pela Plataforma Sinergia] já tem um teste que foi elaborado e, como eu disse, já foi chancelado pela agência das Nações Unidas de combate à fome, que é a FAO”

Eloísa Arruda, secretária municipal de Direitos Humanos, em entrevista ao portal G1, no dia 16 de outubro.
FALSO

A Lupa procurou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), solicitando a lista de testes a que a farinata produzida pela Plataforma Sinergia havia sido submetida. Por nota oficial, foi informada, no entanto, de que a FAO não fez qualquer avaliação sobre esse produto e que não possui “nenhuma parceria” direta com a Plataforma Sinergia. Esta empresa faz parte da iniciativa “Save Food”, que reúne projetos de combate à fome e contra o desperdício de alimentos no mundo. A FAO apoia a “Save Food”, mas destaca que esse grupo não integra a ONU.

Procurada, a Prefeitura de São Paulo disse que “as informações acerca do reconhecimento da farinata em âmbito internacional estão em documentos apresentados pelo Projeto Sinergia, que pode explicar suas certificações detalhadamente”. A prefeitura, porém, não apresentou esses documentos, e a Sinergia não retornou os contatos da Lupa.

SuplementoDivulgação / Prefeitura de São Paulo


“[A farinata] Será utilizada sempre como complemento alimentar. Ela não é alimentação em si, mas suplementar”

Prefeito de São Paulo, João Doria, em entrevista à GloboNews no dia 18 de outubro.
CONTRADITÓRIO

No dia 8 de outubro, a Prefeitura de São Paulo sancionou o projeto de lei que instituiu a Política Municipal de Erradicação da Fome e de Promoção da Função Social dos Alimentos. Nesta ocasião, também lançou o programa Alimento Para Todos e apresentou um biscoito chamado “Allimento” feito à base da farinata produzida pela Plataforma Sinergia. Naquele dia, na primeira vez em que se referiu ao produto, o prefeito João Doria classificou a farinata como “um alimento completo: em proteínas, vitaminas e sais minerais”, algo “abençoado” e que parecia um “biscoitinho de polvilho”.

Quatro dias depois, no dia 12, em viagem à Itália, o prefeito de São Paulo comparou o alimento à comida de astronauta, reforçando sua capacidade nutricional. No dia 18 de outubro, o alimento completo virou um suplemento. “[A farinata] Será utilizada sempre como complemento alimentar. Ela não é alimentação em si, mas suplementar”, disse o prefeito novamente viajando, desta vez em Goiânia.

Procurada, a Prefeitura de São Paulo disse, em nota, que “a eventual distribuição do composto alimentar do programa Alimento para todos, no formato de farinata, será de atribuição, principalmente, dos serviços municipais de assistência social”. A prefeitura, no entanto, não explicou as mudanças de posição a que esta checagem se refere.

MerendaiStock


“[A complementação da merenda com farinata terá] Início neste mês de outubro”

Prefeito de São Paulo, João Doria, em coletiva concedida no dia 18 de outubro.
CONTRADITÓRIO

No dia seguinte, no entanto, Doria voltou atrás. Em um evento realizado em Goiânia (GO), afirmou que não estava decidido quanto ao uso do produto na merenda escolar. “Não está decidido se será na merenda. Na alimentação para pessoas em situação de rua, sim”, afirmou.

Ainda vale ressaltar que a lei que institui a Política Municipal de Erradicação da Fome e de Promoção da Função Social dos Alimentos não faz menção à suplementação para merendas escolares.

Procurada, a Prefeitura de São Paulo disse, em nota, que “a eventual distribuição do composto alimentar do programa Alimento para todos, no formato de farinata, será de atribuição, principalmente, dos serviços municipais de assistência social”. A prefeitura, porém, não explicou as mudanças de posição pontuadas nesta checagem.

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