À espera de vacina da Covid-19, Brasil sofre para oferecer as já existentes
Cobertura vacinal da população caiu em 13 de 21 das imunizações oferecidas pelo governo – 60% do total. No DF, a queda ocorreu em 14 delas
atualizado
Compartilhar notícia
O Brasil espera pela vacina contra a Covid-19 para conter a doença e amenizar seus duríssimos efeitos. Entretanto, o país enfrenta dificuldades para ofertar as existentes. A cobertura vacinal (o índice que revela a parcela de uma determinada população que foi imunizada) caiu entre 2018 e 2019 em 13 das 21 imunizações oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
No Distrito Federal, apesar de a cobertura ser maior do que a média do Brasil, houve queda em 14 das 21 vacinas. As informações são do Ministério da Saúde. Eles foram obtidos e analisados pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles.
Um exemplo é a BCG, vacina que imuniza principalmente recém-nascidos contra a tuberculose – e normalmente deixa uma marca no braço. De 2000 a 2015, a cobertura era superior a 100%, ou seja, a dose única era oferecida para além da população-alvo. Desde 2016, o número é menor do que esse patamar e, em 2019, chegou ao ponto mais baixo, de 85,09%.
A queda foi maior ainda na taxa de cobertura da vacina contra a hepatite B, doença viral que atinge o fígado. O SUS prevê que ela seja oferecida em quatro doses aplicadas até os 6 meses de vida da criança. Até 2016, o número flutuava em torno da taxa de 100%, às vezes um pouco mais, outras levemente menos. Em 2017, ela foi para 84,4%. Dois anos depois, em 2019, foi de 69,7%.
O gráfico a seguir mostra como evoluiu a taxa de cobertura para cada vacina desde 2014. É possível selecionar até cinco imunizações para compará-las.
No Distrito Federal, os números são, no geral, superiores aos do Brasil, mas também apresentam tendência de queda. A vacina contra a poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, teve uma taxa de cobertura de 61,9% em 2019. Em 2018, ela tinha sido de 76,8%. O gráfico a seguir mostra a evolução para cada imunização.
Para o Ministério da Saúde, o programa brasileiro de imunização é vítima do próprio sucesso. “A erradicação ou expressiva diminuição de registros de algumas doenças – como poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita, tétano neonatal, coqueluche e tétano acidental – causaram uma falsa sensação de que não há mais necessidade de se vacinar, porque a população mais jovem não conhece o risco”, disse, em nota, a pasta.
A coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Ana Karolina Marinho, aponta outras razões além dessa para a queda nas coberturas vacinais. Elas são problemas de comunicação entre os serviços de saúde e a população e mudanças socioeconômicas, como a entrada da mulher no mercado de trabalho.
“Os postos de saúde precisam oferecer horários diferenciados para atender crianças porque em muitos lares os dois pais trabalham. Uma estratégia seria levar a vacinação para outros lugares, como escolas”, continuou. Uma outra causa, ainda incipiente no Brasil, são os movimentos antivacinas que, influenciados por notícias falsas e pseudociência, acreditam que a imunização causa mais mal do que bem.