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Dono da Davati diz ter sido enganado por intermediários brasileiros

A empresa Davati Medical Supply entrou no olho do furacão da compra de vacinas através do policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira

atualizado

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Heman Cardenas – Davati
1 de 1 Heman Cardenas – Davati - Foto: Reprodução

O empresário Herman Cardenas, dono da empresa norte-americana Davati Medical Supply, envolvida na polêmica negociação para a “venda” de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca ao governo do Brasil, afirmou, neste domingo (1º/8), que não tinha conhecimento das articulações de “representantes” brasileiros da empresa. Em reportagem ao programa Fantástico, da TV Globo, Cardenas se disse “enganado” e garantiu que, de hoje em diante, buscará conhecer melhor seus intermediários.

O cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira se apresenta como representante e Cristiano Alberto Hossri Carvalho, como procurador da Davati Medical Supply no Brasil.

Mas Cardenas assegurou que jamais desconfiou que eles estivessem envolvidos em negociações irregulares. “Quando se vende a vacina da gripe, por exemplo, é comum termos três ou quatro intermediários. Uma pessoa apresenta para outra, que apresenta para outra, que apresenta para outra… Então, não me pareceu estranho”, disse.

Entre ações que levaram o empresário a desconfiar de que estaria sendo enganado pelos parceiros brasileiros, há uma foto que teria sido enviada a ele por Cristiano Carvalho, em que o brasileiro aparece em evento ao lado do presidente Jair Bolsonaro. A foto é uma montagem e a defesa de Carvalho alega que trata-se de uma “brincadeira de WhatsApp, uma situação de descontração”.

Veja:

“Cristiano demonstrava estar numa reunião com o presidente do Brasil. Hoje a gente sabe que a foto deve ser fake. Eu mal posso acreditar que alguém usaria uma imagem de 2019 para dizer que estava presente ali, como se fosse em 2021”, disse Herman Cardenas.

O dono da Davati afirmou que foi enganado “por confiança e querer seguir em frente”. “Mas de agora em diante, vamos querer conhecer melhor nossos parceiros antes de fazer negócios com eles”.

Propina de US$ 1 por dose

A empresa Davati Medical Supply entrou no olho do furacão da compra de vacinas através do policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que dizia ser representante da empresa no Brasil. Ele afirmou que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose em troca de fechar contrato com o Ministério da Saúde.

A proposta teria partido do diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, durante um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, região central da capital federal, no dia 25 de fevereiro.

A empresa Davati teria buscado a pasta para negociar 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca com uma proposta feita de US$ 3,5 por cada (depois disso passou a US$ 15,5). “O caminho do que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias foi uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa”, disse Dominguetti. Dias foi oficialmente exonerado do seu cargo no Ministério da Saúde no dia 30 de junho.

Mas Cardenas disse, na entrevista, que não pode dizer de onde conseguiria 400 milhões de doses da AstraZeneca. “A empresa detentora de uma alocação de vacinas [uma espécie de reserva] não nos passou o contrato que tinha com o fabricante. Então não sei como conseguiram essa alocação. Mas eles mostraram documentos e comunicações e nos convenceram que tinham a alocação”, ressaltou.

Investigação no Canadá

A Davati é investigada no Canadá por negociar doses da vacina contra o novo coronavírus em paralelo ao governo local e sem o aval, até mesmo, da própria AstraZeneca.

Em 10 de março deste ano, o ministro de Serviços Indígenas do Canadá, Marc Miller, informou, de acordo com registros do site Saskatoon Star Phoenix, estar em contato com a polícia sobre o acordo entre grupos indígenas e a empresa privada, que ele acredita não ser legítima.

As suspeitas sobre a legitimidade das negociações feitas pela Davati ganharam força após a AstraZeneca informar que “se uma organização está oferecendo o fornecimento privado de nossa vacina, provavelmente não é uma oferta legítima”.

Ao Metrópoles, a farmacêutica também confirmou não usar intermediários para tratar de vacinas contra a Covid-19. “Atualmente a AstraZeneca não disponibiliza a vacina por meio do mercado privado ou trabalha com qualquer intermediário no Brasil. Todos os convênios são realizados diretamente via Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e governo federal”, assinalou, em nota.

Sobre as investigações no Canadá, Cardenas assegurou que o caso foi encerrado.

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