71 cidades de GO têm risco de falta de oxigênio; quatro são do Entorno
Alta demanda por oxigênio hospitalar coloca várias cidades diante do risco de enfrentamento do que viveu Manaus (AM) no início deste ano
atualizado
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Goiânia – Em levantamento feito pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), gestores de 71 municípios goianos, sendo quatro do Entorno do Distrito Federal, informaram risco de falta de abastecimento de oxigênio medicinal no período próximo de 10 dias.
A pesquisa foi feita via preenchimento de questionários. Ao todo, 108 dos 246 municípios goianos responderam as perguntas. Ou seja, as 71 cidades que disseram existir o risco de desabastecimento equivalem a 65,7% daqueles que enviaram os dados a tempo.
As quatro cidades do Entorno do Distrito Federal que fazem parte desse grupo são: Luziânia, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso de Goiás. Elas estão na parte sul do Entorno, justamente a área de Goiás que têm hoje a maior fila de espera por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria da Covid-19.
As respostas foram enviadas no final de março, que foi o pior mês da pandemia no Brasil, até então. Com o aumento acelerado de novos casos, assim como da gravidade da doença, a demanda por uso de oxigênio hospitalar cresceu exponencialmente em muitos locais.
O medo de vivenciar o que Manaus enfrentou em janeiro deste ano, com a crise sanitária ocasionada pelo desabastecimento de oxigênio no Amazonas, passou a fazer parte do dia a dia de vários locais do Brasil. Ao todo, 2.411 cidades brasileiras responderam o levantamento do Conasems e 1.068 relataram o risco de falta do produto.
Luziânia
Em Luziânia, no dia em que as respostas do município foram cadastradas (23/3), havia apenas 300 litros de oxigênio estocados para uma demanda mensal de 38,1 mil litros. A cidade é referência regional, onde fica o Hospital de Campanha com leitos de UTI e enfermaria da Covid-19.
A demanda por atendimento obrigou o aumento de leitos na cidade. Hoje, são 40 unidades de UTI para atender casos de Covid. Mesmo assim, eles seguem insuficientes e o hospital público do município está com 100% de ocupação já há algumas semanas.
“Com a falta de leitos, as duas UPAs estão ocupadas por pacientes com Covid-19 e o consumo de oxigênio cresceu exponencialmente. Nesse contexto, a fornecedora atual não tem entregado com regularidade a quantidade (de oxigênio) solicitada”, informou o representante de Luziânia, no questionário da pesquisa.
Novo Gama e Santo Antônio do Descoberto
Em Novo Gama, o gestor informou um estoque de oxigênio no dia 22 de março de apenas 70 litros, diante de uma demanda mensal de 11.340 litros. “Neste momento, estamos com muita dificuldade em encontrar fornecedor que atenda as nossas necessidades”, respondeu.
O Entorno do DF vive situação peculiar. Um único fornecedor estaria atendendo os municípios da região. Com a alta demanda, principalmente diante de um quadro que não cessa, com circulação e transmissão comunitária de variantes da Covid-19, esse fornecedor, segundo os municípios, já não estaria fornecendo regularmente, como antes.
Em Santo Antônio do Descoberto, conforme as respostas enviadas pelo município para a pesquisa do Conasems, a demanda por oxigênio hospitalar triplicou nas últimas semanas de março. No dia 22, havia apenas 300 litros em estoque para uma demanda mensal de 20 mil litros.
O índice de aumento do consumo na cidade equivale ao que foi verificado pela White Martins em alguns locais do País. Em comunicado, a empresa, que é uma das principais fornecedoras de oxigênio do Brasil, informou aumento médio da demanda em março de 93% em relação a dezembro, 119% em relação ao mesmo período em 2020, chegando a 300% em determinados locais.
Valparaíso: líder da fila de espera por leitos da Covid-19 em Goiás
Colada no Distrito Federal, Valparaíso de Goiás, além de ser uma das cidades com risco de desabastecimento de oxigênio por causa do acirramento da pandemia, está entre as líderes da fila de espera por leitos da Covid-19, no estado, já há algumas semanas.
Na manhã desta quinta-feira (8/4), conforme os dados do Complexo Regulador da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SESGO), a cidade era a primeira do ranking, com 29 pessoas aguardando por leitos, sendo nove de UTI e 20 de enfermaria. Valparaíso está na frente, inclusive, de Goiânia, que tinha 19 na fila de espera, sendo 14 adultos e cinco crianças.
A alta demanda tem sido uma constante na região do Entorno, que sofre com o avanço da contaminação – chegou a ter o maior índice de contágio do estado – e a incapacidade de atendimento da rede hospitalar disponível. O Hospital de Campanha instalado em Águas Lindas de Goiás foi desativado em outubro do ano passado pelo governo federal.
Águas Lindas, inclusive, está com a maior fila de pacientes graves da Covid-19 do Estado, aguardando, especificamente, por leitos de UTI. Nesta quinta-feira, havia 15 pessoas na espera. Outras sete esperavam por um leito de enfermaria.