7 de Setembro: após chamado de Bolsonaro, apoiadores montam caravanas
Postagens organizam grupos para vir a Brasília, mas também pedem intervenção militar e trazem informações falsas sobre o sistema eleitoral
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou a convenção de seu partido, no último domingo (24/7), para convocar os apoiadores a irem às ruas “pela última vez” em 7 de Setembro. E a militância já está respondendo e organizando caravanas para Brasília no feriado da Independência.
Nas redes sociais, como Twitter e Facebok, e em aplicativos de envio de mensagens, como WhatsApp e Telegram, grupos estão sendo formados com esse objetivo. Porém, parte das postagens traz ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e pedidos por intervenção militar.
Os apoiadores de Bolsonaro querem casar o ato em apoio ao presidente ao desfile militar que voltará a ser realizado após hiato de dois anos causado pela pandemia da Covid-19. Tanto que a manifestação na capital federal está sendo convocada para as 10h na Esplanada dos Ministérios, mesma hora e local do desfile de tanques e tropas.
Em parte das mensagens encontradas pela reportagem, os militantes convocam apoiadores do presidente a ir a Brasília e organizam caravanas com esse objetivo.
Para viajar de ônibus fretado da capital do Tocantins até Brasília no feriado por exemplo, um militante da região está cobrando R$ 330 por pessoa, com direito a uma camiseta alusiva ao evento.
Veja exemplos:
Junto a esse tipo de organização, há também os pedidos de intervenção e as acusações sem provas à segurança das urnas eletrônicas.
“Dia 7 de Setembro temos uma missão: ir em milhões para as ruas para legitimar o presidente, acionar as Forças Armadas para destituir os ministros do STF. Vamos eliminar os comunistas do STF. Seja um soldado nessa luta”, diz o texto em amarelo sobre um fundo verde de um vídeo que está sendo pesadamente compartilhado em grupos bolsonaristas nos aplicativos de mensagens.
Veja imagens do arquivo:
Novo ano, velhos personagens
Entre as pessoas que estão convocando, há militantes que apareceram no noticiário na mesma época no ano passado, quando militantes radicalizados investiram contra as barreiras que isolavam o prédio do STF, em Brasília.
Um desses personagens é o agricultor Antônio Galvan, que presidia a Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja) em Mato Grosso e foi visitado pela Polícia Federal, por ordem do STF, sob a suspeita de estar financiando manifestantes que pretendiam atentar contra o Poder Judiciário.
Atualmente afastado da presidência da entidade, Galvan intensificou sua militância bolsonarista e é pré-candidato ao Senado pelo PTB em Mato Grosso.
Em vídeo publicado em suas redes, Galvan lembra da mobilização que ajudou a fazer ano passado e re-convoca seus seguidores a viajarem a Brasília. “Vamos atender o chamado do nosso presidente”, diz ele. Veja imagens da postagem:
Em grupos bolsonaristas nos aplicativos de mensagens que são monitorados pela reportagem, as citações ao rompimento institucional e acusações falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro são compartilhadas com naturalidade. Veja o teor das publicações:
O clima de incentivo a uma intervenção aparece em postagens de militantes com grande poder de mobilização, como a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que, na última segunda-feira (25/7), fez postagem divulgando uma interpretação enviesada da Constituição, segundo a qual o Artigo 142 da Carta daria às Forças Armadas um poder de tutela sobre os outros Poderes. Veja:
“(…) Em seu eloquente pronunciamento, disse que as Forças Armadas podem atuar como poder moderador. Afirmou que elas têm 3 funções: defender a pátria, garantir as instituições e, por solicitação de qualquer dos 3 poderes, garantir a lei e a ordem (…)”https://t.co/3pyfVq4qZ5 pic.twitter.com/q1BnlgAlTi
— Carla Zambelli (@CarlaZambelli38) July 26, 2022
Repetida por militantes bolsonaristas radicais, a tese de que as Forças Armadas seriam um poder moderador já foi rechaçada pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, que costuma ter uma atuação alinhada ao presidente da República. “A Constituição não admite intervenção militar”, declarou Aras, em 2020.
Medo de reação do STF reprime militantes
A prisão, por ordem do STF e a pedido da PF e da PGR, do militante bolsonarista Ivan Rejane Fonte Boa Pinto, de 46 anos, conhecido como Ivan Papo Reto, está repercutindo muito nas redes de apoio ao presidente.
Após ameaçar políticos de esquerda, como o ex-presidente Lula (PT), e dizer que iria pendurar ministros do Supremo ” de cabeça para baixo” em vídeos divulgados na internet, o homem teve a prisão temporária decretada e prorrogada.
“Se Jair Bolsonaro garantir que não serei preso e nem terei que me exilar nos EUA, eu organizo uma caravana para Brasília no 7 de Setembro”, escreveu um militante no Twitter na terça-feira (26/7). “Vai que o STF rastreie cada um de nós e passe a nos perseguir”, complementou ele.