25% da vegetação nativa que sobrou no Brasil pode estar degradada
Área é maior que todo o estado do Pará. Mata Atlântica é o bioma com maior porcentual que teve as características naturais atingidas
atualizado
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Uma área maior do que a do estado do Pará pode estar com a vegetação remanescente degradada. Um levantamento da rede MapBiomas analisou imagens de satélite de 1986 a 2021 e estima que entre 60,5 milhões de hectares e 135 milhões de hectares apresentam prejuízo em relação às características originais. A área corresponde de 11% a 25% do que sobrou das formações naturais de vegetação brasileira.
Os 25% são de áreas nativas remanescentes, ou seja, aquelas que ainda não sofreram ação do homem para uso da agricultura e pastagem, por exemplo. Estas superfícies com interferência direta do humana ainda serão objeto de análise futuramente. A precisão, conforme o MapBiomas, é de 90%.
Os números da rede MapBiomas fazem parte de uma plataforma lançada nesta sexta-feira (5/7), que mapeou os 64% do Brasil que ainda são cobertos por alguma vegetação. Conforme a organização, a ferramenta, em versão beta, permite manipular cenários sobre o impacto de diversos fatores associados à degradação.
Foram analisados fatores como o isolamento de fragmentos, áreas de borda (aquelas entre a vegetação nativa e as de uso pelo homem), frequência em que a área é submetida ao fogo, tempo desde a última vez que queimou e idade da vegetação secundária.
A classificação das áreas é feita com auxílio de inteligência artificial. “Todos os dados de degradação do MapBiomas são produzidos a partir dos mapas de uso e cobertura da terra e dos mapeamentos de área queimada do MapBiomas, ambos produzidos com uso de aprendizagem de máquina e inteligência artificial”, explica o pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e da equipe Cerrado do MapBiomas, Dhemerson Conciani.
O assunto tem ligação direta com o compromisso brasileiro assumido no Acordo de Paris, em 2015. O Brasil prometeu restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas. O termo foi assinado por 195 países.
“A área de borda é o vetor mais expressivo para todos os biomas, com exceção de algumas regiões do Pantanal e da Amazônia onde o fogo tem um papel preponderante na degradação, especialmente em florestas”, afirma Conciani.
Biomas
A Mata Atlântica é o bioma que tem proporcionalmente a maior área degradada, calculada de 36% a 73% (24 milhões de hectares). Já o Cerrado é o que tem em números absolutos a maior parte da vegetação com as características naturais alteradas. O cálculo considera entre 18,3 milhões de hectares e 43 milhões de hectares, proporcionalmente correspondendo de 19,2% a 45,3%, respectivamente.
“O Cerrado é um bioma com forte presença da agropecuária, já bastante fragmentado, de modo que as áreas de borda são importantes vetores na disseminação de espécies exóticas invasoras, como por exemplo gramíneas africanas. Essas gramíneas são uma das principais ameaças para o bioma”, Conciani.
Embora o porcentual de degradação da Amazônia seja menor do que na maioria dos biomas, (de 5,4% a 9,8%), a área absoluta é a segunda maior, variando de 19 milhões de hectares a 34 milhões de hectares.
O fogo é o maior inimigo do Pantanal quanto à degradação, onde esta perda de originalidade no remanescente varia de 6,8% a quase 19%. Do início do ano até a quarta-feira (4/7), houve 3.762 focos, conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número é 2.112% maior do que o verificado no mesmo período do ano passado. O primeiro semestre registrou novo recorde histórico de uso da queima.
No Pampa, o porcentual de degradação varia de 19% a 55% e na Caatinga de 18% a 54%. Neste último bioma especificamente, a degradação é impulsionada pelo processo de desertificação.