Portugal, Brasil e Brizola: Cravos e CPI da Covid (por Vitor Hugo)
Político profético
atualizado
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Neste 25 de abril, da celebração do aniversário da Revolução dos Cravos, em Portugal, e dias dias de tensões e alvoroço, em Brasília, na instalação da CPI da Covid-19, no Congresso – com objeto e foco na apuração de malfeitos e omissões do governo no combate à pandemia, que já carrega trágica e vergonhosa soma de mais de 400 mil mortos de norte a sul do País – recordo e registro (pela relevância profética do conteúdo), o que ouvi do líder gaúcho, ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, num encontro em sua estância, no Uruguai, antes dele ser expulso, pela ditadura naquele país, e ir para os Estados Unidos, onde cumpriu a penúltima etapa de seu longo exílio. Na frente de uma porteira, no fim de tarde nos pampas uruguaios, Brizola quebrou o silêncio: “Anote aí, nas laudas do Jornal do Brasil que tens nas mãos, e podes me cobrar depois, se um dia eu voltar: os efeitos perversos e daninhos dos 50 anos de ditadura, em Portugal, serão superados bem antes dos menos de 30 anos de ditadura no Brasil”.
Penso nisso, ao acompanhar de longe, domingo, 25 de Abril, a festa cívica, na capital e em todo Portugal, comemorativa dos 47 anos da Revolução dos Cravos, que varreu a ditadura implantada por Oliveira Salazar, de meio século de duração, repressão, perdas de liberdades e atrasos. A data foi marcada pelo retorno do desfile cívico na Avenida da Liberdade (centro de Lisboa), além de diversas manifestações culturais e de protestos políticos e sociais em diferentes regiões do país. O célebre Diário de Notícias assinalou que “os cravos e o cheirinho de alecrim seguem presentes ao longo do percurso das festividades, apesar de pandemia Covid”. Na véspera dos festejos, Portugal registrara uma morte por corona vírus. No dia seguinte, nenhuma.
De volta à Brizola: surpreso por suas previsões, perguntei ao líder gaúcho de expressão nacional e no exterior , a razão de seu pensamento mais positivo quanto ao futuro dos portugueses, que do nosso. Brizola fez um muxoxo, típico, e respondeu: “Francamente, baiano. A grande e crucial diferença é o baixo sentimento de cidadania e a falta de visão em perspectiva de nossos políticos, da gente de negócios e dos homens públicos em geral. Boa parte, talvez a maioria, não consegue enxergar um palmo além do próprio umbigo, ou de seus interesses mais primários e imediatistas”.
Então reflito sobre as palavras do ex-governador, comparando-as aos fatos e registros deste fim de abril de 2021. Em Brasília, empavonado na imodéstia e arrogância de relator da CPI da Covid-19, o senador Renan Calheiros discursa na instalação dos trabalhos. Promete fazer uma relatoria isenta, sem olhar para interesses pessoais ou manipulações partidárias, políticas ou ideológicas. Mas, logo derrapa na vaidade e no caldo de ódio e mágoas espalhados em sua volta. Expõe, de saída, suas avaliações, preconceitos, valorações pessoais, e aproveita-se dos holofotes, para atacar o ex-coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato, o procurador da República, Deltan Dallagnol, e o ex-juiz Sérgio Moro. Ambos sem nada a v er com a CPI da Covid- 19 que vai apurar desmandos, omissões e falcatruas durante a pandemia, devastadora no Brasil. Comparo com a festa democrática e pluralista da Revolução dos Cravos, em Portugal, e concluo: Profético Leonel Brizola!
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br