Os sinais de Lula para a América Latina
Presidente quer reconquistar a liderança da região
atualizado
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Após quatro anos de distanciamento, o Brasil volta a dialogar com seus vizinhos. E os sinais são uma política para reconquistar sua liderança na região e sua posição geopolítica. Os primeiros compromissos internacionais foram visitas ao Uruguai e Argentina, onde se encontrou com o presidente Alberto Fernández e participou da sétima edição da Cúpula da CELAC (Comunidade de Estados Latino Americanos e Caribenhos), que reúne 33 países.
Na Argentina, Lula falou do uso do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar projetos no Exterior, sugeriu a criação de uma moeda única e fez acenos a Cuba, para delírio da direita liberal. Isso sem citar a reabertura da embaixada em Caracas, capital da Venezuela, fechada por Bolsonaro em 2020.
Em parte, o governo repete a fórmula dos dois primeiros mandatos de Lula (2003-2010). Uma política externa independente, como definiu o ex-ministro Celso Amorim: “nossa política externa não pode estar confinada a uma única região, nem pode ficar restrita a uma única dimensão. O Brasil pode e deve contribuir para a construção de uma ordem mundial pacífica e solidária, fundada no Direito e nos princípios do multilateralismo”. Saudades de Araújo?
Quanto ao bloco latino, essa política quis valorizar a cooperação entre os países do Hemisfério Sul, intensificando parcerias com países da África, China e Índia, como na criação dos BRICS. Entretanto, na última quarta-feira, dia 25, Lula afirmou que “urgente e necessário” um acordo do Mercosul com o União Europeia, deixando em segundo plano as negociações do grupo com os chineses.
Foi uma mensagem direta para o presidente do Uruguai Lacalle Pou, que apresentou um pedido oficial para integrar o Acordo Amplo e Progressista de Associação Transpacífica (CPTPP), formando por 11 países, entre eles Chile, China e Peru. Sutilmente, o país é ameaçado de expulsão do Mercosul.
Outros pontos da política externa de Lula 1-2 foi a criação de programas regionais de integração como a UNASUL – União das Nações Sul-Americanas e o fortalecimento da participação brasileira em fóruns internacionais. Pelas declarações de Lula e pela posição firme na questão amazônica, parece que esses caminhos serão continuados. Mas sob um outro contexto histórico, quais serão as estratégias do Itamaraty para recolocar o país no cenário internacional?
Não será fácil após quatro anos de caos bolsonarista e seu alinhamento trumpista – nem é possível dizer EUA – que resultou no voto a favor do embargo cubano, na ausência na posse de Alberto Fernández (inédito desde a redemocratização), distanciamento político de Pequim, nosso maior parceiro comercial. Um isolamento inédito, ideológico e inócuo.
A crise política no Peru demonstrou mais um lado dessa diplomacia, que é respeitar a soberania de nossos vizinhos. Ainda em dezembro, após a prisão do ex-presidente Pedro Castillo, Lula divulgou uma nota em que afirma que sua saída foi dentro da leis constitucionais e prontamente reconheceu Dina Boularte como nova presidenta.
Em recente entrevista, o embaixador do Peru no Brasil, Rômulo Acario disse que o país precisa precisa do apoio da comunidade internacional governos e movimentos da esquerda democrática da América Latina para avançar numa solução democrática viável. O Brasil deveria liderar esse processo?