metropoles.com

O câncer do Brasil (por Mary Zaidan)

A cura do país começa por extirpar Bolsonaro da Presidência

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Adriana Cruz/Metrópoles
Protesto contra bolsonaro rio de janeiro1
1 de 1 Protesto contra bolsonaro rio de janeiro1 - Foto: Adriana Cruz/Metrópoles

Exibido em superclose, o que, propositalmente ou não, ressaltou o ser alucinado que nele habita, o presidente Jair Bolsonaro garantiu em vídeo nas redes sociais que sabe “onde está o câncer do Brasil” e o que fazer para livrar o país do mal. Não fosse o ensaiado tom grave de ameaça, pareceria um opositor barato atacando o governo, prometendo que curaria o país se eleito fosse. Uma lenga-lenga que vem combinada com a tática da inversão: atacar tudo e todos, atiçar e agredir para depois se dizer vítima, impossibilitado de governar.

Historicamente, a corrupção é o câncer do Brasil, e já o foi para o então candidato Bolsonaro quando o discurso cabia no enfrentamento ao PT. Mas frente a ela, seu governo nada fez. Ao contrário, abençoou e promoveu corruptos de carteirinha.

Sob o patrocínio de Bolsonaro os mecanismos de combate à corrupção foram se afrouxando. A CPI da Covid escancarou a reocupação do Ministério da Saúde por sanguessugas, falcatruas denunciadas ao presidente que ou não deu bola ou as encobriu. A Lava-Jato foi enterrada, a Lei da Ficha Limpa deve ser flexibilizada, os poderes de fiscalização sobre os gastos eleitorais serão reduzidos. E o orçamento da União oficializou gastos secretos, infiscalizáveis por quem paga a conta.

Como de costume quando faz ameaças, Bolsonaro não explicitou a qual câncer se referia. Soltou no ar, como adora fazer – embora o contexto deixasse claro que os males na sua mira são os tribunais superiores, os opositores no Congresso e nos governos estaduais, a imprensa -, bases do discurso da inversão.

Depois de ver sepultados o pedido de impeachment que protocolou no Senado contra o ministro Alexandre de Moraes, e a representação no Supremo para anular um dos artigos do regimento interno que garante a Corte a prerrogativa de abrir inquéritos quando ameaçada, Bolsonaro virou-se contra o presidente do Senado e aumentou o tom das críticas ao STF. O recrudescimento durou menos de 24 horas.

Como em um passe de mágica, de repente a ordem de botar fogo na tropa como fizera o cantor sertanejo Sérgio Reis na semana anterior, virou. Nas redes, mobilizadores virtuais para o 7 de Setembro começaram a substituir #ForaSTF e #IntervençãoMilitarJá por liberdade, ordem e progresso.

A ideia é colar o avesso, taxando o STF e o TSE – Cortes nas quais Bolsonaro responde a inquéritos – como instituições antidemocráticas. Seriam elas e não o presidente que extrapolam os limites constitucionais, que esticam a corda. Há ainda uma nítida preocupação defensiva. Com o novo discurso, tumultos, quebradeiras, invasões de prédios públicos serão apontados como “atos isolados”, fora do controle dos organizadores.

Bolsonaro também mudou o foco das agressões. Na live semanal foi mais brando. Criticou o que considera “decisões autoritárias”, como a prisão do presidente do PTB, Roberto Jefferson, e a desmonetização de canais digitais que o apoiam, mas o fez sem a verve beligerante da semana anterior. Na sexta-feira, seus impropérios cotidianos não tiveram os demais Poderes como alvo. Preferiu e conseguiu redirecionar os holofotes com a infame afirmação – “Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado” -, chamando de idiota quem diz que “tem de comprar feijão”.

Depois de obter a audiência pretendida – ocupar as manchetes, virar assunto e memes na internet -, embarcou para Goiânia para acariciar militares em mais uma cerimônia do Exército e passear de motocicleta com apoiadores. Em pleno horário em que os incautos pagadores de impostos trabalham para financiar o desgoverno e as estripulias do presidente.

Bolsonaro não disse a qual câncer se referia. Certamente não foi ao da corrupção, que enche os bolsos de alguns, financia e ao mesmo tempo garante a eloquência dos discursos de candidatos com plataformas vazias. Tampouco ao dos privilégios que corrói o Estado.

Até acertou no diagnóstico – “se o câncer aí (sic) for curado o Brasil volta à normalidade” -, mas errou no endereço: a cura do país começa por extirpar o câncer Bolsonaro da Presidência.

Mary Zaidan é jornalista

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?