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Não é brincadeira (Por Juan Arias)

É impossível mesmo para governos progressistas reduzir a burocracia que sufoca a própria economia e enlouquece o cidadão comum no Brasil

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1 de 1 IR imposto de renda receita federal restituição - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles.

Quando li, assinada pelo jornalista do jornal O Globo Lauro Jardim, pensei que fosse uma piada. E até ri. Não era. Esse é um novo cargo que o governo Lula acaba de criar no Ministério da Secretaria de Comunicação Social. O nome da nova posição tem 26 palavras. Faça o teste para ver se consegue ler sem parar para respirar.

Imagine que a titular do novo cargo, se for mulher, perguntada sobre qual é sua função, tenha de responder de uma vez só:

“Responsável pela Coordenação das Políticas de Liberdade de Expressão e Enfrentamento à Desinformação do Secretaria de Promoção da Liberdade de Expressão da Secretaria de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República”.

Sim, tudo em maiúsculas e sem vírgula para poder respirar. É como comenta o colunista: “Aquele vício feio da burocracia não começou neste Governo e não há sinais de que vá acabar. Está incorporado na alma do serviço público”.

Dizem que o Brasil é o país com o maior número de leis do mundo. O último número que vi (quem pode contá-los?) ultrapassa quatro milhões. No Governo de Dilma Rousseff, uma das novas diretrizes foi criar o Dia Nacional do Macarrão, como se estivéssemos na Itália.

E por falar na Itália, quando eu era correspondente do EL PAÍS naquele país, sufocado pela burocracia, foi criado um novo ministério encarregado de reformar a burocracia. Aliás, o pobre e reluzente ministério novinho acabou se extinguindo porque logo se tornou tão ou mais burocratizado que os antigos. Melhor eliminá-lo e confessar que a burocracia é um pecado sem perdão e sem contrição de coração.

Voltando ao Brasil, o curioso é que, apesar de todas essas aberrações e do cargo de 26 palavras criado pelo novo governo, o Brasil é ou seria ao mesmo tempo um dos mais criativos em novas tecnologias, como acabou de confirmar no Rio Diego Dzodan, que ocupou cargos de liderança em grandes empresas de tecnologia como o Facebook.

Segundo Dzodan, ao mesmo tempo em que o Brasil sofre com a praga da burocracia que o sufoca, é hoje um polo de inovação. E dá o exemplo de que esse país, até bem pouco tempo atrás, era o único com Pix [forma de pagamento eletrônico] e assim continuou por muito tempo.

E é sabido que no Vale do Silício , nos Estados Unidos, cérebro das novas e revolucionárias tecnologias que estão mudando o mundo, é unânime a convicção de que os brasileiros estudiosos dessas loucas inovações estão entre os que se destacam em seus talentos. A ponto de se dizer até que o próximo Steve Jobs ou Bill Gates poderia ser brasileiro.

Aparentemente, é impossível mesmo para governos progressistas reduzir a burocracia que sufoca a própria economia e enlouquece o cidadão comum. E estamos diante de um beco sem saída. A política no Brasil ainda invade tudo: a lei, a religião, mas parece incapaz de fazer uma limpeza a fundo nas suas mais de quatro milhões de regulamentações que acabam paralisando o país.

Talvez o ditado popular de que “rio agitado ganha pescadores” esteja certo. No Brasil , os pescadores de cargos e privilégios na política aparentemente estão interessados em manter o rio da burocracia o mais agitado possível. Sim, também para a esquerda. Quem disse que não?

Releia, se não respirar profundamente, o nome da nova posição criada. Ou veja como, para ter maioria no Congresso, o novo governo permite que regalias sejam distribuídas sem escrúpulos ou remorsos. E isso mesmo entre os líderes mais hostis até ontem ao Governo, aqueles que eram e se gabavam de ser fervorosos apoiadores de Bolsonaro. Que política é assim em todo lugar? É verdade, mas também é verdade que a democracia nunca esteve tão ameaçada como hoje em todo o mundo.

 

(Transcrito do El País)

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