Tejo: um português à moda antiga
O maior triunfo do restaurante comandado por Manuelzinho está no ar caseiro e despretensioso
atualizado
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Brasília tem a tradição de possuir bons restaurantes portugueses. Alguns já abriram e fecharam como os saudosos Mouraria, Antiquarius, A Bela Cintra e Taberna do Infante. Atualmente, temos o mais jovem entre eles, o Bistrot do Manuel (Lago Norte) e também o mais longevo da cidade, o Sagres. Há quase um ano no mercado, o Tejo vem figurando como boa opção quando alguém deseja matar saudades da comida dos nossos patrícios.
Ao ver a fachada, você acha que vai entrar num restaurante moderno, no estilo de decoração que o chef português de maior sucesso da atualidade, José Avillez, emprega em seus estabelecimentos. Mas essa sensação logo passa.
A tentativa do Tejo é ser um restaurante classudo e um tanto quanto formal. Ele proporciona conforto, mas seu ambiente não é o que definitivamente atrai os clientes. É datado. Traz referências de Portugal, de vinhos, mas a mistura de materiais e de estilos causa desconforto visual.
Talvez a ideia de um de seus donos, Manuel Pires – o Manuelzinho, que comandou o Antiquarius na sua breve existência na capital – seja de acolher à moda antiga, como se estivesse recebendo em casa.
Esta sensação está expressa sim nos pratos servidos por lá. A comida tem um ar caseiro, despretensioso. E este é o maior triunfo do Tejo. Reforçando este conceito, o atendimento da casa é atencioso, prestativo. Na minha opinião, às vezes formal demais e com aquela pressa do garçom em completar a taça de vinho e de água, que atrapalha o andamento da conversa. Mas o conjunto do atendimento não compromete a sensação de bem-estar.
O couvert dá o tom de boas-vindas. Ao preço de R$ 18 (valor por pessoa), ele é composto por finas e crocantes torradinhas de pão, patê de fígado de galinha, patês de carnes nobres, uma mil folhas de berinjela e de bolinhos de bacalhau. Não pule esta etapa. Tudo é bem servido, com direito a repetição. E os bolinhos, pequeninos na medida, chegam quentinhos e saborosos. Com a pimentinha caseira, a vontade é de comer uma dúzia.
- No cardápio, o carro-chefe é o bacalhau, mas há opções para quem não curte ou não quer comer o peixe, como o picadinho à moda do Rio (R$ 59) ou filé à parmegiana (R$ 77 para duas pessoas). Como opção o restaurante oferece também os pratos do dia, de terça a domingo. Há feijoada aos sábados (R$ 98 para duas pessoas) e paella de frutos do mar aos domingos (R$ 127).
Os bacalhaus em posta são as melhores pedidas. Evidentemente, os mais caros. O que destaco é a preparação. O “filé” do bacalhau é primeiramente grelhado, depois confitado em azeite. Chega tenro e macio, sem estar encharcado de azeite. E a cada garfada, aquela pétala branquinha se descola da posta e vai à boca com os complementos. Salivei só de escrever.
Assim é, por exemplo, o Bacalhau no forno à Portuguesa (R$ 123), que vem ainda com brócolis, metade de um tomate cozido sem pele, ovo e batatas. O rei pode ser o bacalhau, mas os complementos são bem feitos, com ingredientes de qualidade. O brócolis vem vivo, verde e al dente. A batata, também ao ponto, precisa apenas de mais sal, assim como o tomate.
Também experimentei o bacalhau Dourado, que vem desfiado, com batata palha e ovos batidos temperados (R$ 75). Uma delícia. Fiquei meio reticente quando à batata palha, mas ela deu um crocante gostoso na boca com o peixe.
O arroz de pato (R$ 68) está entre os meus dois prediletos de todo o cardápio. O grão vem caudaloso, envolto no molho que o pato foi feito e os pedaços desfiados da ave são generosos. O prato ganha uma camada especial ainda com as azeitonas e a calabresa, cortada em rodelas. Colocaria a linguiça misturada no arroz e não só em cima para enfeitar o prato. A calabresa eleva o paladar do prato quando misturada. Quase todos os pratos do Tejo servem duas pessoas, com porções bem generosas.
A carta de vinhos possui mais de 100 rótulos, com forte presença, é claro, dos portugueses. O que salga é o preço. Dentre todas as opções, entre 10% e 12% das garrafas ficam abaixo de R$ 100, o que limita o consumo da comida portuguesa, que sempre pede uma boa taça para acompanhar.
Ao fim, para adoçar o paladar não deixe de comer a Sericaia (R$ 19), uma espécie de pudim de ovos. A cada garfada é possível sentir a maciez e a suavidade da deliciosa sobremesa. E olha que não sou muito fã de doces que têm ovos como ingrediente principal. Para quem quiser se aventurar ainda mais, o restaurante serve também barriga de freira, toucinho do céu e encharcada de ovos, doces típicos portugueses.
Cortês sim; omissa, não.
DEVO IR?
Sim.
PONTO ALTO:
Fartura dos pratos, associado à qualidade da comida.
PONTO FRACO:
Carta de vinhos cara. Às vezes, necessidade de mais tempero em ingredientes.
Tejo Restaurante
404 Sul, Bloco B, Loja 27, 3264-7005.