Rosário tem comida de trattoria a preços de ristorante

Os italianos levam muito a sério as denominações dos seus estabelecimentos. Se você for adentrar ao glossário de definições dos locais de comida, talvez se perca ou se confunda. Há diferenças sutis, mas importantes, por exemplo, entre Trattoria, Osteria, Taberna e Ristoranti.

Para nós, brasileiros, talvez tudo seja igual. Mas não brinque com os conterrâneos de Sophia Loren, pois pode despertar a mesma reação quando argentinos querem comparar Pelé a Maradona. Vai dar briga.

A Trattoria da Rosário nasceu trattoria e se transformou num ristorante. A definição de trattoria é uma casa que, originalmente, prepara pratos regionais e tem simplicidade no mobiliário e no serviço. E assim, Rosário Tessier abriu em abril 2003 seu estabelecimento, depois de passar por importantes cozinhas de restaurantes italianos em Brasília, como Partenopea, Il Maestri e Trastevere (atual, Vila Tevere).

Aos poucos, com sua técnica e talento para produzir os sabores italianos autênticos, Rosário foi ganhando público e, ao longo destes 13 anos, o ambiente mudou. Aumentou a área física e ganhou piso de porcelanato, mesas com toalhas e guardanapos de tecido, cortinas, projeto de iluminação, bar com balcão de pedra e adega de maneira iluminada (sim, sou arquiteta de formação e reparo nisso). Em resumo, o espaço se sofisticou e já pode ser até chamado, pela denominação italiana, de ristorante.

Os incrementos de ambiente vieram acompanhados com a escalada dos preços também, que foram elevados à categoria de preços de ristorante (variam entre R$ 20 numa sobremesa a R$ 109 num bacalhau). As massas estão entre R$ 65 e R$ 95, assim como o teto do preço dos risotos. A comida simples, bem feita, ganha mais cifrões para pagar os ingredientes de qualidade e o aluguel do amplo espaço em área nobre da capital. Mas que acho caro, acho.

Por outro lado, as porções são generosas. Rosário segue a tradição das mamas e nonas, quando elas resolvem servir os bambinos nos almoços e jantares. Fome, você não passa na trattoria. Nem tédio, já que o cardápio é muito bem estruturado com boa variedade de massas, carnes, peixes, frutos do mar e saladas.

Gulosa como sou e honrando meu compromisso com vocês, leitores do Metrópoles, tive de ir ao restaurante algumas vezes e também fui obrigada a comer todas as etapas de uma refeição – entrada, prato principal e sobremesa.

Para começar, destaco o antipasto italiano com mortadela, presunto de Parma, queijo Bel Paese, queijo Grana Padano e azeitonas pretas. A disposição das fatias dos embutidos e do queijo no prato é meio bagunçada, denotando descuido, mas o sabor compensa..

Entre massas, risotos e carne que comi, o número 1 no quesito sabor foi o risoto de abóbora, camarão, presunto de Parma e pesto (R$ 89). Caudaloso como deve ser, o arroz veio al dente, bem temperado e extremamente saboroso, misturando o adocicado da abóbora com a acidez dos toques de pesto. Os seis camarões também bem temperados e cozidos na medida. E o mais importante: sem creme de leite. Desculpe, mas não respeito cozinheiro que coloca creme de leite em risoto.

Em um dos dias em que estive por lá, reparei que, na mesa, há sempre um pequeno totem de acrílico com sugestões do chef. O preço de um deles me chamou atenção – R$ 49 o fettuccine com ragu de cordeiro. Opa, isso sim é valor de pratos de trattoria.

Ao experimentar, a agradável surpresa. O ragu de cordeiro (ingrediente que não é barato) desmanchava na boca. A carne estava envolvida com molho de tomate San Marzano e vinho. Resumo da ópera: o fettuccine foi um dos pratos mais saborosos que comi por lá e a um preço que fez bem também para meu bolso.

É claro que para finalizar a refeição nada melhor do que o clássico dos clássicos da sobremesa italiana: o tiramisú (R$ 23). Estava divino, bem aveludado, com um balanço equilibrado entre mascarpone, chocolate e café. Nessa briga de titãs das casas que oferecem o doce em sua carta de sobremesa, ainda fico com o tiramisú do restaurante Gero e o do La Fornacella, nesta ordem. Mas Seu Rosário está de parabéns pelo conjunto da obra.

Cortês sim; omissa, não.

DEVO IR?
Sim. Para ocasiões especialíssimas.

PONTO ALTO:
A generosidade nas porções. Impossível sair com fome.

PONTO FRACO:
Os preços dos vinhos e dos pratos. Não é para qualquer bolso.

SHIS QI 17, Loja 215, Fashion Park, 3248-1672. Site.