metropoles.com

Pretensioso, Bla’s precisa melhorar a execução

O restaurante da 406 Sul se autointitula cozinha criativa, mas os pratos que comi passam longe de ser criativos

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Bárbara Cortez/Metrópoles
blas_Filé a Blas (mignon, batata doce, cenoura torneada, legumes e molho da casa)
1 de 1 blas_Filé a Blas (mignon, batata doce, cenoura torneada, legumes e molho da casa) - Foto: Bárbara Cortez/Metrópoles

Lembro-me de, em uma entrevista com o chef Claude Troisgros, um jovem aprendiz perguntar qual a importância da criatividade na cozinha. Ele disse: “5%”. E continuou: “qualquer chef de cozinha precisa dominar as técnicas e praticar por décadas, para, depois, pensar em criar.”

Aquela entrevista me marcou. Pois, atualmente, a premissa de quem quer ser chef é querer inventar, ser criativo. Cozinha, definitivamente, é repetição. Não necessariamente criatividade. Por isso, morri de medo quando fui visitar o Bla’s, que se autointitula cozinha criativa – com a frase cunhada em francês na sua fachada.

O receio procedeu. Os pratos que comi passam longe de ser inovadores. Talvez a criatividade seja porque a casa muda de menu semanalmente (oferecendo no almoço entrada + principal + sobremesa a R$ 59,90). Daí, os cozinheiros têm de bolar coisas diferentes para a semana. Só pode.

3 imagens
Sashimi de filé ao molho teriaki
Ovos, pimentão e bacon
1 de 3

Sushi de polvo e peixe

Bárbara Cortez/Metrópoles
2 de 3

Sashimi de filé ao molho teriaki

Bárbara Cortez/Metrópoles
3 de 3

Ovos, pimentão e bacon

Bárbara Cortez/Metrópoles


Sushi desconstruído?

Por exemplo, de entrada, pedi um sushi de polvo e peixe. Chega-me, em um minidisco de madeira, fatias de polvo e de peixe e o arroz japonês solto com uma porção de raiz forte ao lado. Seco assim, sem molho de soja. Pedi ao garçom, ele disse que o restaurante não tinha. Desculpe, “sushi desconstruído”, isso é ser criativo?

Bom, comi ainda mais três entradas: maçãs ao Martini; sashimi de filé com molho de café e ovos, pimentão e bacon. A primeira era a fruta cozida na bebida alcoólica com ricota. A pequenina porção estava saborosa, com maçã al dente, mas exigia um queijo mais forte do que a insossa ricota, que nem temperada estava.

O tal sashimi de filé, na verdade, eram fatias de carne passadas na chapa com café por cima. As tirinhas estavam bem temperadas, gostosas, mas chamar aquilo de sashimi é ludibriar o cliente. Não, né? O último prato não era nada de mais. Um ovo cozido cortado ao meio com um bacon crocante em cima. Nem senti sabor de pimentão. Na verdade, fiquei procurando onde o ingrediente estava.

3 imagens
Polvo (polvo, goban, dashi, algas e crocantes)
Suíno (mignon com purê de batatas e maçãs, farinha de bacon e chutney de alecrim)
1 de 3

Cordeiro (fettuccine com cordeiro desfiado ao jus, curry e iogurte)

2 de 3

Polvo (polvo, goban, dashi, algas e crocantes)

3 de 3

Suíno (mignon com purê de batatas e maçãs, farinha de bacon e chutney de alecrim)

 

Massa cozida demais, porém saborosa
Chamou-me a atenção, entre os principais, um fettucine com cordeiro desfiado no próprio molho, com curry e iogurte (R$ 39,90). Farto e saboroso, o cordeiro estava muito bem feito e temperado, com o curry ressaltando o sabor da carne e acentuando as notas de especiarias e certa “picância”. A massa, porém, cozida além do ponto. Os fios quebravam.

O filé com legumes grelhados (R$ 39,90) também estava com sabor. Carne macia e no ponto, legumes bem grelhados e mix de chips de raízes (aliás, estes são uma escolta constante em todos os pratos, assim como os tomatinhos cerejas assados). Ali, um prato simples em que os cozinheiros conseguiram ressaltar a boa qualidade de ingredientes e dos temperos.

O polvo com arroz, algas crocantes e o mix de chips de raízes é, sem dúvida, a pior opção. O prato é inexplicável. Quase uma versão da entrada – sushi de polvo – só que em porção maior. Prato seco, sem sabor, sem propósito. O polvo estava bem feito, macio. Mas só os tentáculos não seguram o péssimo desempenho daquela combinação.

Bárbara Cortez/Metrópoles
Mesas além da conta
As sobremesas são um capítulo à parte.  Das quatro experimentadas (de seis existentes), não repetiria nenhuma. A mousse da vovó (R$ 15,90 — foto acima) parece sorvete, sem a intensidade do chocolate amargo que o garçom disse compor a receita. As texturas de maracujá vinham com um bolo seco, gelatina muito amarga e mousse apenas ok. A apresentação é, mais uma vez, pretensiosa. A torta de Nutella e o brownie da casa são ultradoces. Aposto que matariam uma formiga.

A cozinha não comporta o volume de mesas do Bla’s. O serviço é lento e o atendimento, confuso. Incomodou-me ainda o fato de a porta do banheiro ser ao lado da cozinha. E das duas vezes que fui ao toilet, ambas as portas estavam abertas.

A conquista do paladar não se dá por invenções sem propósito. Comida precisa ser simples e ter sabor, textura, tempero. E olha que isso já é um baita desafio para os cozinheiros.

Cortês sim; omissa, não.

DEVO IR?
Sim, vale a pena experimentar.

PONTO ALTO
O tempero do cordeiro no prato de massa.

PONTO FRACO
Atendimento confuso e pretensão.

Bla’s (406 Norte, Bloco D, Loja 38, 3879-3430).

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?