New Koto, um autêntico japonês
Colunista conta mais sobre a casa criada pelo chef japonês Ryozo Komiya, falecido em 2014. Desde sua morte, o bastão está com os integrantes da família, que obedecem ao que o mestre mandava
atualizado
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É sentar no balcão ou em uma das mesas do New Koto que me transporto aos pequenos e tradicionais restaurantes em Tóquio. Nem preciso fechar os olhos. Como a autêntica comida japonesa na capital, milimetricamente falando. Esta constatação tem um fundamento. O chef Ryozo Komiya nasceu no Japão, veio para Brasília em 1976 trabalhar como cozinheiro-chefe na embaixada japonesa e, depois, abriu restaurantes como Koto e Kosui, o último na antiga Academia de Tênis.
Komiya implantou em Brasília um padrão nunca alcançado por qualquer restaurante do gênero. Após seu falecimento em agosto de 2014, permaneceu a tradição de sua comida – que já foi servida em duas ocasiões para o imperador japonês Akihito. O bastão foi passado para os integrantes da família, que obedecem ao que o mestre mandava. E com primor!
Basta pedir um combinado (sushis e sashimis) para saber que toda vez que você quiser comer em restaurante japonês em Brasília o endereço deve ser um só. As diferenças com os demais saltam aos olhos e ao paladar. O corte e a espessura dos pescados e a consistência do arroz são ímpares.
E olha que a matéria-prima, o peixe, não tem o mesmo pedigree que aqueles que são vendidos no mercado Tsukiji, o mais famoso de Tóquio. Os do New Koto são de ótima qualidade, vêm do Nordeste de acordo com o frescor da temporada. Os preços dos combinados variam de R$ 99 (25 peças) a R$ 170 (50 peças, incluindo ovas).
Mas a comida japonesa está longe, bem longe de ser apenas sushi e sashimi. A questão é que não estamos tão acostumados à forma de preparação de alguns pratos e, consequentemente, aos sabores de lá. No New Koto, dá para ir aprendendo. O teishoku é uma espécie de caixinha que vem com um pouquinho de cada coisa. Em cada potinho, uma surpresa. O bento (R$ 57) é o mais sortido deles: missoshiru (sopa de soja com tofu), arroz, sashimi de atum e salmão, carne de porco à milanesa e duas minissaladinhas bem japas.
Quase sempre, deixo por último o potinho da carne de porco à milanesa com maionese. Acho o mais gostoso. Faz croc croc na boca e dá a sensação de comida caseira. O menos agradável, das últimas vezes, tem sido o de tempurá (aqueles legumes ou camarões empanados e fritos em óleo quente). Digo isso, pois eles têm vindo meio impregnados com o sabor do óleo da fritura.
Não há rodízio, nem festival de nada. O cardápio, em japonês e português, é extenso, mas não é pretensioso. Cumpre a missão de oferecer diversidade sem firula ou invencionices modernetes desagradáveis, como sushi com frutas, goiabada, cream cheese, chocolate e afins.
As tradicionais guiozas (seis unidades por R$ 19) chegam quentinhas à mesa. Crocantes, elas são recheadas de carne de porco e legumes e descem ainda mais macias quando mergulhadas no molho à parte. Recomendo também o yakitori (R$ 21), três espetinhos de frango adocicados, que devem ser embebidos em algum saquê, pois há algo de interessante naquele sabor. Para os mais acostumados aos paladares asiáticos, o queijo tofu frito é servido em seis pedacinhos com gengibre ralado por cima (R$ 18).
A grande vedete das entradinhas é sem dúvida a pirotécnica vieira, que vem pegando fogo. São duas conchas “recheadas” (R$ 32 a dupla). Há uma intensa profusão de sabores. As vieiras são passadas na manteiga com os cogumelos shimeji, um pouco de alho e, por cima, cebolinha picada. É um prato assinatura, destes que você só come por lá. E vai querer mais.
Adoro os teppan yaki do New Koto (R$ 54 a R$ 130 – o mais caro é de lagosta). As carnes grelhadas na chapa chegam no ponto certo. Uma correção ou outra no cozimento dos legumes. O que pedi, o de anchova (R$ 59), veio com aspargos e legumes um tom acima de cozimento. Nada que estragasse a experiência. Os yakissobas também são uma boa pedida para quem não aguenta “a frieza” dos sashimis e quer sair de lá com o estômago quentinho. Pois é assim que são servidos, fumegantes em travessas de ferro. Eu adoro!
Sabem que sou de observar o ambiente. E o New Koto passou por uma pequena reforma. Substituiu suas paredes de tijolinho com leques por uma parede branca, mais sóbria, com ornamentação de bambus naturais em vasos. Ficou mais simpático, mais clean. A casa manteve seu ar tradicional, com balcão, sushiman à vista e uma inusitada televisão que passa clipes japoneses. É o cafona charmoso.
Autenticidade e qualidade têm preço. De cara, você vai notar a quantidade de japoneses que frequentam o lugar – o que é emblemático. Para matar saudade da terra natal, você procura um restaurante que fale a sua língua na alma. E a segunda língua do restaurante é o japonês. Em relação ao que vai desembolsar, prepare-se. Lá é com certeza de 20% a 30% mais caro que os demais. Mas a qualidade é incomparável.
Tradicional na arquitetura, tradicional na preparação dos pratos. O New Koto é o pedaço mais japonês de Brasília.
Cortês sim; omissa, não.
DEVO IR?
Sim. Não há reserva. Chegue cedo ou tenha paciência para esperar.
PONTO ALTO:
O sabor de tudo.
PONTO FRACO:
A televisão passando videoclipes japoneses. Tem seu charme, mas é chato após 10 minutos.
212 Sul, Bloco C, Loja 20, 3346-9668.