Manzuá não vale nem pelo preço nem pelo sabor
É possível identificar os bons produtos utilizados no restaurante, mas falta atenção ao preparo da comida
atualizado
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O Lago Paranoá é a praia do brasiliense. É um clichê gostoso de falar sobre Brasília. Talvez ele não seja assim tão democrático quanto as praias cariocas, mas o ambiente “à beira-mar” refresca a visão dos habitantes, com coqueiros e muito verde ao redor. No Pontão, com sua entrada mais do que cafona, há restaurantes que tentam alinhar o ambiente com a comida praiana, focada em frutos do mar.
O Manzuá é a segunda tentativa com essa proposta. No mesmo local, o Bargaço reinou durante anos até fechar as portas. Quem vai a uma casa de frutos do mar sabe que os preços são mais altos do que o praticado em outros tipos de restaurante. Por isso, espera-se que, pelo alto valor, a experiência seja agradável e boa para o paladar.
Não foi assim que ocorreu no Manzuá. Para começar, escolhi entradinhas. Porção com quatro miniacarajés (R$ 28) e casquinha de siri (R$ 18 – a unidade). Os bolinhos de feijão-branco vieram bem fritinhos e crocantes, apesar de sentir falta de um pouco de sal na massa. O dendê estava controlado, dava aquele sabor gostoso à casquinha crocante, sem ter excesso de óleo.
Leite de coco em demasia
Já no vatapá do acarajé, a predominância do leite de coco tornava o creme adocicado demais para meu paladar. O camarão estava no ponto. No vinagrete, feito com tomates verdes e sem coentro (que dá um toque especial), o azeite não estava agradável, meio rançoso. Creio que seja pela marca usada e pela acidez do produto.
A casquinha de siri também tinha excesso de leite de coco, mascarando o sabor daquela carne delicada. A cada garfada, procurava também o tempero. Sal e pimenta estavam em proporções irrisórias. Não tinha nenhuma erva – usualmente, coentro – na casquinha.
O carro-chefe entres os pratos principais é a moqueca, sem dúvida. Escolhi a de camarão (R$ 169 para duas pessoas). Vamos aos fatos: a moqueca, servida em tacho de barro, veio bem quentinha, borbulhando, do jeito que tem de ser. Porém, o camarão estava borrachudo e sem tempero
O crustáceo é sensível à temperatura e qualquer deslize e desatenção o deixam muito consistente e desagradável para mastigar. Os camarões da moqueca estavam muito, muito sem graça. O contraste de sabor era gritante quando você comia separadamente o pirão. Este, sim, demonstrava personalidade, bem gostoso, assim como a farofa.
Na mesma toada, o espaguete com frutos do mar (R$ 90, individual) também chegou com os camarões passados do ponto. Borracha de novo. Também fiquei procurando o restante dos frutos do mar descritos no menu – mexilhões e anéis de lula. No meu, não veio. Confesso que não entendi. Mais uma falha da cozinha. Além disso, o molho de tomate da massa estava bem ácido, ralo e sem tempero.
Estive por lá algumas vezes. Comparando essa trajetória, percebo uma queda na qualidade do restaurante. Consigo identificar os bons produtos utilizados, mas falta atenção ao preparo da comida. A “culinária praiana” é extremamente saborosa e temperada, ao mesmo tempo que seus ingredientes, como peixes e crustáceos, exigem atenção dobrada no preparo.
O Manzuá não é um caso perdido, mas, por enquanto, não tenho mais vontade de voltar. Brasília oferece moquecas, acarajés e casquinhas de siri muito mais encantadoras do que as que comi por lá. E com preços mais honestos para o bolso dentro da equação custo-benefício. Uma pena, pois é bom ter dúvidas na hora de escolher um lugar para ir.
Cortês sim; omissa, não.
DEVO IR?
Honestamente, não.
PONTO ALTO
Não achei.
PONTO FRACO
Os altos preços e a falta de sabor e tempero.
Manzuá (SHIS QL 10, Pontão do Lago Sul, 61 3364-6090).