Cuzco, experiência desagradável e cozinha sem sabor
Comida peruana tem sabor, personalidade, temperos e um quê de apimentada. Nada desses pré-requisitos é encontrado na cozinha da casa
atualizado
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Quando um empresário abre as portas de um estabelecimento, ele tem de imaginar o público que pretende receber, a capacidade de atendimento e o que vai servir. São premissas básicas para qualquer negócio, mas que, infelizmente, não encontrei no restaurante Cuzco, em recente visita.
A decisão da arquitetura do espaço condiciona a logística do atendimento. O Cuzco é dividido em três partes. Duas áreas laterais em formato de retângulo com um bar funcionando como ilha central. Ainda tem a parte externa, que aproveita o espaço de área comum do prédio com mais mesas e cadeiras.
Havia apenas duas pessoas no “retângulo” onde me sentei para uma quantidade de mesas e cadeiras (ou seja, pessoas) muito maior do que esses profissionais poderiam atender. Logo imaginei: será que eles darão conta de atender a todos? A cozinha dará vazão a tantos pedidos? Quanto tempo o cliente vai esperar?
Demora para chegar os pedidos
As perguntas foram respondidas ao longo da minha permanência. Pedi as bebidas e quatro entradinhas distintas. Chegaram duas em 25 minutos e as outras mais de 30 minutos após a chegada das primeiras. Uma garrafa d’água chegou mais de 50 minutos após o pedido. Uma simples água! Pedida e “repedida”, pelo menos, duas vezes ao garçom.
O ceviche clássico (R$ 30) e os tiraditos crioulo (R$ 24) deram as boas vindas. As porções são bem servidas. O ceviche, com peixes cortados em cubos, estava gostoso, um pouco sem sal para meu paladar e pouco curtido no leite de tigre, aquele caldinho à base de limão, coentro e pimenta em que o peixe é cozido.
Já nos tiraditos — fatias finas de peixe cru, como sashimis, temperadas com pimenta (ají) amarela, alho, sal, coentro e pimenta –, senti falta de tempero e as fatias de peixe, ao serem mordidas, pareciam chiclete. Era difícil de mastigar graças às “nervuras”, bem borrachudas, que entremeavam a carne do peixe.
Yuquitas crocantes e saborosas
As yuquitas (R$ 29, oito unidades), croquetes de mandioca recheados (quatro com carne e outras quatro com mariscos), me deram a sensação que o problema do tiradito havia sido apenas um deslize. Vieram quentinhas, crocantes e saborosas.
Mas a impressão logo foi desfeita ao comer as causas (R$ 39, cinco unidades), bolinhos de purê de batata temperados com pimenta, sal, limão e recheados com salmão, frango e atum. Nada tinha sabor, tempero.
Os principais foram pedidos logo após a chegada da primeira entradinha, após reparar a demora na cozinha. Acreditem, um prato chegou frio e dois, mornos. Quando estou no restaurante a trabalho, nunca reclamo de nada, mas desta vez não resisti.
Quente, mas sem sabor
O lomo saltado estava gelado. A gerente se atrapalhou toda na explicação e disse que faria outro. Só pedi que não viesse em 40 minutos. Veio quente, porém sem sabor. O mesmo problema do tacu tacu a lo pobre (R$ 49), espécie de PF peruano, com arroz, feijão, ovo, bife à milanesa e banana.
Errar com arroz e feijão é difícil. Ambos estavam insossos numa apresentação, digamos, não muito apetitosa. Além do mais, a casquinha resultante do empanamento do bife soltava no corte, mas este – pelo menos – estava bom de mastigar.
O ají de galinha (R$ 49), frango desfiado, com pimenta amarela, servido sobre batatas cozidas com ovos e azeitona preta, coroou a minha experiência no Cuzco que deu muito, muito errado. Os equívocos já descritos se repetiram no prato.Despreparo
Comida peruana tem sabor, personalidade, temperos e um quê de apimentada, além de a maioria dos pratos ser servida quente. Nada desses pré-requisitos foram contemplados, o que demonstra despreparo da cozinha e de uma equipe para encarar um público que, logicamente, espera sair satisfeito de um almoço ou jantar.
Por trás de uma equipe, tem a visão e o compromisso do empresário, que deveria acompanhar de perto seu estabelecimento para que essa narrativa fosse bem diferente. Uma pena. Pois torço sempre pelo bom desempenho dos restaurantes.
Cortês sim; omissa, não.
DEVO IR?
Você pode tentar. Eu não voltarei.
PONTO ALTO
Yuquitas, bolinhos de mandioca.
PONTO FRACO
Atendimento e falta de sabor dos pratos.
Cuzco – Restaurante Peruano e Japonês (Rua das Pitangueiras, Lote 6, Loja 11, Águas Claras, 3536-2001)