Dependência tecnológica. Até onde o uso do celular tem nos afastado da realidade
Depois de perder o celular no aeroporto, nas vésperas do Natal, percebi o quanto somos consumidos pela tecnologia
atualizado
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Na véspera do Natal de 2015 me deparei com uma situação um tanto curiosa que me fez ficar impressionada com o que estamos vivendo atualmente. Estava em São Paulo a trabalho, na noite do dia 23 de dezembro, e tinha um voo marcado às 19:40 para Brasília, porque ia passar as festas de fim de ano com minha família. No caminho do aeroporto notei que perderia o voo porque o trânsito estava completamente parado, afinal era véspera de Natal. Liguei para meu agente de viagens e pedi a ele que ficasse alerta para a necessidade de mudança de voo. Até aí tudo bem, mas quando desci percebi que tinha esquecido meu celular no táxi.
Nesse momento entrei em pânico. Como entraria em contato com meu agente de viagens? Como avisaria minha família? Entrei na loja da aviação aérea para resolver o problema da passagem. Depois de me confirmarem que eu tinha perdido a viagem, paguei uma multa e eles emitiram um bilhete para o próximo voo.
Com a passagem remarcada, era hora de descobrir o que eu faria para recuperar meu celular. Não pensava simplesmente no aparelho que era novo, mas também nas fotos, contatos e outras coisas importantes que estão salvas ali. Pedi para usar telefone para a atendente da companhia aérea. Para a minha surpresa, ela disse que não tinha um disponível. Logo percebi uma surpresa ainda maior: as pessoas não estão mais acostumadas a emprestar celular porque cada um tem o seu e vive em seu próprio universo.
Um rapaz muito gentil vendo o meu desespero me ofereceu o aparelho dele e tentei ligar para o meu número na esperança de recuperá-lo. Infelizmente ninguém atendeu. Agradeci ao rapaz e continuei na minha saga. A atendente resolveu me ajudar e acabou arrumando o número do ponto de taxi onde eu havia embarcado e mais uma vez foi uma tentativa sem sucesso.
A essa altura já estava na hora do meu voo e lembrei que tinha que ligar na minha casa para avisar, afinal estavam me esperando pousar em Brasília às 21h10 e eu chegaria às 22h20. Foi então que resolvi ir atrás de um orelhão. Isso mesmo: um orelhão. Procurei por todo o aeroporto e quando perguntei para um segurança ele me olhou como se eu estivesse procurando um disco voador. Entrei no voo arrasada, mas ainda com esperança de conseguir um celular emprestado. Quando percebi estava dentro da aeronave e vi todos os passageiros de cabeça baixa em seu próprio universo. Ninguém dava abertura para que eu ao menos tentasse pedir um aparelho. Ninguém aberto a uma conversa.
Acabei concluindo que a nossa realidade mudou drasticamente. É perceptível como nossa dependência tecnológica tem nos afastado muito mais do que nos aproximado e como as pessoas estão mais ligadas a rede social do que na própria realidade. Tudo isso me fez lembrar de uma frase que o padre Fábio de Melo falou em seu show: “As pessoas estão tão preocupadas em postar que acabam deixando de viver”.