De vendedor a um dos maiores alfaiates do Brasil, conheça João Camargo
Renomado na cena paulistana, o designer contou um pouco da história da Camargo Alfaiataria e todos os passos para se tornar um homem de estilo e elegância
atualizado
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João Camargo é um dos profissionais que mais consegue unir, de forma clara e direta, estilo e senso de mercado. À frente da Camargo Alfaiataria há 11 anos, o paulista concedeu uma entrevista revelando um pouco mais sobre a sua rotina e trajetória.
Antes de abrir suas duas lojas homônimas em São Paulo e uma em Brasília, o alfaiate trabalhou décadas como vendedor e estoquista nas maiores marcas masculinas do país, como Bruno Minelli, Brooksfield e Ricardo Almeida. Há dois anos, a Camargo Alfaiataria está localizado no Lago Sul.
A sua trajetória é marcada por uma noção muito clara de tino comercial. Onde tudo siso começou?
Desde os 11 anos eu já trabalhava com o meu pai. Vim de uma família de vendedores que sempre trabalhou no comércio e desde pequeno eu já gostava muito de roupa. Nas horas vagas de trabalho eu conversava com os alfaiates e eles me mostravam o que era um bom tecido, um bom corte, como se fazia um bom ajuste e ali fui pegando paixão pelo negócio. Mesmo não assumindo a loja do meu pai depois que ele faleceu, porque o sócio dele achava que eu era muito novo, eu sentia que aos 17 anos já estava pronto para o mercado.
Como era trabalhar com moda nessa época?
Trabalhei como office boy e caixa de restaurante durante algum tempo para depois ir trabalhar como vendedor na Bruno Minelli, uma das melhores empresas de moda masculina que o país já teve. Foi lá que entendi a necessidade de o público masculino ser bem atendido e percebi que o grande aliado do homem em relação a moda era o alfaiate. Aprendi a construir um diálogo com os homens e mostrei com a minha experiência que moda é comportamento. Não é só o que você usa, mas o lugar que você frequenta, o meio que você convive.
Quais foram as principais dificuldades na hora de abrir seu próprio negócio?
A dificuldade financeira foi a parte ruim do processo. Tanto que a Camargo foi aberta sem nenhum tostão, já que um dos sócios decidiu sair e nós já tínhamos alugado o lugar sem chance de voltar atrás. Mas como eu tinha uma clientela que me acompanhava dos trabalhos na Minelli, Brooksfield e Ricardo Almeida arregaçamos as mangas e tudo foi se ajustando. O mais engraçado é que no primeiro mês consegui vender cerca de 30 ternos sem maquinário e com uma dificuldade enorme de entregar as roupas. Acabava que eu era sempre honesto com os meus clientes e criei uma relação de amizade que se aperfeiçoou com o tempo.
Como foi a transformação de vendedor para designer?
De todas as lojas que trabalhei sempre cuidava da alfaiataria. Mas é bom ressaltar que antes de ser criador fui vendedor. Naturalmente fiz vários cursos de modelagem e tecnologia têxtil, mas depois que montei meu negócio sempre desenvolvo as peças pensando nos meus clientes. Porque de nada adiante você ser um criador e não saber para quem está vendendo.
Porque abrir uma loja de ternos em Brasília?
Obvio que primeiramente pensei na parte comercial. Até porque Brasília sempre foi um polo muito forte em venda de terno. Mas enxerguei além porque Brasília é uma cidade que tem gente de todo o lugar e que busca uma boa roupa. E em qualquer lugar em que se usa muito terno é necessária uma boa consultoria.
Qual é o segredo para se vestir bem?
O principal segredo é se olhar no espelho e gostar do que vê. Não adianta você assistir desfiles, o Oscar ou olhar o Instagram de pessoas famosas que se vestem bem e tem autoestima, se você não tem. Quando uma pessoa gosta de si mesma de ela não só escolhe um bom terno como também um bom pijama, uma boa cueca e isso é o diferencial. Independente de você ser magro ou gordo você tem que se curtir.
Que diferença você vê do homem de hoje para o homem de 11 anos atrás, quando a Camargo Alfaiataria foi aberta?
Foram muitas, mas a principal é a forma como os homens estão se cuidando da saúde e da estética. No início vendíamos muitos ternos em tamanho grande, mas agora os tamanhos menores estão sendo mais procurados, afinal, o homem atual não vai querer um terno que esconda seu biotipo. O motivo da roupa slim fit fazer sucesso nos dias de hoje não é porque é uma roupa para magros, mas sim porque é uma roupa desenhada e próxima ao corpo.
Quais são seus planos para o futuro?
Vamos lançar em maio a linha Wedding. Todo esse mercado de casamento tem sido muito bom para a empresa, porque é um momento que o homem chega e está disposto a ouvir tudo que queremos agregar na vida dele. Além disso abriremos em 2017 uma nova loja no Rio de Janeiro, já que temos muitos clientes por lá, e temos planos de continuar expandindo a nossa filosofia de um excelente atendimento. Tendo em mente que não vendo terno para competir preço, vendo uma consultoria, uma aproximação, uma aliança com o cliente.