Restaurantes de Brasília se organizam para dar destino correto ao lixo
Conheça o Ecozinha e entenda por que o bar Pinela deixou de vender long neck
atualizado
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No dia 1º de janeiro de 2018, começa a valer a última etapa de uma lei distrital que transfere para estabelecimentos comerciais, órgãos públicos, terminais rodoviários e aeroportuários a responsabilidade pela destinação dos resíduos produzidos. Parece tão óbvio, né? A regra também atinge boa parte dos bares e restaurantes do Distrito Federal e isso está fazendo o setor se movimentar em busca de soluções ambientalmente corretas. É justamente nesse momento de conscientização que nasce o Instituto Ecozinha.
Hoje, um restaurante como o Dona Lenha, produz aproximadamente 700 litros de lixo por dia. Sabe aquele saco grande de 50 litros que normalmente a gente usa em casa? São 14 deles. Desse total, 65% são resíduos orgânicos; 10%, vidro; 15%, materiais recicláveis; e 10%, rejeitos (papel higiênico, por exemplo).
De acordo com a nova legislação, o SLU será responsável pela logística e destinação apenas dos materiais recicláveis. E o restante? Se o restaurante produzir mais de 120 litros por dia, ele será considerado “grande gerador” e terá de dar conta do recado. Detalhe: como não existe indústria recicladora de vidro em Brasília, o material é considerado rejeito pelo SLU.
Voltando ao exemplo, o Dona Lenha com certeza seria classificado como grande gerador, mas em vez de contratar uma empresa para levar todo o lixo misturado e despejar no aterro sanitário, Paulo Mello, dono da marca, escolheu o caminho mais difícil (e corajoso). Ele criou um modelo próprio de gestão, que diminui a geração de resíduos e o desperdício de alimentos, e organizou a logística e a transformação do material.
Dentro da cozinha do restaurante, cada tipo resíduo tem lugar certo: metal, papel, plástico e vidro. Orgânicos e rejeitos, como papel higiênico, recebem tratamento especial. À medida que as lixeiras enchem, o material reciclável é levado para uma espécie de bunker ou PEV – Ponto de Entrega Voluntária. Essas estações foram montadas do lado de fora do restaurante. Quando elas atingem a capacidade máxima, cooperativas recicladoras são acionadas e fazem a coleta. No caso dos orgânicos, o destino é um pátio de compostagem. O que sobra para o SLU são apenas 75 litros de rejeito, o equivalente a 10% do que o restaurante produz. Resultado: o Dona Lenha passou para a categoria “pequeno gerador”.
A experiência deu tão certo que Paulo acionou outros 15 restaurantes da cidade e, juntos, eles criaram o Instituto Ecozinha. A ideia é replicar a experiência do Dona Lenha nesses pontos e, até dezembro, abrir a possibilidade para outros bares e restaurantes. Cada empresa que aderir ao Instituto irá pagar uma taxa mensal de aproximadamente R$ 400. Quem está preocupado apenas com dinheiro, saiba que esse valor corresponde a um terço do que uma empresa de gestão de resíduos cobraria para coletar todo o material e despejar no aterro sanitário.
Para os comerciantes com visão além do alcance, que conseguem enxergar o real valor de iniciativas como essa, o Insituto Ecozinha é, na verdade, um esforço gigantesco para conscientização e solução de um problema. Finalmente estamos assumindo esse. Usamos aqui a terceira pessoa do plural porque o esforço inclui fabricantes, comerciantes e nós, consumidores.
Educar todos os personagens da cadeia de consumo e diminuir a geração de resíduos estão entre as ações do Instituto. “Essa garrafinha de água, por exemplo, não deveria existir. Bebe água do filtro, está ali disponível”, diz Paulo, apontando para a água mineral em garrafa que estávamos bebendo. Puxão de orelha pertinente.
A questão do vidro
O maior desafio encontrado pelo Instituto Ecozinha, que não tem fins lucrativos, é dar a destinação correta ao vidro. Como não existe indústria transformadora em Brasília, o material precisa ir para São Paulo e é esse transporte que, normalmente, inviabiliza a operação. A logística é cara porque as garrafas são pesadas, além de ocuparem muito espaço.
Paulo explica que essa operação só é viável a partir de 25 toneladas. O desafio agora é encontrar um local para que o material seja armazenado até ganhar a estrada.
O exemplo do Pinella
Já que não existe indústria recicladora de vidro em Brasília, Flávia Attuch, proprietária do bar Pinella (408 Norte), decidiu diminuir drasticamente a produção desse tipo de resíduo. Há quase quatro meses, ela parou de comprar e de oferecer aos clientes long necks de grandes cervejarias. “Eu acho um absurdo um material 100% reciclável ir parar no lixão. Tentamos a logística reversa com as grandes empresas produtoras, tentamos dar destinação correta com a ajuda de cooperativas, mas nada deu certo”, conta a empresária.
Com a medida, cerca de duas mil garrafinhas deixaram de ser descartadas no aterro sanitário mensalmente. Assim como toda mudança de hábito, exigiu muito trabalho e uma dose de sacrifício. “A iniciativa foi muito bem-aceita nas redes sociais, mas o consumo diminuiu porque muitos clientes não trocam a garrafa pela latinha. Tivemos que compensar de outras formas como, por exemplo, aumentando a oferta de chope. Se fizermos uma pessoa mudar de postura, já vai ter valido a pena”, afirma Flávia.
O exemplo do Pinella virou tema em congressos e tem motivado mudanças em outros bares do país. Como bons frequentadores de botecos, nós do Alta Fermentação faremos parte desse esforço coletivo. E você? Em vez de long neck, peça cerveja em lata ou chope. Em vez de garrafa de água, explique para o garçom que você prefere a filtrada para não gerar resíduo. O atendente vai acabar contando para o gerente, que vai falar para o proprietário do restaurante, que pode repensar o cardápio com base em alternativas menos agressivas para o meio ambiente. É mais fácil do que parece, acredite.
Conheça os restaurantes que fazem parte do Instituto Ecozinha:
Baco Pizzaria
Beirute
Beline
Carpe Diem
Daniel Briand
Dona Lenha
Dom Francisco
El Passo
Feitiço Mineiro
Grand Cru
Greens
La Boulangerie
Marieta
Oliver
Santa Pizza
Universal Diner