Quanto mais fresca, melhor! Tomar cerveja na fábrica é uma ótima ideia
Cervejarias investem em plantas menores, abastecendo bares da região e buscando diversificar sua oferta de rótulos
atualizado
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Entre todos os lugares-comuns do mundo cervejeiro, um dos mais verdadeiros é “quanto mais fresca a cerveja, melhor”. Se do tanque de fermentação até o copo, a bebida passar menos horas, com poucas variações de temperatura e sem enfrentar o sacolejo do transporte, o gosto será muito mais saboroso.
Por esse e outros fatores, a expressão “beba local” nunca foi tão levada a sério pelos amantes da gelada. A cada dia, mais cervejarias investem em plantas menores, buscando diversificar sua oferta de rótulos e abastecendo, principalmente, bares e lojas da região.
Com esse movimento recente e maravilhoso, nascem, semanalmente, novos lugares incríveis onde é possível provar sabores locais a preços justos. São menos custos indexados de distribuição e frete, resultando em valores mais acessíveis.Nas últimas semanas, estive no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em cada uma dessas capitais, pude experimentar novas cervejas locais recém-produzidas, super saborosas e com preços em conta. O mais legal é que esse novo movimento também leva a bebida artesanal para o seu lugar adequado: o de consumo informal e leve. Fresca e sem frescura.
Brewteco – Pé-sujo com cerveja boa
No Rio, minha parada foi no Brewteco, no Leblon. Fundado em 1966 como Bar Marisqueira do Leblon, esse tradicional botequim cervejeiro passou décadas no formato tradicional: poucas mesas, cardápio clássico de pastéis e outras frituras gostosas, cerveja “pilsen” e cachaça nacional.
Após um tempo fechado, renasceu como “Brewteco”, reinaugurado em novembro do ano passado com uma câmera fria que abastece 15 torneiras de chopes, 12 deles cariocas. A essência ainda é de boteco, com a clientela bebendo em pé na calçada e se servindo quase que exclusivamente no balcão, mas a oferta de cerveja é absolutamente sensacional.
Numa mesma noite, bebi uma Roter Pilsen refrescante e saborosa e uma Summer Ale da mesma cervejaria; uma Rockbirs Whisky Sour, absolutamente ácida e deliciosa; e finalizei com a mineira Antuérpia Kremlin Russin Imperial Stout, de Juiz de Fora. Na hora de ir embora ainda voltei à Sour, porque estava um calorzinho daqueles.
São Paulo – As cervejarias invadem os bairros
Se estar no seu bar favorito, perto de casa, tomando uma cerveja feita na sua própria cidade já é um privilégio, imagine morar próximo às cervejarias. Essa é a proposta de dois tasting rooms abertos em São Paulo.
A Cervejaria Dogma (fusão de três marcas: Serra das Três Pontas, Prima Satt e Noturna), bastante conhecida por suas IPAs e latas lindas, abriu uma sala de degustação acoplada em sua fábrica, no barro de Santa Cecília, bem perto do Centro. Servindo 15 rótulos diferentes, investiu em mesas coletivas e um balcão bem largo – tudo com bastante capricho visual, num ambiente bem clean, meio nórdico ou algo assim.
Confesso que, talvez devido ao início das operações ou por uma questão de gosto mesmo, não fui muito feliz nas minhas degustações. Provei duas Saisons, uma American Wheat e duas IPAs. Nenhuma delas me emocionou. Ainda teve um desajuste na temperatura da câmera fria que prejudicou o serviço das primeiras cervejas. Enfim, tenho certeza de que foi um azar mesmo.
No dia seguinte, meu destino foi a igualmente recém-inaugurada Trilha Cervejaria. Aberta oficialmente em 16 de agosto, essa pequena cervejaria é uma verdadeira jóia encravada nas colinas do bairro de Perdizes, em São Paulo.
Com uma produção pequena, de 2.800 litros/mês, cheia de personalidade e capricho, a Trilha é comandada por quatro sócios. Quem tiver a sorte de conhecer a fábrica, pode dar de cara com o cervejeiro Tiago, que me contou todos os detalhes da fabricação, dos perrengues e das próximas produções: Sour com abacaxi, Pale Ales…
E haja moderação. Me emociono ao lembrar da tarde memorável que vivi em meio a goles e mais goles da Pils (Pilsen não filtrada), Damascus (Saison com damasco), FaunAmora (Sour com amoras), Wild Blend (Wild Sour com blend de morango e amora), Status Quo (Barley Wine) e da BlackRose (Russian Imperial Stout). Sim, amigos, eu zerei o bar. Todas estavam absolutamente incríveis. Imperdível.
Uma similaridade entre esses dois tap rooms é que não há oferta de comida nos bares, mas sempre tem um food truck estacionado em frente para salvar. Ah, e se quiser levar cerveja pra casa, é só comprar uma lata com chope fresquinho, no sistema de Crowler.
E Brasília? Bom, para esse tipo de maravilha se tornar realidade na nossa cidade, é preciso alterarmos uma lei que define as regras de zoneamento. Só assim veremos a instalação de pequenas cervejarias em áreas comerciais, tal qual temos padarias fabricando pães, confeitarias produzindo doces e restaurantes preparando pratos. Será que viveremos para isso? Espero que sim e – assunto para uma próxima coluna – já temos um plano em curso.