O Brasil pode se transformar em exportador de lúpulo
O país importa 4 mil toneladas da planta por ano. Há quem diga que em, no máximo, 10 anos a posição será invertida
atualizado
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Nós, brasileiros cervejeiros, amamos lúpulo. Mesmo aqueles que não têm consciência disso ou não sabem o que diabos é lúpulo estão na lista de consumidores assíduos. O Brasil importa 4 mil toneladas da planta todos os anos e paga por isso aproximadamente R$ 200 milhões.
A ideia de que o país não tem condições climáticas para o cultivo da espécie sempre foi repetida e tornou-se uma falsa verdade. Há quem diga que em, no máximo, 10 anos a posição será invertida, seremos exportadores do lúpulo brasileiro. Será?Há seis anos a empresa carioca Rio Claro Lúpulos trabalha com o melhoramento genético da espécie e tem alcançado resultados significativos. O proprietário, Bruno da Cruz Ramos, explica que a companhia já desenvolveu duas variedades próprias 100% adaptadas ao clima do Brasil. A primeira foi batizada de Canastra e a segunda, de Tupiniquim.
O grande diferencial é que elas são resistentes à seca, aguentam longos períodos sem irrigação. Além disso, também podem suportar regiões com muita chuva
Bruno da Cruz Ramos, proprietário da Rio Claro Lúpulos
Só este ano, 2 mil kg desses lúpulos brazucas foram comercializados. O Canastra, segundo Bruno, está no grupo das variedades nobres, ou seja, é considerado de alta qualidade.
“Algumas instituições de grande porte, como a Universidade de São Paulo (USP), já estão à frente de pesquisas importantes voltadas para o cultivo da planta. Nos próximos oito ou 10 anos, acredito que o Brasil conseguirá abastecer o mercado interno e, provavelmente, se tornará exportador”, prevê Bruno.
O que nos fez sair do marasmo?
Na visão de Bruno Ramos, a chave começou a virar com a mudança do mercado cervejeiro no Brasil. A demanda por boas cervejas cresceu e isso requer uma quantidade maior de lúpulos com características especiais.
O lúpulo deixou de ser um negócio apenas das grandes fábricas e passou a ser um negócio dos pequenos cervejeiros
Bruno da Cruz Ramos, proprietário da Rio Claro Lúpulos
Além disso, depois de muitos anos, o Ministério da Agricultura finalmente reconheceu o Humulus Lupulus como espécie. Isso significa que um novo caminho foi aberto para pesquisadores que, até pouco tempo, encontravam sérias dificuldades na importação de material genético.
É simples: pesquisadores brasileiros precisam estudar as espécies, entender como elas funcionam e como o melhoramento genético pode ser feito. Para isso, eles precisam trazer as variedades que já existem e se desenvolvem bem em outros países.
Lúpulo bom e comercialmente viável
A qualidade do lúpulo está relacionada, principalmente, ao teor de alfa-ácido (que confere amargor), à quantidade de beta-ácido (por sua qualidade antisséptica) e ao percentual de cohumulona (que gera um aroma indesejado de grama). Quanto mais alto o teor de cohumulona, pior. O ideal, segundo Bruno Ramos, é que essa concentração não passe de 33%.
Além das características químicas, é importante deixar claro que a plantação precisa render dinheiro, dar lucro. Dependendo da espécie e do quanto ela está adaptada, é possível plantar em um hectare de terra aproximadamente 2.200 plantas de lúpulo. O investimento inicial é de R$ 160 mil e, a partir do segundo ano, o retorno pode chegar a R$ 295 mil.
O caminho é bem mais fácil para quem deseja ter uma pequena produção, voltada apenas para consumo próprio. Cervejarias artesanais podem, sim, criar condições perfeitas para o crescimento de variedades com alta qualidade. “É possível, basta desenvolver o ambiente propício para o cultivo. Isso pode ser feito em estufa ou pelo modelo de aeroponia, por exemplo.”, explica Bruno.
Já imaginou tomar uma IPA com lúpulos fresquinhos recém colhidos da lavoura?