Fato Vestimenta anuncia encerramento de suas atividades

Em mais uma reviravolta do mercado da moda brasiliense, a Fato Vestimenta também decidiu encerrar suas atividades após 17 anos de funcionamento. As proprietárias e irmãs gêmeas Alessandra e Isabel Dias, que começaram a multimarcas de maneira informal na casa de amigas, anunciaram o fechamento da loja por tempo indeterminado. No entanto, acreditam que podem voltar futuramente.

Mesmo com o nível de exclusividade para um público classe A e um casting de marcas de renome da moda como Giuliana Romano, Andrea Marques, Alexandre Birman, Isolda e Lily Sarti, Alessandra confessa que a multimarcas precisou descansar. A proprietária, que agora é mãe de trigêmeas, afirma que o tempo é que deve ser considerado artigo de luxo.

Estamos entrando numa nova fase, fui abençoada com três bonecas, Bebel está com um filho rumo ao segundo. Queremos nos dedicar integralmente à família e sabemos que para ter um negócio, tempo é tudo. Portanto, decidimos dar uma pausa para voltarmos com maior dedicação

Apesar de Alessandra dizer que o motivo principal do fechamento não seria a crise financeira, ela concorda que, como coadjuvante, o contrassenso do atual cenário do país contribuiu para o feito. “Já passamos por várias crises e nunca sentimos tanto como dessa vez. Os impostos e contas aumentaram muito e mesmo com as vendas indo bem isso desanima o empresário, que trabalha no limite da margem”.

Opinião semelhante tem Ana Paula Gonçalves. Dona da maison homônima, a empresária anunciou recentemente que fecharia as portas de sua multimarcas, após cerca de 26 anos dedicados ao comércio da moda de luxo. Embora não tenha mencionado o fator crise, Ana Paula confessou que o trabalho por detrás da loja era árduo, especialmente porque o mix de marcas — que contava com nomes como Balmain e Badgley Mischka nas araras — exigia muita dedicação e visitas quase que frequentes a showrooms dentro e fora do Brasil — cronograma que ela já não estava mais disposta a seguir.

Além disso, para a empresária, o jeito contemporâneo de consumir moda se tornou extremamente mecanicista. Atualmente, uma marca luxuosa chega a disponibilizar mais de oito coleções anuais. Uma das estratégias mais rentáveis de divulgação é oferecer essas roupas a uma variedade de musas digitais que compartilham a experiência em suas redes sociais, fazendo com que o público consuma e descarte isso de uma forma cada vez mais rápida e intensa.

“Tive um episódio, uma vez, de comprar o vestido mais caro de uma das coleções do Pucci. Apesar disso, os diretores da marca emprestaram o modelo assim que saiu da passarela para uma blogueira famosa usar no dia no aniversário dela. Resultado: depois de alguns meses o vestido chegou na loja e não era mais novidade.”

As redes sociais ao mesmo tempo que ajudam a vender, podem atrapalhar, pois compradores de luxo buscam uma moda exclusiva. “Quando a peça chega na loja, oito ou seis meses depois do desfile, ela já foi muito vista e as pessoas acabam não querendo mais“, explica a empresária. “Se é uma roupa que já está dentro da loja é ótimo; agora, se chega depois, ela já fica batida e o público perde o interesse”, conclui.

Para Alessandra, essa velocidade só torna a moda ainda mais descartável. “Sempre tivemos um olhar para peças bem cortadas e de qualidade que ficam no guarda-roupa por varias temporadas. A dificuldade de trabalhar com tantas coleções é que tudo vai ficando parecido”, explica a profissional que afirma “não existir marcas rentáveis” ou nomes que vendem mais, mas sim uma assessoria voltada para o estilo da cliente e um trabalho desafiador.

Enquanto na maison Ana Paula as promoções ocorrerão em julho de forma normal, sem queima de estoque, a Fato já está com descontos de até 90%. A loja vai fechar dia 30/07 e um bazar será aberto na QI13 em breve para vender as peças remanescentes.