O ano delas. Feminismo bombou em 2015. Veja retrospectiva
Campanhas como #meuamigosecreto e #meuprimeiroassedio ajudaram a combater o machismo. Mulheres não ficaram no ambiente virtual e tomaram as ruas para reivindicar direitos. Na cultura pop, elas também ganharam destaque
atualizado
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Não há dúvidas: 2015 foi o ano do protagonismo feminino. Seja no ambiente virtual, com campanhas anti-machismo, ou na vida real, elas ganharam voz para cobrar a manutenção de direitos e a conquista da autonomia sobre os próprios corpos. Relembre alguns momentos importantes. O ano termina, mas a luta continua.
#primeiroassedio
Em 22 de outubro, a ONG de empoderamento feminino Think Olga iniciou via Twitter um viral que em poucos dias se tornou mundial. A campanha motivava mulheres de todo o país a se comunicarem por meio da hashtag #meuprimeiroassédio, rasgando o verbo sobre como foram seus primeiros assédios sofridos – desde sexualmente até os de terror psicológico. Segundo gráficos da ONG, em menos de 24 horas cerca de 2,5 mil tweets citaram a hashtag.
A união fez a força e a campanha passou a ser também internacional através da hashtag #firstharassment. A popularização sem fronteiras se deu após o portal BBC noticiar o uso da hashtag no Brasil e traduzir o propósito para o inglês. Portais como o Huffington Post acreditaram na causa e viralizaram o #firstharassment. Mulheres do mundo inteiro compartilharam relatos comoventes.
#meuamigosecreto
No mês seguinte, mulheres no Twitter se mobilizaram para expressar a intolerância e a hipocrisia vividas por elas, diariamente, por meio da hashtag #meuamigosecreto. As denúncias eram sobre atitudes de amigos próximos ou de conhecidos, daqueles que sentam à mesa do bar já dizendo que odeiam feministas. Mulheres do “Metrópoles” apoiaram a causa e também protagonizaram um vídeo contando em curtas frases os assédios sofridos por “amigos secretos”.
Enem representou
Outubro fez barulho quanto à conscientização sobre o direito das mulheres. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) retratou uma questão de Simone Beauvoir que convidava os candidatos a analisarem a frase: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psiquíco, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”.
A questão abriu um leque de “prós” e “contras” do movimento na internet – principalmente em redes sociais. Além da questão, o Exame fechou com chave de ouro com o tema de redação sendo “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. O tema, de forma sagaz, movimentou as redes sociais, portais e sites brasileiros.
#AgoraÉqueSãoElas
As mulheres tomaram os espaços da mídia na primeira semana de novembro e colocaram os homens donos deles como espectadores. A campanha, criada pela professora Manoela Miklos, propunha que, durante uma semana, donos de colunas e blogs na grande mídia cedessem o verbo a mulheres convidadas para que elas falassem sobre violência contra a mulher.
A campanha foi uma resposta a projetos e ações que visam diminuir os direitos e liberdades das mulheres – como o PL 5069/13, do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que dificulta os trâmites do aborto em casos em que o procedimento já é legalizado. Mesmo colunistas de veículos mais conservadores, como a Veja, aderiram à campanha. A exemplo de outros colunistas que entraram na onda, Leonardo Sakamoto abriu espaço para Jules de Faria e Louise Bello, do site Think Olga; Juca Kfouri convidou a filha Camila para escrever na sua coluna no UOL e Gregório Duvivier cedeu seu lugar na Folha de S. Paulo para Manoela Miklos.
Pílula fica, Cunha sai
Entre o fim de outubro e início de novembro, milhares de mulheres foram às ruas protestar contra a aprovação, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, do projeto de lei 5069/13, de autoria do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Além de punir com penas específicas pessoas que induzam ou auxiliem o aborto em gestantes – a legislação atual já prevê punição para a gestante e a pessoa que realizar manobras de aborto na paciente –, o projeto ainda dificulta o acesso ao aborto em casos já considerados legais.
Para casos de estupro, por exemplo, o projeto passa a exigir exame de corpo de delito e comunicação à autoridade policial. Atualmente, não há necessidade de comprovação, basta a palavra da gestante. Além disso, o texto ainda proíbe o anúncio e venda de métodos abortivos, mas não especifica quais são eles, o que deixou dúvidas, por exemplo, se a pílula do dia seguinte entraria na lista. O movimento contra a proposta foi chamado de “Pílula fica, Cunha sai” e se espalhou também pela internet, com direito a avatar especial para o Facebook.
Mundo pop
2015 trouxe à tona discussões primordiais acerca do universo feminista. Em Hollywood não foi diferente e grandes personalidades abordaram histórias sobre ambientes sexistas de trabalho, desigualdade salarial e a a falta de oportunidade em frente e atrás das câmeras.
O ponto de virada em veio logo no início do ano com as principais premiações de 2015. A primeira de todas foi Patrícia Arquette que ao receber o Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo filme “Boyhood” falou sobre a importância da igualdade salarial para as atrizes.
Viola Davis
Outro discurso impactante. A atriz não só abordou poeticamente a falta de papéis marcantes para mulheres negras como se tornou a primeira mulher negra da história a ganhar um Emmy de melhor atriz na categoria dramática pela série “How To Get Away With Muder”.
Obrigada a estas mulheres que ajudaram a redefinir o que significa ser bonito, ser sexy, ser uma mulher protagonista, ser negra
Viola Davis
Jennifer Lawrence
Uma das atrizes de maior sucesso de sua geração, Lawrence publicou um artigo de grande repercussão sobre a diferença de cachês entre atores e atrizes em Hollywood. Ela escreveu para a newsletter feminista Lenny — fundada por Lena Dunham e Jenni Konner, produtoras da série Girls — e publicou um artigo entitulado “Why Do I Make Less Than My Male Co‑Stars?”, ou “Por que eu ganho menos do que meus colegas do sexo masculino?”, em português.
A atriz se disse cansada de abrir mão de lutar pelos próprios direitos para não ser vista como “uma pessoa difícil”. Mudou de postura depois de descobrir que ganhava menos que os protagonistas homens colegas de elenco em “Trapaça”.
“Quando se trata do assunto feminismo, eu tenho permanecido sempre ligeiramente tranquila. Não quero debater assuntos só porque eles estão na moda… Mas com muita conversa vem a mudança, então eu quero ser honesta e aberta e, dedos cruzados, não chatear ninguém”, disse Lawrence no primeiro parágrafo. “É difícil para mim falar das minhas experiências enquanto uma mulher trabalhadora. porque eu posso seguramente dizer que meus problemas não são comuns. Quando o vazamento da Sony aconteceu e eu descobri o quanto menos eu estava sendo paga do que as pessoas que por sorte têm pintos, eu não fiquei brava com a Sony. Eu tenho raiva de mim mesma. Eu falhei como uma negociadora porque eu desisti cedo. Eu não queria continuar lutando por causa de milhões de dólares que, francamente, devido a duas franquias, eu não precisava”.
Emma Watson
Embaixadora da boa vontade da ONU Mulheres, que apareceu na lista das 100 pessoas mais influentes da Time Magazine como uma ativista fervorosa do direito das mulheres.
Meryl Streep
Apesar de ter declarado não ser feminista e desagradado a muita gente, criou um fundo para mulheres roteiristas acima dos 40 anos e estreia no dia 24 de dezembro o filme “As Sufragistas”, história comovente sobre a luta feminina pelo direito ao voto na Inglaterra do século XX.