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Feminista conta a história da virgindade em novo livro

Ao “Metrópoles”, a francesa Yvonne Knibiehler fala sobre como a virgindade e a religião já foram usadas como meio para que meninas pudessem se livrar da obrigação do casamento

atualizado

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Noiva virgindade casamento
1 de 1 Noiva virgindade casamento - Foto: iStock

É preciso falar sobre virgindade – especialmente a das mulheres. O hímen, essa fina membrana que cobre parte do orifício da vagina, tem tanto valor que há quem vá parar em uma clínica médica só para reconstruí-lo. Não é para menos: é 2016 e ainda há quem use a tal membrana como moeda de troca em algumas sociedades e religiões, ou quem julgue o valor e a “casabilidade” de uma ou outra mulher pela preservação ou não da pelinha.

Mas como e por que, afinal, a castidade feminina ganhou tanta importância, a ponto de preservar o status de tabu até os dias de hoje? A historiadora e feminista francesa Yvonne Knibiehler conta justamente essa essa trajetória no livro “A história da virgindade” (Editora Contexto), lançado recentemente no Brasil. E uma curiosidade: a religião e a virgindade já foram usadas como armas contra a exigência do casamento e a obrigação da maternidade. Optar pela vida religiosa, mais que vocação, podia ser uma espécie de fuga.

Por e-mail, a autora conversou com o Metrópoles sobre o assunto:

1. De onde vem esse “culto” à virgindade feminina?

O culto à virgindade é muito antigo. No Ocidente, ele tem muita importância nas religiões greco-latinas. No Olimpo, a paridade era garantida, tendo seis deuses e seis deusas. Entre as seis deusas, três eram virgens voluntariamente. Parece que elas tinham a missão de barrar o caminho à sexualidade, que podia ser prejudicial. Entre os mortais, a virgindade da futura esposa garante a autenticidade do casamento: o marido quer ser o primeiro, para ter certeza de que os filhos serão do seu sangue. Essas são as origens do casamento e da dominação masculina na esfera familiar.

As três religiões monoteístas confirmam essa exigência. Mas o cristianismo traz inovações importantes. Segundo São Paulo, a sexualidade é perigosa porque ela prende os humanos em seu lado animal. A virgindade e a castidade então são recomendadas tanto aos homens quanto às mulheres.

As meninas religiosas tinham o direito de recusar o casamento e se dedicar à vida religiosa e aos estudos – elas podiam então resistir à pressão, escapar do poder do casamento, evitar os riscos e as responsabilidades da maternidade. Essa é a primeira emancipação…

O cristianismo confere à virgindade e à castidade o mérito de uma superioridade moral: permanecer no controle da sexualidade é provar que se tem qualidades excepcionais. Entre as jovens que adentram a vida religiosa, encontramos figuras proeminentes como Catarina de Siena e Teresa de Ávila, que dialogam de igual para igual com os alto clero e os príncipes mais prestigiados. A virgindade delas foi para elas (e para outras) não apenas um espaço de liberdade, mas também uma forma de empoderamento e de glória.

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2. Por que a virgindade feminina é tão valorizada enquanto é o oposto com a masculina?

A virgindade feminina era preciosa para as mulheres, em que ela permitia a menina existir por ela mesma, como uma humana completa, livre da dominação masculina e da obrigação de procriar.

A virgindade feminina era preciosa aos olhos dos homens, porque assegurava a supremacia masculina: era o esposo que deflorava sua esposa e a transformava em mulher, em mãe; em outra.

A primeira relação sexual completa não deixa nenhum traço sobre o corpo masculino. Mas marca o corpo feminino quase que eternamente. O hímen tornou-se um símbolo de integridade, de virtude, de honra, não somente para a mulher, mas para todos os homens da família, que o devem respeitar e proteger.

3. Você acha que essa cultura interfere no comportamento sexual das mulheres, ou em como os homens esperam que suas esposas se comportem na cama, por exemplo?

O problema da perda da virgindade é que ela pode ser desagradável, às vezes dolorosa, para uma mulher mal preparada. A primeira relação corre o risco de comprometer a harmonia do casal e até mesmo de deixar a esposa frígida para sempre.

4. Essa cultura ainda existe hoje ou você acha que a situação é diferente?

Todas essas condições persistiram até a metade do século 20. Em seguida, os humanos desenvolveram métodos simples e seguros de controle de natalidade. A pílula, o DIU, o aborto (com cirurgia ou medicamento) diminuíram o risco de um nascimento não previsto. Os exames de DNA permite identificar o pai de cada criança. Uma mulher pode transar desde que ela tenha vontade, pode mudar de parceiro à vontade, ela é dona de seu corpo.

Ao mesmo tempo, a transmissão de títulos e bens dentro de uma linha familiar perdeu sua importância secular. Não é porque os homens tiveram que renunciar ao patriarcado que eles tenham desistido de todo o seu desejo de supremacia.

Seria por acaso que a homossexualidade, tanto feminina quanto masculina, aparece hoje de forma livre? É outra forma de liberação sexual.

5. Como o movimento feminista está ajudando as mulheres a se libertarem dessa “exigência”?

  1. O movimento feminista quer inicialmente ajudar as mulheres a conquistar uma autonomia perfeita, a não mais depender dos homens. A existirem por elas mesmas, virgens ou não, mães ou não…

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